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DANÇA
Artista brasileira homenageia Oskar Schlemmer (1888-1943), professor da histórica escola multidisciplinar Bauhaus
Coreógrafa Lia Rodrigues leva sua arte para Portugal
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
No próximo dia 18, a coreógrafa
Lia Rodrigues estréia em Portugal
seu mais novo trabalho. A convite
da Culturgest, que realiza anualmente homenagens a grandes figuras da dança, ela e mais duas
criadoras (Lúcia Sigalho e Catherine Diverrès) vão apresentar coreografias de 20 minutos cada, em
homenagem ao coreógrafo Oskar
Schlemmer (1888-1943), professor da histórica escola multidisciplinar Bauhaus.
Grande nome na dança brasileira da atualidade, além de coreógrafa Lia é coordenadora artística
da mostra BNDES/Artes em Ação
Social, representante da Rede de
Promotores Culturais da América
Latina e organizadora do Panorama Rio Arte de Dança.
O novo espetáculo já tem nome:
"Buscou-se, Portanto, Falar a Partir Dele e Não Sobre Ele". Mais
que um nome, é virtualmente
uma resposta à primeira pergunta
que Lia se fez: "O que é prestar
uma homenagem a alguém?". Como ela explica, a dificuldade era
descobrir um modo "hoje, aqui,
de pensar na figura de Schlemmer
e dar um presente a ele".
Para Lia, o desafio é resgatar a figura de Schlemmer como grande
personagem da dança, e estímulo
para a criação "revolucionária e libertária da arte". Ela vai mais longe: "Penso na arte como instrumento de conhecimento, e o conhecimento é o primeiro passo
para a mudança. Vejo a cultura
como geradora de dignidade e cidadania. A arte é o lugar da inquietude, do caos, onde a gente se
faz perguntas e muitas vezes fica
sem resposta. É um não-saber,
que nos move".
Esse tipo de inquietação soa característico e vem gerando muitos
bons frutos na carreira da coreógrafa: vale ressaltar a importância
do Panorama, idealizado por Lia,
e cuja trajetória, nesta última década, afetou marcadamente os rumos da dança no Rio (quem quiser saber mais sobre o Panorama
pode consultar o livro "Coreografia de uma Década", organizado
pela jornalista Adriana Pavlova e
por um dos curadores do próprio
festival, Roberto Pereira, e publicado recentemente pela editora
Casa da Palavra).
Segundo Lia, o Panorama surgiu de um convite feito pelo
RioArte, em 1992, para fazer uma
mostra de dança. "Foi um sucesso
tão grande que as edições foram
se sucedendo e o orçamento cresceu. Hoje é de aproximadamente
US$ 125 mil, para uma programação de 12 dias, com espetáculos a
preços populares (o equivalente a
US$ 2). O Panorama serve para
lançar criadores brasileiros, mas
almeja ser também "um espaço
de circulação de idéias e um foco
irradiador de discussão".
Vivendo a dificuldade de fazer
arte no Brasil, Lia avalia que "não
existe um mercado interno capaz
de garantir a subsistência de companhias de dança. Estamos num
país com graves problemas sociais e econômicos, e a situação do
artista é reflexo disso". Ela não
mede palavras para criticar "o
modelo neoliberal escolhido pelo
governo", que prevê "uma desorganização política da população e
a ausência de programas culturais".
Nesse contexto, ressalta a importância da política de dança no
Rio: "Há oito anos, o município
do Rio tem uma política estabelecida para dança, com garantia de
continuidade, que tem produzido
resultados palpáveis. Neste ano,
também, o governo do Estado iniciou um projeto similar". Para a
coreógrafa, exceto iniciativas raras como essas, existem apenas a
de algumas instituições isoladas,
com papel importantíssimo aqui
e ali, "como o Sesc e o Itaú Cultural em São Paulo, por exemplo".
Para Lia, o diálogo entre artistas
e políticos "tem de ser um processo contínuo. É uma questão política, e nos falta, no meio da dança,
estar mais conscientes e mais unidos". Não há receita fechada, mas
todo mundo sabe, afinal (ou deveria saber), que "o diálogo deve
ser permanente entre os que fazem a política e os que fazem e
concretizam a arte". O exemplo
de Lia Rodrigues, seja como coreógrafa, seja como produtora, dá
evidência de como é possível
transformar essas palavras em
atos; ou melhor: em dança.
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