São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2010

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CRÍTICA NÃO FICÇÃO

Marc Weingarten faz competente biografia do novo jornalismo

"A Turma que Não Escrevia Direito" trata do movimento que chacoalhou as redações nos 60


HUNTER THOMPSO N FOI UM DOS QUE MAIS SE EXCEDER AM NA LIBERDAD E COM QUE MISTURA VA MENTIRAS COM VERDADES (E ÀS VEZES FICAVA SÓ NAS MENTIRA S)


CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE SÃO PAULO

O novo jornalismo não tinha nada de novo e tinha muito pouco de jornalismo, segundo seus críticos. Em alguns casos extremos, sem a menor sombra de dúvida, não era nem novo nem jornalismo.
No entanto, foi um movimento espontâneo, sem teorias, atabalhoado, que resultou em reportagens e livros geniais, influenciou pelo menos já duas gerações de escritores, sacudiu a imprensa americana nos revolucionários anos 1960 e deixa saudade em muita gente até agora.
Marc Weingarten escreveu a biografia do novo jornalismo, que chega às livrarias em edição brasileira neste final de 2010. É um trabalho competente, centrado na vida e obra de alguns dos expoentes do gênero: Tom Wolfe, Gay Talese, Norman Mailer, Joan Didion e Hunter Thompson, em especial, mas não apenas. Tem alguns problemas.
Por exemplo, não coloca John Reed entre os primeiros jornalistas que fizeram exatamente o que o novo jornalismo praticava: colocar as técnicas da literatura de ficção a serviço da não ficção.
Mas tem muitas qualidades. A principal, oferece uma boa amostragem da maneira como esses autores chacoalhavam as redações e os leitores com suas abordagens inteligentes, originais, e com sua audácia narrativa diante de assuntos manjados demais.
Um caso desses: enquanto todos os colegas de jornais e revistas se concentravam no relato que a TV e o rádio já estavam martelando no público durante todo o dia 22 de novembro de 1963, Jimmy Breslin focava a sua matéria sobre a morte do presidente John Kennedy nas impressões individuais do médico que comandou o seu atendimento. No dia do enterro de Kennedy, seu personagem foi o coveiro.

EDIÇÃO BRASILEIRA
Para o público brasileiro, os editores poderiam ter providenciado algumas notas para oferecer contexto a quem não tem o referencial dos americanos ou dos muito interessados pela cultura e política dos EUA.
Nomes e situações passam batido no texto, o que vai deixar muita gente sem entender a dimensão que o autor implica ao citá-los.
A tradução também bobeia aqui e ali. Um episódio é contado em detalhes: Norman Mailer ficou furioso com os editores que mudaram o título de uma reportagem sua sobre as eleições de 1960 porque eles alteraram a palavra "supermarket" para "supermart".
E o leitor brasileiro fica na mão, sem saber que importância essa alteração poderia ter tido para o escritor.

QUESTÕES ÉTICAS
O livro poderia ter explorado mais a fundo algumas das grandes questões éticas que o novo jornalismo levanta.
Como dizia Tom Wolfe, o estilo devia fluir livremente, mas os fatos do texto tinham de ser irrefutáveis.
E frequentemente não eram. Não eram nem fatos, na verdade.
Algumas invenções foram flagradas. Outras, não. Hunter Thompson foi um dos que mais se excederam na liberdade com que misturava mentiras com verdades (e às vezes ficava só nas mentiras, sem verdade alguma). Era genial, mas não era jornalismo.

A TURMA QUE NÃO ESCREVIA DIREITO

AUTOR Marc Weingarten
EDITORA Record
QUANTO R$ 54,90 (392 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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