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MÚSICA/LANÇAMENTO
ELETRÔNICA
Novo álbum do artista busca influência nos ritmos brasileiros
Anvil FX assimila o som da MPB
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO
A esquizofrenia de grande metrópole afetou profundamente o
produtor de música eletrônica
Paulo Beto, 36, que trocou Minas
Gerais por São Paulo: seu miolo
está "moído". Conhecido por
uma estética mais experimental, o
nome por trás do projeto Anvil
FX, que está lançando seu segundo CD, "Miolo", assimila a MPB e
explicita a nova influência em seu
trabalho.
No underground paulistano
dos poetas, videomakers e músicos alternativos, Beto tornou-se
uma das figuras mais prolíficas e
quixotescas. Não importa se projeções de filmes, discotecagens,
"happenings" de ocasião: PB
(uma de suas alcunhas) estará lá.
Desde o fim dos anos 80, Beto
adota diferentes nomes e roupagens para extravasar sua inquietude sonora. Foram diversos projetos, como o Silverblood, ainda
infestado pela estética gótica em
voga no período, ou a superbanda
"freak" Shiva Las Vegas, que,
mais recentemente, reuniu nomes como Alex Antunes (ex-Akira S) e Rodrigo Carneiro (ex-Mickey Junkies).
Entender a produção de Beto é
entender o próprio caminho da
música eletrônica feita no Brasil
nos últimos dez anos. Se inicialmente ele era incompreendido
por muitos, agora ele vê o estilo
fundir-se com ritmos brasileiros
na criação de uma nova (e bem-sucedida) linguagem.
"O disco tem elementos paranóicos, barulhentos, com algo
mais calmo, mais lounge. Quis fazer algo que reunisse todos meus
gostos diferentes e discrepantes,
como as influências de música
brasileira. Ela está cada vez mais
forte na minha preferência, mais
da metade da minha coleção agora é de música brasileira feita nos
anos 60 e 70", explica o produtor.
"Eu tinha uma relação meio
preconceituosa até produzir o
disco da [cantora" Alda Rezende
em 1999. Ela me apresentou várias coisas novas, descobri que
existia um universo imenso a ser
descoberto."
A polaridade eletrônico vs. orgânico fica evidente no disco. É
como se na primeira metade Beto
quisesse seguir o caminho de bossa lounge trilhado por Bebel Gilberto e, na segunda, retomasse
suas experimentações que o
acompanham desde o início.
Na seara "música brasileira", o
produtor recebe a participação de
cantoras poderosas como Maria
do Céu, Pat C., Alda Rezende (que
canta na faixa "Ela-Eu", do compositor Tom Zé), o grupo Mawaca e o percussionista do Trio Mocotó João Parahyba ("ele quer estar nessa onda, quer estar com o
pessoal mais novo, mais moderno", explica Beto).
Fazendo um contraponto, as
colaborações de nomes como Rodrigo Carneiro, Miguel Barella,
Dr. Silvestre e Pekka Lehti fazem
Beto retornar um pouco aos tempos de seus trabalhos menos acessíveis.
Beto não nega que a mistura de
eletrônica com ritmos nacionais
já tenha virado uma fórmula,
após o sucesso de "LK", produção
de Marky e Xerxes com sample de
Jorge Ben que atingiu a melhor
colocação de um artista brasileiro
na parada britânica de singles.
"Minha intenção não é fazer
mistura, é tudo uma questão de
assimilação harmônica. A MPB
nos anos 60 tinha o mesmo efeito,
Tom Jobim era o máximo de modernidade. Essas manias, tendências e modas vêm e vão, é sempre
uma espiral. Para fazer uma festa
com sucesso em Berlim, basta escreve no flyer "Brazil - Electro". A
música brasileira, latina ou africana são pontos referentes muito
fortes, que as pessoas de fora
acham exóticos."
MIOLO - artista: Anvil FX. Lançamento:
YBrasil. Distribuição: Trama. Quanto: R$
19,90, em média.
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