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RÉPLICA
A presença do Estado na cultura brasileira
PAULA LAVIGNE
ESPECIAL PARA A FOLHA
A elaboração de um programa de governo é o jogo
que se faz com elementos ideais e
reais para a consolidação de uma
sociedade mais desenvolvida.
Dessa forma, elaborou-se um
programa para o candidato à Presidência José Serra que contempla
as forças que devem orientar a política cultural de Estado: atuação
estratégica, forte e orientadora de
conduta do Estado, promoção da
relação do Estado com a indústria
cultural, fortalecimento do sistema de gestão dos direitos autorais, alterações nas leis de incentivo e muitos outros pontos.
Minha preocupação de imediato com a reportagem publicada
no dia 23/10/02 (Ilustrada, pág.
E1), intitulada "Serra quer que governo apóie indústria cultural", é
esclarecer o conteúdo das declarações e do programa do candidato José Serra, especialmente em
relação à inexistente dicotomia
apontada na reportagem e que
não revela as grandes disparidades entre os programas, pelo menos não nos pontos levantados.
Da leitura do texto parece que
há situação de conflito entre a
presença ou não do Estado na cultura, de carona na tradicional dicotomia que há entre esquerda estatista e esquerda liberal.
Não existe divergência em que o
Estado atue fortemente na realização da política cultural, e quando se diz no programa de José Serra que o "Ministério da Cultura
(irá) definir e orientar as iniciativas dos mais diversos ministérios,
empresas estatais no campo cultural", sabe-se que o Estado atuará não somente por meio do Ministério da Cultura para a promoção dos valores de nossa cultura,
mas como um tema de governo,
essencialmente político, verdadeiramente público.
Realmente é muito pouco dizer
que a intervenção na cultura
ocorrerá por meio do Estado se
não se atribui a ele o direcionamento estratégico, catalisador das
iniciativas privadas e gerador de
oportunidades.
A edição deixou de lado preocupações de Estado que estiveram
na entrevista e estão no programa, como por exemplo a ampliação da oferta cultural, descentralização dos centros de difusão, entre outros.
Não é porque se pretende um
diálogo entre governo e indústria
cultural que não se busca o reforço da presença do Estado, como
descrito na reportagem.
Uma coisa não exclui a outra,
por dois motivos: a cultura deve
ter orçamento público e orientação política e estratégica para sua
aplicação, e ainda que seja para
reforçar a produção cultural, consumo, exportação e acesso por
meio dos agentes privados de cultura, isso somente poderia ocorrer de forma organizada, efetiva e
no seio da política cultural com a
presença forte de um Estado. Ter
o Estado no centro da política cultural, portanto, não representa
um ponto de divergência. Deixar
a indústria cultural de fora, sim, é
um ponto de preocupação.
A orientação cultural não pode
prescindir das forças de mercado,
que se estruturam com tanta dificuldade e que tem um importante
papel social. A cada milhão investido em cultura, 160 novos empregos são gerados.
Por maior que seja a intervenção estatal nesse campo, em primeiro lugar, não daria conta de
atender a todas as demandas e
proporcionar a experiência cultural da grande massa nacional, em
segundo, não se permitiria a espontaneidade das expressões culturais e os meios de financiamento privado.
O projeto de cultura dos candidatos, além do mais, precisa propor um remodelamento da gestão
coletiva dos direitos autorais que
reforce as condições para a criatividade dos autores. Nessa linha,
Serra propõe a criação da Agência
Nacional de Direito Autoral.
Para as leis de incentivo à cultura propõe-se o aumento da dedução para as menores empresas,
entre outras propostas concretas
e factíveis.
Acreditando nesses elementos,
reforço a capacidade idealizadora
do programa de José Serra, programática de uma ação responsável do Ministério da Cultura e que
promova os conceitos centrais
para o desenvolvimento com
equilíbrio de forças de nosso país,
do privado e do público.
Paula Lavigne, 31, é atriz e empresária;
foi encarregada pela coordenação da
campanha de José Serra (PSDB) de responder pelo programa de cultura do
presidenciável
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