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Digestivos já eram usados na Antigüidade
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
Uma boa refeição pode
ter um número enorme
de pratos -e outro tanto
(ou mais) de bebidas,
acompanhando cada momento. Do aperitivo ao
digestivo, muita água que
passarinho não bebe pode correr.
Curioso que o início e o
fim podem ser coincidentes: tanto destilados,
quanto vermutes e amaros têm sido utilizados
com as duas funções.
Seja a de abrir o apetite,
antes; seja a de facilitar a
digestão, depois. Uísque,
vermute e Porto são muitas vezes ingeridos no início dos trabalhos, mas
também costumam finalizar a refeição.
Se essas bebidas são
mesmo digestivas -da
mesma forma que alguns
ingredientes são ditos
afrodisíacos-, há que se
provar. Mas parece que
sim. Numa primeira impressão, puramente intuitiva, é possível constatar que, especialmente os
amaros, com seu sabor
meio botânico, meio medicinal, costumam auferir
uma sensação de bem-estar depois da comida.
Li, certa vez, um longo
estudo feito a pedido da
Underberg (que fabrica,
na Alemanha, o digestivo
homônimo) argumentando, com base em testes científicos, que a bebida -feita de ervas, álcool
e água passados depois
em barris de carvalho-
realmente faz bem ao sistema digestivo.
Toscana
Em tal efeito das bebidas com ervas já acreditavam os gregos e romanos
da Antigüidade clássica,
quando temperavam seus
vinhos fortificados com
ingredientes variados,
entre eles o absinto, planta considerada útil para
tratar doenças gástricas.
A história é antiga, mas
a era de ouro dos digestivos começou mesmo
tempos depois, no século
18, na Toscana, com os
vermutes (vinhos fortificados com álcool e macerados com ervas e condimentos, em geral amargos, mas também com
versões doces) preparados por empresas como
Martini e Cinzano.
Mas produtos franceses também gozam de
prestígio, como o Noilly
Pratt (feito em Marseillan), indispensável num
bom dry martíni, e o Lillet (de Bordeaux), que
ganhou recente notoriedade com o filme "Cassino Royale", por entrar na
composição do Vesper,
drinque pedido por James Bond.
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