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Curador da Bienal de SP, alemão Alfons Hug inaugura no Rio "micareta" artística, exposição sobre Carnaval com artistas de quatro países
A arte do alalaô
CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Folião contumaz, desses de
"Olha a cabeleira do Zezé" e derivados, o alemão Alfons Hug, 53, já
tem no currículo desde desfile na
Marquês de Sapucaí até a participação no núcleo de criadores do
hoje imenso Carnaval de Berlim.
Agora o curador da Bienal de
Arte de São Paulo resolveu abrir
alas a uma nova modalidade momesca: uma "micareta" feita de
vídeos, música eletrônica e artes
plásticas. É a exposição "Carnaval", que será aberta hoje no Rio,
ao som de tecno alemão.
Parte das comemorações de 15
anos do Centro Cultural Banco do
Brasil carioca, a mostra reúne trabalhos de artistas vindos dos Estados Unidos, Alemanha, Suécia ou
daqui da terra do samba.
Foi no Sambódromo, por sinal,
que a coisa começou a pedir passagem. Hug importou, no Carnaval passado, uma delegação de artistas como o excêntrico quarteto
As Four, radicado nos EUA, ou a
dupla sueco-belga Miriam Bäckström & Carsten Höller.
Eles, e os demais artistas escalados pelo crítico alemão, deveriam
criar obras especialmente para a
mostra baseados em suas experiências momescas.
Completam o time de 13 atrações de "Carnaval" obras já existentes de Cássio Vasconcellos
(que fotografara em 2002 de helicóptero uma cinzenta manhã de
Carnaval paulistana), auto-retratos da dupla alemã Eva & Adele
(casal que anda vestido sempre
igual, ambos trajados como mulher, de cabeça raspada) e trabalhos do recifense Bajado.
São deste último duas exceções
da exposição. Único artista "póstumo" (ele morreu em 1990, aos
78 anos), são dele também as únicas pinturas no CCBB. A ausência
de tinta chama atenção por ter
Hug anunciado que a pintura será
a técnica predominante na próxima Bienal (veja texto ao lado),
marcada para setembro.
"O conceito desta exposição é
bem diferente do que tem a Bienal. A arte contemporânea é em
geral muito cerebral. Queria aqui
uma abordagem mais direta, pegar uma matéria-prima rica em
imagens e transformar em artes
plásticas", diz o curador.
O próprio "mestre-sala" da exposição afirma que em linhas gerais "Carnaval" não é contrário
aos estereótipos carnavalescos.
Quase todas as dez salas da mostra são fartas em cores, com traçados barrocos (não é à toa que Hug
tem como próximo projeto, depois da Bienal, uma exposição sobre o barroco) e muitas imagens
recolhidas nos desfiles da Sapucaí
ou em festividades do gênero.
Um dos destaques é a estréia
"museográfica" do cineasta cearense Karim Aïnouz. Na instalação "Se Fosse Tudo Sempre Assim", o diretor do filme "Madame
Satã" (2002) faz uma releitura do
Carnaval de Olinda.
Em telas de pano colocadas em
uma sala iluminada por "gambiarras" de lâmpadas no chão coberto de purpurina e tendo como
trilha sonora uma sonata de Beethoven, Aïnouz projeta quatro tipos de imagens.
Em uma delas, se reproduz imagens abstratas carnavalescas, em
outra "retratos" (imagens mais
ou menos fixas) de alguns foliões,
na terceira cenas de momentos
alegres dos festejos e, na maior de
todas, a sequência mais marcante
da mostra, tão somente um senhor sem camisa em um bailado
solene e embriagado. "Quis retratar as últimas gotas de uma felicidade explícita", expressa o cineasta, que diz ser o momento mais
triste de seu ano as primeiras horas da Quarta-Feira de Cinzas.
Se Aïnouz fez sua instalação
com filmes 16 mm, foi com vídeo
que a maioria obrou.
A videoinstalação, "técnica"
predominante em "Carnaval", foi
o formato usado por Marcel
Odenbach (Alemanha), a dupla
Maurício Dias & Walter Riedweg
(Brasil/Suíça), o brasileiro Roberto Cabot e Andrea Fraser, americana de sólida carreira artística
(bienais de Veneza, São Paulo e
do Whitney Museum), que mostra "torre" feita de restos de fantasias cariocas e aparece em vídeo
usando biquíni carnavalesco e
dançando samba -ela já desfilou
no Rio cinco vezes; se não é uma
passista da Mangueira, não dança
como Arnold Schwarzenegger.
Cabot também mostra mulheres dançando, mas em slow (quase parado) motion. "Judiths e Salomés", nome de sua obra, tem
imagens de sambista em velocidade tão reduzida que são o que
ele define como "uma quase volta
à pintura", técnica mais usada pelo artista anteriormente. "Procurei com isso chegar a uma desconstrução do visível", diz.
Tudo o que ele "retraiu", artistas como "assume vivid astro focus" (pseudônimo do brasileiro
radicado nos EUA Eli Sudbrack )
expandem. É dele a gigantesca
obra redonda, psicodélica, sob a
rotunda principal do CCBB. "Noves fora", é esse universo de cores
e brilhos o que predomina no
Carnaval do alemão Alfons Hug.
O jornalista Cassiano Elek Machado
viajou a convite do CCBB
CARNAVAL. Quando: hoje (às 19h30),
para convidados; de terça a domingo,
das 10h às 21h; até 28 de março. Onde:
Centro Cultural Banco do Brasil (r.
Primeiro de Março, 66, 1º andar, centro,
Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21/3908-2020).
Quanto: entrada franca.
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