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O golpe do anel
Marketing é ingrediente básico da superprodução "O Senhor dos Anéis", baseada em livro de Tolkien
MARCELO STAROBINAS
DE LONDRES
A partir da próxima semana, o
público brasileiro poderá finalmente julgar por si só se "O Senhor dos Anéis - A Sociedade do
Anel" vai entrar para a história do
cinema ou se é apenas mais um
filme de aventura inflado por uma
gigantesca máquina de propaganda. A estréia no país está prevista
para o dia 1º janeiro.
O uso de superlativos para se referir ao projeto do diretor neozelandês Peter Jackson chega a cansar. Do longo tempo empreendido nas filmagens na Nova Zelândia (que duraram aproximadamente 18 meses), à fabulosa quantia que os estúdios New Line (um
dos braços do conglomerado
AOL-Time Warner) teriam investido na produção (US$ 270 milhões), tudo o que diz respeito a
"O Senhor dos Anéis" é "mega",
"hiper", "sem precedentes".
"A comparação mais próxima
que se pode fazer para dimensionar o filme é com a "Ilíada" ou com
a "Odisséia'", exagera o veterano
ator Christopher Lee, que faz o
papel do vilão Saruman. Ian
McKellen (o mago de barba branca Gandalf) foi ainda mais longe:
disse que produzir "O Senhor dos
Anéis" foi como adaptar a Bíblia
para o cinema.
Episódios
De fato, a primeira tentativa de
traduzir para o cinema o clássico
infanto-juvenil do escritor sul-africano J.R.R. Tolkien teve nuances épicas e uma certa dose de ineditismo. Não é todo dia que uma
empresa de entretenimento dos
EUA aposta todas as suas fichas
num diretor neozelandês de modesta projeção, disposto a filmar,
do outro lado do Pacífico, três filmes de uma só vez.
"A Sociedade do Anel" é o primeiro episódio da série que, assim como o livro de Tolkien, será
dividida em três tomos. Os dois
restantes, "As Duas Torres" e "O
Retorno do Rei", já filmados, ainda não foram editados. Devem
chegar aos cinemas, respectivamente, no fim de 2002 e no Natal
de 2003.
Em poucas palavras, a história
retrata a luta do bem, incorporado no personagem central, o hobbit (ser mitológico inventado por
Tolkien) Frodo Baggins, e seus
parceiros, contra as forças do mal.
Para derrotar as satânicas criaturas que sonham em dominar
Terra Média, o jovem herói embarca numa viagem rumo a um
vulcão em atividade, único lugar
em que é possível destruir o anel
mágico herdado de seu tio. Sauron, o vilão chefe, faz de tudo para
recuperar esse anel que já foi seu
e, assim, voltar a reinar, soberano.
Toda a expectativa alimentada
pelos diretores de marketing do
projeto deve surtir o resultado comercial desejado. Cerca de 10 mil
salas de cinema em todo o mundo
receberão milhões de pessoas entusiasmadas em descobrir se são
verdadeiros os rumores de que "O
Senhor dos Anéis" tem tudo para
virar um novo "cult" como a série
"Guerra nas Estrelas".
A estimativa é de que até o final
do ano o filme arrecade US$ 150
milhões. No fim de semana de estréia, no entanto, "O Senhor de
Anéis" ficou bem abaixo da marca atingida por seu maior rival,
"Harry Potter e a Pedra Filosofal".
Placar: US$ 45,2 milhões contra
US$ 90,3 milhões, nos respectivos
três primeiros dias de exibição,
nos Estados Unidos e Canadá.
No terreno dos grandes concursos, "O Senhor dos Anéis" saiu na
frente. Foi indicado para o Globo
de Ouro em quatro categorias, incluindo melhor filme e diretor.
"Harry Potter" não recebeu indicações.
Decepção
Possivelmente, muitos espectadores vão se decepcionar com o
que verão na tela. A história do livro está ali, inalterada, salvo um
detalhe ou outro, o que já seria
uma receita para o sucesso (afinal,
"O Senhor dos Anéis" marcou a
juventude de toda uma geração,
vendendo mais de 100 milhões de
cópias em 40 idiomas). A tecnologia e os efeitos especiais dão às cenas um ar de magia.
Mas falta algo essencial nesse
capítulo de estréia da trilogia de
Jackson: a maior parte dos atores
do elenco, que conta com algumas estrelas já consagradas como
Christopher Lee, Liv Tyler, Cate
Blanchett e Sean Bean, são quase
robóticos e pouco carismáticos na
tela. É um tipo de desempenho
que torna difícil se identificar, se
envolver com os personagens.
E há também o anticlímax do final: após quase três horas de expectativa para saber se Frodo (interpretado por Elijah Wood) conseguirá destruir o anel e salvar a
civilização, o filme acaba inacabado, no estilo "continua no próximo episódio".
Para quem não leu a série toda,
restam duas alternativas para remediar a possível frustração: ler
os outros dois volumes de "O Senhor dos Anéis" ou aguardar
mais dois anos para saber o final
da história.
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