São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002

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MÚSICA/LANÇAMENTO

ELETRÔNICA

Novo álbum do artista busca influência nos ritmos brasileiros

Anvil FX assimila o som da MPB

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

A esquizofrenia de grande metrópole afetou profundamente o produtor de música eletrônica Paulo Beto, 36, que trocou Minas Gerais por São Paulo: seu miolo está "moído". Conhecido por uma estética mais experimental, o nome por trás do projeto Anvil FX, que está lançando seu segundo CD, "Miolo", assimila a MPB e explicita a nova influência em seu trabalho.
No underground paulistano dos poetas, videomakers e músicos alternativos, Beto tornou-se uma das figuras mais prolíficas e quixotescas. Não importa se projeções de filmes, discotecagens, "happenings" de ocasião: PB (uma de suas alcunhas) estará lá.
Desde o fim dos anos 80, Beto adota diferentes nomes e roupagens para extravasar sua inquietude sonora. Foram diversos projetos, como o Silverblood, ainda infestado pela estética gótica em voga no período, ou a superbanda "freak" Shiva Las Vegas, que, mais recentemente, reuniu nomes como Alex Antunes (ex-Akira S) e Rodrigo Carneiro (ex-Mickey Junkies).
Entender a produção de Beto é entender o próprio caminho da música eletrônica feita no Brasil nos últimos dez anos. Se inicialmente ele era incompreendido por muitos, agora ele vê o estilo fundir-se com ritmos brasileiros na criação de uma nova (e bem-sucedida) linguagem.
"O disco tem elementos paranóicos, barulhentos, com algo mais calmo, mais lounge. Quis fazer algo que reunisse todos meus gostos diferentes e discrepantes, como as influências de música brasileira. Ela está cada vez mais forte na minha preferência, mais da metade da minha coleção agora é de música brasileira feita nos anos 60 e 70", explica o produtor.
"Eu tinha uma relação meio preconceituosa até produzir o disco da [cantora" Alda Rezende em 1999. Ela me apresentou várias coisas novas, descobri que existia um universo imenso a ser descoberto."
A polaridade eletrônico vs. orgânico fica evidente no disco. É como se na primeira metade Beto quisesse seguir o caminho de bossa lounge trilhado por Bebel Gilberto e, na segunda, retomasse suas experimentações que o acompanham desde o início.
Na seara "música brasileira", o produtor recebe a participação de cantoras poderosas como Maria do Céu, Pat C., Alda Rezende (que canta na faixa "Ela-Eu", do compositor Tom Zé), o grupo Mawaca e o percussionista do Trio Mocotó João Parahyba ("ele quer estar nessa onda, quer estar com o pessoal mais novo, mais moderno", explica Beto).
Fazendo um contraponto, as colaborações de nomes como Rodrigo Carneiro, Miguel Barella, Dr. Silvestre e Pekka Lehti fazem Beto retornar um pouco aos tempos de seus trabalhos menos acessíveis.
Beto não nega que a mistura de eletrônica com ritmos nacionais já tenha virado uma fórmula, após o sucesso de "LK", produção de Marky e Xerxes com sample de Jorge Ben que atingiu a melhor colocação de um artista brasileiro na parada britânica de singles.
"Minha intenção não é fazer mistura, é tudo uma questão de assimilação harmônica. A MPB nos anos 60 tinha o mesmo efeito, Tom Jobim era o máximo de modernidade. Essas manias, tendências e modas vêm e vão, é sempre uma espiral. Para fazer uma festa com sucesso em Berlim, basta escreve no flyer "Brazil - Electro". A música brasileira, latina ou africana são pontos referentes muito fortes, que as pessoas de fora acham exóticos."


MIOLO - artista: Anvil FX. Lançamento: YBrasil. Distribuição: Trama. Quanto: R$ 19,90, em média.


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