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ARTES PLÁSTICAS
Cassaro faz ciência apaixonada da arte
JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha
Bioconcretismo. Onde Lygia
Clark e Hélio Oiticica terminam é
o lugar em que Franklin Cassaro
começa. O artista plástico, que desenvolveu esse curioso desdobramento do neoconcretismo, inaugura hoje sua primeira exposição
individual em São Paulo.
A exposição consiste em uma
única obra de arte: um templo feito de jornal. Ladeada por quatro
ventiladores, a estrutura de quatro andares, 300 folhas de classificados e cerca de seis quilos pede a
interação do público, que pode
sacudi-la e até entrar nela.
É um de seus "infláveis", uma
série que já teve exemplares expostos por todo o Brasil, mais recentemente na Bienal do Mercosul. O trabalho apresentado em
Porto Alegre, de dimensões monumentais, era feito de náilon
branco e atraía muito a atenção
do público, que podia entrar e se
sentar naquele ambiente zen.
Essa escultura em que se entra é
como o "Poema Enterrado", de
Ferreira Gullar. O poema era uma
sala no subsolo da casa de Hélio
Oiticica que tinha no centro um
cubo vermelho. Levantando esse
cubo, encontrava-se um outro,
verde, sob o qual estava um cubo
branco compacto. Ao levantá-lo,
lia-se no verso "Rejuvenesça".
"Quando li um livro sobre o
neoconcretismo, delirei", conta
Cassaro, que ficou especialmente
impressionado com o "Poema
Enterrado", sugestivo dessa perspectiva da arte que faz perder o
medo de entrar em um lugar escuro e descobrir o que está escondido, como fazem seus infláveis.
O bioconcretismo, uma invenção sua, é a mistura da lógica matemática do concretismo com
construções humanas, formas
mais próximas do natural, que
lembrem uma coisa viva. "Os
neoconcretos usavam apenas a
geometria euclidiana, mas é possível construir geometricamente
um espaço curvo, por exemplo."
Cassaro tem uma trajetória artística paradoxal. Trabalhou como analista de organização e métodos até 1987, otimizando o funcionamento das empresas. Nesse
período, após o casamento com a
bailarina Michele Spiewak, passou a interessar-se mais pelo universo das artes.
Viu algumas exposições que
afirma terem sido essenciais: "Como Vai Você, Geração 80?" entre
elas. Logo em seguida ganhou
uma bolsa de estudos na escola do
Parque Lage, onde conheceu o artista plástico Ernesto Neto, de
quem tornou-se amigo.
"A gente se odiou e rapidamente se deu bem", conta, referindo-se à semelhança entre os trabalhos de ambos. "A gente gosta das
tensões, dos movimentos e das
transparências." Cassaro conta
que, juntos, eles estudavam física,
química, biologia, mais do que arte. "Ele queria ser astronauta e eu
queria ser cientista."
Esses estudos heterodoxos tinham, na verdade, uma intenção
artística clara: testar os limites do
tridimensional. O quadridimensional aparece nas obras de Cassaro, que variam segundo a interação do público, nessa coordenada temporal. "Esses trabalhos
nunca são, eles estão, por isso eu
os chamo de atos escultóricos."
Estarão expostos ainda, no andar superior da galeria, alguns
trabalhos de outra série: as pequenas esculturas feitas de borracha,
alumínio e outros materiais, que
possibilitam o corte ou reviramento que o artista lhes imprime.
Exposição: Franklin Cassaro - Razão &
Desejo (Esculturas e Atos Escultóricos)
Onde: Baró Senna (al. Gabriel Monteiro
da Silva, 296, tel. 0/xx/11/3061-9224)
Quando: hoje, às 20h. Seg. a sex.: 10h às
19h. Sáb.: 10h às 14h. Até 4/3
Preço das obras: R$ 1.000 a R$ 10 mil
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