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O DESTAQUE
Yuan traz
subversão às
telas da China
AMIR LABAKI
do enviado a Yamagata
Zhang Yuan é o nome da hora do cinema chinês. Trata-se
do "enfant terrible" da chamada sexta geração, aquela imediatamente posterior a de Chen
Kaige e Zhang Yimou. O massacre de Tienamen, em 1989, é
a fronteira entre elas.
Alternando filmes de ficção e
documentários, Zhang tem
tratado de tabus como o homossexualismo e o cotidiano
na praça sitiada. A mostra
apresenta seu último longa de
ficção, "Dezessete Anos", lançado no recente festival de Veneza. Por sua vez, Yamagata teve nesta semana a primazia da
estréia de seu novo documentário "Crazy English".
"Dezessete Anos" passou em
Veneza sem o reconhecimento
oficial chinês. Foi finalizado na
Itália, na Fabrica, o instituto
cultural da Benneton. O desconforto diplomático parece
exagerado.
O próprio Zhang classificou-o como "um filme mainstream" ao ser visitado em Pequim por Charles Tesson, enviado dos "Cahiers du Cinema", em março passado. "Dezessete Anos" concentra-se sobre uma tragédia familiar.
Um casal de meia-idade se
forma, cada qual levando uma
filha jovem para essa segunda
família. A rivalidade entre as
garotas só faz crescer. Uma delas faz cair sobre a meio-irmã a
culpa de um pequeno roubo
doméstico. Antes que tudo se
esclareça, a acusada mata acidentalmente a irmã.
O título anuncia o tempo que
ela passa atrás das grades. O
centro do filme é sua lenta jornada rumo ao reencontro familiar. A China de Zhang parece tão solidária quanto policialesca. O Grande Irmão orwelliano oculta-se sutilmente em
cada esquina.
"Crazy English" insiste na
mesma estratégia. O personagem central, Li Yang, é um professor de inglês. Li criou um
método de ensino baseado em
vinte sinais. Lançou-o em 1988,
aos 19 anos. Desde então, tornou-se uma estrela. Suas aulas
viraram o Li Yang English
Show e já reuniram 13 milhões
de chineses
"Crazy English" devassa seu
método. Li é na verdade um
mestre em auto-ajuda. Suas aulas de inglês, não raramente
proferidas em estádios, mal
disfarçam sua pedagogia para
o capitalismo.
Zhang fez do retrato de Li um
filme radicalmente subversivo
para a China contemporânea.
Um sistema que se anuncia socialista assiste, impassível, à
mais dogmática defesa do individualismo. Os órfãos de Tienamen suportam a repressão
enterrando o livro vermelho de
Mao sob o louco método de Li.
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