São Paulo, quarta-feira, 25 de novembro de 2009 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA Crítica/"Cantora" Disco póstumo mostra Sosa à vontade com nova geração
Disco traz parcerias com veteranos e jovens artistas latino-americanos
SYLVIA COLOMBO EDITORA DA ILUSTRADA René Pérez, 31, é um dos integrantes do duo porto-riquenho de reggaetón Calle 13. Não tinha nascido quando Mercedes Sosa (1935-2009) gravou um dos clássicos da canção de protesto, "Canción para un Niño en la Calle", no final dos anos 60. A cantora argentina, ícone da esquerda latino-americana, morreu em outubro. A bandeira que defendia, como bem se sabe, há muito já vem desbotando. Mas o álbum "Cantora", lançado agora no Brasil, mostra que, nos últimos tempos, Mercedes andou buscando modos de tocar as novas gerações. Com Pérez, gravou a melhor faixa deste álbum de duetos, justamente uma nova versão para "Canción", misturando a letra original com versos atuais no embalo do reggaetón. O gênero, mistura de rap, reggae e ritmos latino-americanos, hoje é um dos mais populares nas regiões do mundo em que se fala espanhol. Alguns artistas, como o próprio Calle 13, usam-no como plataforma para mensagens políticas. Não se pode dizer que seja um sucessor direto da canção de protesto, visto que é muito comercial e os tempos, afinal, são bem outros. Mas a parceria entre Pérez e Sosa legitima essa vocação latente do estilo. Apesar desse bom momento, o restante do álbum não traz outras novidades tão empolgantes. Trata-se de 19 faixas, cada uma com um convidado especial. A boa produção e a refinada seleção de elenco -tanto de artistas como de canções- não evitam que o resultado seja morno e conservador. As parcerias com veteranos consagrados, como o espanhol Juan Manuel Serrat ("Aquellas Pequenas Cosas"), o argentino Charly Garcia ("Desarma y Sangra") e o brasileiro Caetano Veloso ("Coração Vagabundo"), são executadas com ternura, mas de modo contido. Os melhores momentos surgem quando Mercedes canta ao lado dos mais jovens. Confere dramaticidade à melancólica "Sea", do uruguaio Jorge Drexler. Mas parece bem entrosada mesmo é com os roqueiros. Com Vicentico, ex-Los Fabulosos Cadillacs, canta a gingada "Parao". Com Gustavo Cordera, do Bersuit Vergarabat, embala um rock misturado à música folclórica ("El Angel de la Bicicleta"). E, com Gustavo Cerati, ex-Soda Stereo, divide voz na tristonha "Zona de Promesas". No DVD que acompanha o lançamento vemos também Mercedes em momentos maternais com esses "meninos". A Cerati, por exemplo, recomenda que faça um bom gargarejo com bicarbonato como dica para melhorar a voz. Se com eles o clima é informal e o resultado, positivo, com as mulheres a coisa desanda. Querendo de certo modo apresentar-se como possíveis sucessoras do vozeirão, acabaram massacradas por Mercedes a colombiana Shakira e a mexicana Julieta Venegas. A única que conseguiu cantar de igual para igual com La Negra foi a mexicana Lila Downs, na contundente e bela "Razón de Vivir". CANTORA Artista: Mercedes Sosa Lançamento: Sony; R$ 50 Avaliação: bom Texto Anterior: Conexão Pop: O retorno de James Murphy Próximo Texto: Escola de teatro custará R$ 8 mi/ano Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |