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CRÍTICA
Banda aplica fórmula e produz um amontoado de singles
MARCELO VALLETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há grandes novidades
em "All That You Can't Leave Behind", o novo disco do U2
-nem mesmo o fato de suas músicas estarem disponíveis em MP3
antes do aparecimento do CD nas
lojas é inusitado, pois, após os novos trabalhos de Madonna e Radiohead chegarem aos ouvidos
dos fãs primeiro pelo computador, o quarteto irlandês era a óbvia próxima vítima.
À parte a nova forma de divulgação do disco -involuntária,
via softwares como o Napster e
afins, apoiados pelos membros do
grupo, por sinal-, parece que o
U2 cansou de tentar impressionar
pelo conceito dos álbuns -não
quer mais ser "moderninho".
Se no trabalho anterior, "Pop",
de 1997, o tal do conceito já era
bem mais frouxo do que em
"Zooropa" ou "Achtung Baby",
no disco do ano 2000 a banda se limita a tentar produzir o máximo
de singles possível. Simplicidade e
convencionalismo são palavras
que se aplicam ao novo CD. Será
cansaço? Falta de ambição? Vergonha na cara, enfim?
Menos roqueiro do que no início da carreira, o U2 continua a
dar destaque à voz de Bono -que
canta como sempre, abusando do
falsete, quase sempre irritante- e
à guitarra de The Edge, que pontua a cozinha discreta de Adam
Clayton e Larry Mullen com melodias pouco originais.
Uma certa volta aos anos 70 é
efetuada por canções como "Wild
Honey" e "Walk On", que soam
fracas ao tentar aproximar-se do
clima de parte de "Sticky Fingers", clássico dos Rolling Stones
de 1971. Em compensação, Bono
acerta em "In a Little While", de
longe o melhor momento do disco, forçando a voz no território da
soul music.
"Peace on Earth", guiada pela
guitarra acústica, é sub-REM, enquanto "Stuck In a Moment You
Can't Get Out of" combina guitarra, bateria e um discreto sintetizador, que embalam Bono em mais
um refrão, simples e convencional -pop, enfim-, como outros
que aparecem no disco.
É por caminho semelhante que
vão "Kite" -a grandiloquência
do refrão e o modo de cantar de
Bono remetem a Bon Jovi, mas
sem chegar a ser tão ruim- e o
funk "Elevation" -esta, dona do
momento eletrônico do álbum,
mas bastante inferior à já débil
"Discoteque", o carro-chefe de
"Pop".
Os momentos mais enfadonhos
são as arrastadas "New York"
-quantas músicas com esse nome existem? De Lou Reed a Richard Ashcroft, passando pelos
Sex Pistols, muitos roqueiros já
bateram nessa tecla- e "Grace",
que chegam a ser dispersivas.
Como sobra, reaparece "The
Ground Beneath Her Feet", feita
originalmente para a trilha sonora do filme "The Million Dollar
Hotel", do amigo Wim Wenders.
É tudo muito familiar -e nada
brilhante- em "All That You
Can't Leave Behind". Já faz um
certo tempo que a banda parou de
contribuir com inovação para o
pop, e a exacerbação da (simples,
talvez até pobre) personalidade
musical do U2 só não é tão bem-sucedida no momento atual de
sua carreira porque nenhuma das
novas canções de Bono e sua turma chegam aos pés de hits marcantes como "One" e "Stay (Faraway, So Close)". Mas ainda é melhor do que enveredar pela artificialidade.
Avaliação:
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