São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 2001

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Fernanda Montenegro e Ítalo Rossi atuam juntos após 30 anos em nova peça de Mauro Rasi

Fina decadência



Ana Ottoni/Folha Imagem
A atriz Fernanda Montenegro, que estréia, no Rio de Janeiro, com Ítalo Rossi, a peça "Alta Sociedade", do dramaturgo Mauro Rasi



"Alta Sociedade" conta a história, com referências à corrupção do país, de um casal tradicional que se vê às voltas com a Justiça e a perda de bens e dos amigos


CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Ver Fernanda Montenegro nos palcos é uma experiência inesquecível. A oportunidade de assisti-la em cena está de volta. Três anos após sua participação na montagem de "Da Gaivota", peça inspirada em Tchecov e que teve direção de Daniela Thomas, a atriz encena "Alta Sociedade", em cartaz a partir de hoje no teatro Scala (Leblon, zona sul do Rio). Não bastasse a volta de Fernanda, 71, "Alta Sociedade" reedita uma parceria histórica do teatro brasileiro: coloca ao lado da atriz o ator Ítalo Rossi, 69, com quem ela trabalhou no Teatro dos Sete, grupo formado no final dos anos 50 do qual também faziam parte Gianni Ratto, Fernando Torres e Sérgio Brito.
Há 30 anos os dois não trabalhavam juntos. "Fico pensando e não vejo uma razão objetiva para a separação nem para a volta. A vida seguiu seu rumo. Nós nos afastamos profissionalmente sem saber como. Agora, nossos caminhos se encontraram outra vez", explica Fernanda.
"A separação foi só no tempo, não foi uma separação de vida. Por isso não parece que há tantos anos não contracenamos", completa Rossi.
"Alta Sociedade" foi escrita especialmente para a dupla por Mauro Rasi, 49 -autor, entre outras peças, de "Pérola" e de "A Estrela do Lar"-, que também dirige a montagem.
Pela primeira vez, Rasi escreveu uma peça sob encomenda. "Para a Fernanda, eu lavo, passo e cozinho, se ela pedir", brinca. Ele já a havia convidado para atuar em "A Estrela do Lar", mas, na época, a atriz já assumira outros compromissos.
"Eu queria fazer uma comédia, algo sem estertores. Vi então que era a hora de trabalhar com Mauro. Eu tenho vindo de trabalhos muito pesados", diz a atriz, referindo-se às encenações de Tchecov, Beckett ("Dias Felizes", em 1996), às filmagens de "Central do Brasil" e "Traição", além da maratona feita em 1998 para divulgar o filme de Walter Salles, trabalho que lhe rendeu uma indicação ao Oscar e o prêmio de melhor atriz pela Associação Norte-Americana de Críticos de Cinema.
"Alta Sociedade" é um retrato da sociedade tradicional -os que são supostamente ricos de verdade, cultos, viajados e chiques- em um momento peculiar da história brasileira -quando começam a pipocar por todos os lados notícias sobre casos de corrupção e de impunidade.
"A sociedade tradicional está na berlinda. Eu quis mostrar um pouco disso, com todo o glamour", afirma o autor, completando que seu texto não contém piadas, mas "diálogos ácidos e corrosivos".
Para Rasi, "Alta Sociedade" é montada sob um ponto de vista semelhante ao de Petrônio para a sociedade romana em "Satyricon". Petrônio foi uma espécie de conselheiro do imperador Nero para assuntos mundanos -festas, luxo, extravagâncias.
O cenário de "Alta Sociedade" é um apartamento no edifício Chopin, reduto da sociedade tradicional carioca, ao lado do hotel Copacabana Palace. Na noite de réveillon, Sylvia, a personagem de Fernanda Montenegro, prepara o desmonte do apartamento onde vive com Leopoldo (Ítalo Rossi).
Os Sá e Rezende -sobrenome do tradicionalíssimo casal- já tiveram melhores tempos. O dinheiro sumiu, os amigos também, e a Justiça se aproxima, o que leva o casal a só pensar em fugir.
Comparações com personagens da vida real são inevitáveis. "Sou leitor ávido de jornais e principalmente das colunas sociais, então é claro que isso me influencia", diz o autor, sem citar nomes.
"São personagens que todos nós conhecemos. Simpáticos e terríveis. Como nossos pais, nossos vizinhos, tios, primos. Como qualquer um. Não há uma inspiração única", explica Fernanda.
"Leopoldo sempre esteve envolvido em falcatruas, desvios financeiros, em tudo o que lemos todos os dias", conta Rossi.
Para dar um ar de verdadeira sofisticação, foram investidos R$ 860 mil na produção de "Alta Sociedade" -a cargo da FF Produções Culturais, empresa de Fernanda Montenegro e de Fernanda Torres, sua filha.
No cenário, réplicas cuidadosas de mobiliário francês. Leopoldo veste legítimos ternos Armani, e Sylvia usa modelos originais de Saint Laurent, Christian Dior, Givenchy, Guilherme Guimarães e uma réplica de um Jacques Fath. "É um vestido que ela rasga em cena. Seria um crime inafiançável rasgar um Fath original", diz Rasi.



Peça: Alta Sociedade
Texto e direção: Mauro Rasi
Com: Fernanda Montenegro e Ítalo Rossi
Onde: teatro Scala (av. Afrânio de Melo Franco, 296, Leblon, Rio de Janeiro; tel. 0/xx/21/239-4448)
Quando: estréia hoje para convidados; de quinta a sábado, às 21h; domingos, às 19h
Quanto: R$ 30 (quintas, sextas e domingos) e R$ 40 (sábados)




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