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CRÍTICA
Novo álbum inicia o enterro dos anos 90
da Reportagem Local
Eis aqui o primeiro produto
de artista iniciante da geração 2000 na
música popular
brasileira. Se "Samba Raro" abre
um novo flanco na combalida
MPB, é impossível perceber neste
momento, mas é expressivo que a
MPB dos 2000 comece aqui.
Trata-se de um trabalho de busca de síntese, e aqui o uso do termo "samba" é artifício de efeito.
Max de Castro, nesse primeiro
momento, é um artista de
rhythm'n'blues (mas de r'n'b brasileiro, como seu pai Simonal foi
um artista de soul brasileiro e Tim
Maia, um de funk brasileiro).
Essa tradição, a tradição black
brasileira, está de fato quebrada, e
na busca de síntese Max entrega a
seu disco um objetivo ambicioso,
duro de alcançar: retomar o fio
deixado solto pela diáspora pós-AI-5 de um grupo heterogêneo e
desideologizado, por que passaram Ben, Simonal, Tim, Cassiano,
Toni Tornado, até os brancos
Erasmo, Roberto e Elis.
Ele busca mais desideologização, acoplando universos de referência como os de Baden Powell.
A tentativa de síntese opera no
disco um encadeamento de citações -as canções vão incorporando trechos de "Charles Jr." e
"País Tropical" (de Ben), "Canto
de Ossanha" (Baden e Vinicius),
"Sonho de um Carnaval" (Chico),
"Fica Mal com Deus" (Vandré).
A lógica, Chico Buarque à parte,
é a de certo grau de exclusão, e é
esse sentimento que ele parece
querer vir vingar. Suas armas? Filho do pop star que pagou por se
ostentar reacionário e truculento,
Max vem inverter os sinais de seu
pai: funda-se na doçura -a voz
pequena, os temas nunca de "pilantragem", sempre de amor- e
no zelo pela modernidade sonora.
Na sofisticação tecnológica de
"Samba Raro", "Afro-Samba" ou
"2 Bailarinas", se aproxima de
contemporâneos bem diversos,
como os mangue beat, Rica Amabis, Júpiter Maçã, os eletrônicos.
No que acaba soando tradicional, no entanto, é em não avançar
no que talvez seja o grande impasse de sua geração: o sumiço da
poesia, dos versos, da temática de
texto, da autoria. É emblemático
que seu parceiro seja um bom letrista da geração 80, Bernardo Vilhena, mas a impressão que atravessa as letras de "Samba Raro" é,
muitas vezes, de falta de assunto.
A onda black sempre foi meio
assim, e do amor se fazia a solução
("não quero dinheiro, só quero
amar", rugia Tim Maia). A falta de
romantismo dos dias que correm
comprime Max no meio-termo
ainda não revolvido entre a verborragia sem poesia do rap e o deserto de texto do tecno.
De resto, "Samba Raro" é soul e
funk, é (sim) samba e samba-jazz,
MPB e eletrônica -mas não é o
ecletismo da combinação disso
tudo, e sim um esforço de síntese.
É coisa à beça para um iniciante
só, a quem involuntariamente
coube a tarefa de abrir os rituais
de enterro dos anos 90.
(PAS)
Avaliação:
Disco: Samba Raro
Artista: Max de Castro
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 20, em média
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