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LITERATURA
Autor do premiado e polêmico "La Virgen de los Sicarios" lança novo romance, em que narra morte do irmão
"Céline" colombiano prega fim de seu país
Associated Press
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"Paisagem", do colombiano Fernando Botero, quadro que simboliza os efeitos da violência em seu país, tema tratado por Vallejo |
SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
"Nós nos parecemos muito: ele
também se chamava Luis Fernando", brinca o escritor colombiano
Fernando Vallejo, 59.
É assim que ele responde à crítica que frequentemente o compara ao francês Louis-Ferdinand
Céline (1894-1961), autor reacionário, racista e que ficou conhecido por seu apoio ao nazismo.
Os livros de Vallejo são longos
monólogos enfurecidos, em que o
escritor não poupa insultos a conterrâneos -jovens ou idosos-, à
Colômbia e à sua própria família.
Vallejo ganhou projeção com
"La Virgen de los Sicarios" (1994),
solilóquio homoerótico sobre o
cotidiano violento dos sicários de
Medellín, jovens contratados para
matar. O livro foi levado às telas
no ano passado sob a direção de
Barbet Schroeder, em adaptação
premiada nos festivais de Havana
e Veneza.
Agora, Vallejo volta-se para seu
próprio drama familiar. Seu novo
romance, "El Desbarrancadero",
que acaba de ser lançado nos países de língua hispânica pela Alfaguara (sem previsão de lançamento no Brasil), trata da morte
de seu irmão, vítima de Aids.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista que Vallejo
concedeu à Folha.
Folha - Quem são os vivos e quem
são os mortos em seu novo romance, "El Desbarrancadero"?
Fernando Vallejo - Eu sou um escritor morto. E esse é um livro que
trata da morte do meu pai, da de
meu irmão Darío e da minha própria. Ainda que esteja respondendo agora às suas perguntas e que
isso pareça insólito, eu já me dei
por morto. Estou desfrutando há
muito tempo da santa paz, da santa morte, na "santa nada".
Folha - Seus livros têm tom confessional. Você sempre assume as
opiniões de seus personagens?
Vallejo - Eu só escrevo em primeira pessoa e só conto o que se
passa comigo, não me sinto porta-voz de ninguém. O romance
em terceira pessoa é o caminho
mais trilhado da literatura. E eu
desprezo o narrador onisciente,
aquele que pretende que sabe tudo o que pensam os seus personagens e que tudo vê. Ele é um pobre
filho de vizinho que se pretende
Deus. Deus não existe, estamos
sozinhos, e nunca choveu maná
do céu. Tudo isso é fábula.
Folha - "La Virgen de los Sicarios"
é uma crítica aos que fazem crítica
social por meio da literatura?
Vallejo - Não exatamente. A única coisa que eu realmente rejeito e
critico é a reprodução humana.
Acho que a humanidade não tem
o direito de se reproduzir. Por
sorte, nunca cometi o delito de ter
filhos.
Folha - Sua narrativa é cheia de
imagens. O cinema é influência?
Vallejo - Quando me dedicava
apenas ao cinema, acreditava que
era uma arte. Hoje já não penso
assim, o cinema foi uma linguagem artificial e novelística inventada pelo século 20. Dizem que
uma imagem vale por mil palavras. Acho o oposto, com tudo o
que têm de flexíveis e relativas, as
palavras servem para dizer muito
mais do que as imagens. Por
exemplo, com quantas imagens se
diz "eternidade"?
Folha - Você conheceu os sicários? Fez pesquisa para criar personagens como Alexis e Wílmar?
Vallejo - Não, não fiz nenhuma
pesquisa: arranquei-os de minha
vida. Não acredite se ouvir que
"La Virgen de los Sicarios" é uma
ficção. Página por página, morto
por morto, é um livro verdadeiro.
Folha - Acha que a literatura pode
ajudar a Colômbia?
Vallejo - A Colômbia não tem remédio, é um país mau por natureza: ladrão, mesquinho, assassino.
O melhor que pode passar a ela é
que se acabe.
Folha - Num passado recente, escritores latino-americanos envolveram-se com questões sociais e
com a política (Ernesto Sabato, Mario Benedetti, Romulo Gallegos e
outros). Acha que isso mudou?
Vallejo - E de que serviu terem se
metido na política? Por acaso algum deles levantou a voz alguma
vez para defender os mais indefesos de todos, os animais? Os escritores "engagés", para usar o termo utilizado por Sartre, estão
mais mortos que os dinossauros.
A esquerda foi sempre uma mentira demagógica. E a literatura que
se produziu a serviço dessa mentira é desprezível.
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