São Paulo, sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br

Um fio que mudou a moda

Lycra festeja 50 anos; Brasil foi o único país no mundo em que as vendas do produto cresceram em 2009

A história da moda -sobretudo no que se refere à lingerie, às roupas de praia e à indumentária esportiva- pode ser claramente dividida em duas etapas: antes e depois da invenção do fio Lycra, há 50 anos.
Bem mais resistente e flexível do que o látex, o fio Lycra, acrescido a diversos outros tecidos, como a seda, possibilitou uma maleabilidade e um conforto às roupas como não se conhecia até então.
Feita de elastano, a fibra sintética foi criada em 1959 para a indústria americana Du Pont pelo químico Joseph Shivers. Hoje, a marca Lycra pertence à companhia Invista, também dos EUA.
Ao longo das últimas cinco décadas, foram desenvolvidos cerca de 700 tipos de fio Lycra, para diferentes aplicações, como os recentes Lycra XFit, feito especialmente para os jeans, e o Lycra Extra Life, que é dez vezes mais resistente ao cloro que o elastano normal.
Um dos novíssimos produtos é o Lycra 2.0, espécie de fita adesiva altamente flexível que substitui a costura. Lançado neste ano no país, a fita já vem sendo utilizada por fábricas de lingerie, como a Duloren.
No Brasil, o cinquentenário da invenção do fio Lycra coincidiu com os 35 anos da instalação, em Paulínia (SP), da primeira fábrica de produção do fio no país -atualmente são duas, na mesma cidade, e as únicas na América do Sul. Para comemorar as duas datas, a Lycra promoveu o concurso Swimwear Future Designers, destinado a jovens estilistas de moda praia. Venceu a paulista Julia Sato, de 22 anos.
Mas as comemorações da empresa em 2009 não se limitaram às efemérides importantes para a empresa.
A Lycra também festejou o fato de o Brasil ter sido o único país do mundo onde as vendas do fio cresceram (cerca de 10%), enquanto nos demais, inclusive na China, elas tombaram vertiginosamente -nos EUA, a queda chegou ao patamar dos 20% no auge da crise econômica.
"O Brasil foi o único país que resistiu. Aqui chegou a faltar o fio. Tivemos de importar de onde estava sobrando e como estava sobrando em vários países, pudemos escolher à vontade", diz a diretora de marketing da Invista para a América Latina, Carolina Sister.
Ela conta que teve que dar "mil e uma explicações" aos executivos da Lycra em outros países a respeito do inesperado "boom" brasileiro. "Tivemos que fazer várias conferências por telefone. Eles achavam que nós estávamos loucos, porque o Brasil estava indo totalmente na contramão do mundo."
Segundo Carolina, a expectativa é que os negócios no país estejam ainda melhores em 2010. "O mercado brasileiro está bastante aquecido", afirma.
Os países sul-americanos são o principal mercado de exportação da Lycra brasileira, e a linha de lingerie é o "carro-chefe" da empresa no país, seguida da moda praia.
A fórmula do fio Lycra permanece secreta até hoje, embora haja várias imitações do produto, a partir da fibra sintética elastano. Até pouco tempo abertas à imprensa, as fábricas de Paulínia passaram também a ser interditadas à visitação.
A empresa faz um controle rigoroso das cópias no Brasil. Contra as falsificações, chega mesmo a utilizar um aparelho chamado Brands Scan, que detecta se as roupas que estão com o selo "100% Lycra" estão de fato utilizando o produto. "Nossos funcionários de fiscalização que saem a campo com essa máquina parecem "ghostbusters" ["caçadores de fantasmas", nome de um filme]", brinca Carolina.
Somente neste ano, foram constatados 301 casos de uso ilícito da marca no Brasil, número um tanto maior do que em 2008 -271 flagrantes.

com VIVIAN WHITEMAN



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