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TELEVISÃO
Série com Ellen DeGeneres, exibida no Brasil pelo canal pago Sony, ganhou novos roteiristas
Novo "Ellen" satiriza homossexualidade
Ellen DeGeneres, primeira estrela declaradamente lésbica, que
conquistou audiências recorde
na TV
do "The New York Times"
Depois que Ellen DeGeneres fez
história na temporada passada como a primeira estrela declaradamente lésbica no horário nobre e
conquistou audiências recorde no
processo, a pergunta para os seus
produtores era óbvia: como manter o ímpeto?
A resposta nesta temporada foi
um novo "Ellen", exibido no Brasil pelo canal de TV paga Sony, que
trata quase todo o tempo sobre o
que é ser gay nos EUA. O resultado
foi irritar alguns heterossexuais.
"Vocês não conseguem fazer um
programa que não seja sobre ser
lésbica?"
Mas os telespectadores homossexuais são quase unânimes, e
muitos heterossexuais concordam
com eles, na opinião de que uma
"Ellen" franca é mais engraçada
do que sua predecessora enrustida.
Para reforçar os efeitos dessa honestidade, há novos roteiristas trabalhando para a série que possuem
duas das mais raras qualidades em
Hollywood: senso de humor e disposição para satirizar as ironias
implícitas da nova situação da personagem.
Não vamos exagerar sobre suas
realizações: continuamos a falar de
TV comercial e do horário nobre.
Mas o novo "Ellen" está cheio de
piadas que de fato fazem rir e é capaz de reviravoltas súbitas que são
a um só tempo surpreendentes e
reveladoras.
Ann Northrop, co-apresentadora do programa "Gay U.S.A.", na
Gay Cable Network, diz: "É a diferença entre o dia e a noite -entre
uma pessoa enrustida e alguém
que, por fim, conquistou verdadeira auto-estima. Ela agora vive
uma vida plena e tridimensional,
em vez de ser a irritante caricatura
que era. E há uma grande notícia:
parou de gaguejar".
Um episódio recente deu aos roteiristas a chance de satirizar as ansiedades dos empresários da atriz
Anne Heche quando ela se tornou
a namorada oficial e pública de
DeGeneres no começo do ano.
No episódio, sobre uma atriz
(Emma Thompson) que é quase
persuadida por Ellen a assumir,
um produtor de cinema ultrajado
declara: "Isso é um pesadelo! Emma Thompson vai anunciar ao
mundo que é gay no meio da filmagem do meu filme. E se o estúdio cortar a verba?". Que era exatamente a pergunta que os amigos de
Heche estavam fazendo quando
ela declarou seu amor por DeGeneres, logo depois de assinar como
co-estrela de um filme de alto orçamento com Harrison Ford.
Os censores internos da rede de
TV ABC mantiveram a série nos
noticiários, ao classificá-la, contra
os protestos de DeGeneres, como
TV-14 e com a advertência aos pais
de que apresenta "conteúdo adulto".
Os roteiristas da série usaram a
controvérsia a seu próprio favor
comicamente, ao reverter as expectativas dos espectadores. Subitamente, um beijo heterossexual
torna-se muito mais chocante do
que um beijo gay, quando Ellen
reencontra por acaso um antigo
namorado e sucumbe à tentação
de reviver o passado com ele. O
mesmo episódio inclui a notícia de
que "essas coisas nem sempre são
definitivas".
Embora o programa tenha se
tornado mais engraçado, também
tornou-se mais político, dando aos
Estados Unidos mais informação
sobre os problemas e alegrias da
vida gay do que o país jamais houvera recebido no horário nobre.
Quando Ellen tenta fazer amizade com a filha de sua nova namorada, pede que a menina descreva
a sua vida "começando do começo".
"Fui concebida por inseminação artificial", responde a garota.
"Minha mãe escolheu meu pai em
um catálogo. Fui criada em um laboratório."
Mais tarde, a menina se irrita
com Ellen porque "você nem deu
um beijo de boa-noite nela em
frente à sua casa".
"Você tem vergonha de ser
gay?", pergunta a filha em tom exigente e com toda a honestidade de
uma nova geração.
"Eu só não gosto de ser óbvia
quanto a ser gay quando há tanta
gente em volta que não o é", explica Ellen. "Quando eu estava crescendo, não era comum que os gays
demonstrassem afeto em público."
"Puxa", exclama a filha, "você
vem do passado!". O episódio termina com Ellen audaciosamente
pegando na mão de sua nova namorada dentro de um elevador lotado.
Não é preciso dizer que essa
abertura está levando os grupos
conservadores à loucura, como no
caso da declaração perfeitamente
sensata do vice-presidente Gore de
que o programa "levou os norte-americanos a ver a sexualidade
de forma mais aberta".
A Coalizão Cristã disse que a declaração de Gore era "muito radical", mas a capacidade de "Ellen"
para manter seu horário durante a
temporada sugere que a sociedade
norte-americana está finalmente
adotando uma postura aberta a
ponto de acomodar uma estrela de
TV lésbica. Especialmente se ela se
parecer exatamente com a prototípica garota da porta ao lado.
Enquanto isso, os defensores dos
direitos dos homossexuais dizem
que o programa fornece forte evidência de que uma das mais importantes mensagens do movimento é verdadeira: assumir é uma
das coisas mais saudáveis que um
homossexual pode fazer. Mesmo
em Hollywood.
Tradução Paulo Migliaccio
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