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FORNADA DO MILÊNIO
Como é doce a vingança...
GERALD THOMAS
de Nova York
O jornalista que, depois disso
tudo, ainda insistir em classificar os americanos de puritanos,
ou usar qualquer tipo de clichê
ou estereótipo para definir esse
povo imprevisível, e em constante revolução, vai ter de se
alistar (como estagiário) no
quartel-general do Partido Republicano (praticamente em
ruínas), ou virar correspondente no Vaticano.
Os EUA passam, para quem
tiver paciência de notar, por
uma gigantesca revolução comportamental. Aliás, a maior
desde os anos 60, com Stockley
Carmichael e seus Panteras Negras, os movimentos de contracultura, o anti- Vietnã, os hippies, os yippies. Já nas últimas
duas eleições, o povo deixou
bem claro que optava por um
jovem, democrata, e que pouco
estava se lixando para quem experimentou, ou não, a maconha, ou quem teve, ou não, relacionamentos extra- conjugais.
O apoio que Clinton recebeu
logo depois que a maioria republicana no Congresso votou pelo seu impeachment é a maior
manifestação "a favor" que
qualquer presidente, em qualquer época, jamais recebeu.
Horas depois de "impeached",
o povo cuspia na hipocrisia republicana e dava popularidade
sem precedentes a Clinton, de
72%. Ah...como é doce a vingança! Ou seja, os valores americanos mudaram, e radicalmente. Se era o puritanismo
"wasp" (white anglo-saxon protestant) que predominava em
décadas passadas, agora é a vez
da realidade nua e crua das minorias e das gerações educadas
para desconfiar do Estado.
Gostem ou não, estamos entrando numa era bombástica,
irônica e cínica, uma era perfeitamente "pós-Warhol", que
mistura irreverência e desconfiança. O seu estabelecimento
como nova ordem social elevará
alguns nomes da vida americana, como James Carville e George Stephanopulous (pai e mãe
de Abbey Hoffman e Jerry Rubin, respectivamente), Oliver
Stone, Jerry Springer e Larry
Flynt, cada um num ramo da
mídia, a ícones.
Gostem ou não, essas figuras
-com seu desnudamento incessante dos valores da tradicional família americana-
varrerão, de vez, os republicanos da face da Terra, por iniciativa e culpa (ou cegueira burra)
dos próprios republicanos.
Mentir ou não mentir, sob juramento ou qualquer outro pretexto civil e legalista, não está
importando ao povo americano, pois os únicos que têm a perder com possíveis revelações sobre suas atividades sexuais, e
toda pederastia e pedofilia que
praticam, são os próprios acusadores de Clinton.
É o fim do "contrato de sigilo"
(um legado do Império Britânico) que, até pouco tempo, operava em Washington. E é esse
contrato que Larry Flynt acaba
de revogar, oferecendo uma nota preta para quem oferecer dados sobre a vida sexual dos republicanos.
Ah....a revanche! Como é doce
a revanche! O primeiro já se foi,
não faz ainda uma semana.
Bob Livingston, que teria sido o
próximo "speaker" republicano
no Congresso, foi-se. Apareceu
-apavorado e covarde- perante os microfones para anunciar sua demissão e confessar o
adultério. Obra de Flynt. Bravo!
Um a um vão cair os hipócritas. O macarthismo sexual, introduzido por esse partido em
extinção, vai tornar o republicano uma espécie rara.
A guerra entre republicanos e
democratas é a guerra dos velhos contra os jovens. Num futuro bem próximo, as vozes do
Congresso que oram "gentleman" isso, "gentleman" aquilo
(outro legado da falsidade britânica, cordial e redundante),
vão retomar as questões (graves) que assolam esse e todos os
países sobre o planeta.
Logo, logo, governos do mundo todo terão na "Washington
revolucionária" um exemplo a
seguir e acabarão com seu inútil
e arrogante isolamento, e seus
discursos nefastos e falsos nada
mais serão senão uma sonoplastia do passado, assim como
o piano desafinado que acompanhava filme mudo.
²
E-mail: geraldthomas@uol.com.br
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