São Paulo, Quarta-feira, 26 de Janeiro de 2000


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ARTES PLÁSTICAS
Cassaro faz ciência apaixonada da arte

JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha


Bioconcretismo. Onde Lygia Clark e Hélio Oiticica terminam é o lugar em que Franklin Cassaro começa. O artista plástico, que desenvolveu esse curioso desdobramento do neoconcretismo, inaugura hoje sua primeira exposição individual em São Paulo.
A exposição consiste em uma única obra de arte: um templo feito de jornal. Ladeada por quatro ventiladores, a estrutura de quatro andares, 300 folhas de classificados e cerca de seis quilos pede a interação do público, que pode sacudi-la e até entrar nela.
É um de seus "infláveis", uma série que já teve exemplares expostos por todo o Brasil, mais recentemente na Bienal do Mercosul. O trabalho apresentado em Porto Alegre, de dimensões monumentais, era feito de náilon branco e atraía muito a atenção do público, que podia entrar e se sentar naquele ambiente zen.
Essa escultura em que se entra é como o "Poema Enterrado", de Ferreira Gullar. O poema era uma sala no subsolo da casa de Hélio Oiticica que tinha no centro um cubo vermelho. Levantando esse cubo, encontrava-se um outro, verde, sob o qual estava um cubo branco compacto. Ao levantá-lo, lia-se no verso "Rejuvenesça".
"Quando li um livro sobre o neoconcretismo, delirei", conta Cassaro, que ficou especialmente impressionado com o "Poema Enterrado", sugestivo dessa perspectiva da arte que faz perder o medo de entrar em um lugar escuro e descobrir o que está escondido, como fazem seus infláveis.
O bioconcretismo, uma invenção sua, é a mistura da lógica matemática do concretismo com construções humanas, formas mais próximas do natural, que lembrem uma coisa viva. "Os neoconcretos usavam apenas a geometria euclidiana, mas é possível construir geometricamente um espaço curvo, por exemplo."
Cassaro tem uma trajetória artística paradoxal. Trabalhou como analista de organização e métodos até 1987, otimizando o funcionamento das empresas. Nesse período, após o casamento com a bailarina Michele Spiewak, passou a interessar-se mais pelo universo das artes.
Viu algumas exposições que afirma terem sido essenciais: "Como Vai Você, Geração 80?" entre elas. Logo em seguida ganhou uma bolsa de estudos na escola do Parque Lage, onde conheceu o artista plástico Ernesto Neto, de quem tornou-se amigo.
"A gente se odiou e rapidamente se deu bem", conta, referindo-se à semelhança entre os trabalhos de ambos. "A gente gosta das tensões, dos movimentos e das transparências." Cassaro conta que, juntos, eles estudavam física, química, biologia, mais do que arte. "Ele queria ser astronauta e eu queria ser cientista."
Esses estudos heterodoxos tinham, na verdade, uma intenção artística clara: testar os limites do tridimensional. O quadridimensional aparece nas obras de Cassaro, que variam segundo a interação do público, nessa coordenada temporal. "Esses trabalhos nunca são, eles estão, por isso eu os chamo de atos escultóricos."
Estarão expostos ainda, no andar superior da galeria, alguns trabalhos de outra série: as pequenas esculturas feitas de borracha, alumínio e outros materiais, que possibilitam o corte ou reviramento que o artista lhes imprime.


Exposição: Franklin Cassaro - Razão & Desejo (Esculturas e Atos Escultóricos) Onde: Baró Senna (al. Gabriel Monteiro da Silva, 296, tel. 0/xx/11/3061-9224) Quando: hoje, às 20h. Seg. a sex.: 10h às 19h. Sáb.: 10h às 14h. Até 4/3 Preço das obras: R$ 1.000 a R$ 10 mil


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