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MÚSICA
Filho caçula de Simonal lança CD de estréia advogando retomada da tradição fundada por Jorge Ben
Max de Castro apresenta o samba raro
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
"Samba Esquema Novo", Jorge
Ben, 1963. "A Nova Dimensão do
Samba", Wilson Simonal, 1964.
"Os Afro-Sambas", Baden Powell
e Vinicius de Moraes, 1966. "Samba Raro", Max de Castro, 2000.
Em seu disco de estréia, o cantor, compositor e guitarrista carioca radicado em São Paulo há 22
anos e filho caçula do controverso
cantor Wilson Simonal, pretende
interferir numa tradição de obras
que, contendo o termo em seus títulos, vinham reformular conceitos e pontos de vista sobre o samba -discos de samba sem ser.
"Usando uma frase polêmica,
os tropicalistas queriam retomar
a linha evolutiva da MPB do ponto em que João Gilberto deixou.
Eu diria que temos de retomá-la
de onde Jorge Ben deixou. A música que ele fez nos 60 era sofisticada sem ter necessidade de se auto-afirmar na sofisticação. Imagino Jorge Ben hoje, com a eletrônica...", diz Max, 27.
Estaria então interrompida essa
tradição? "Sim, de um tempo para
cá... Jorge correu a maratona e
chegou a algum lugar, mas nada
do que ele fez motivou um passo a
frente. Espero isso dos novos."
Título à parte, Max não é um
sambista. "Samba Raro", "produzido, arranjado, composto e tocado" por ele, encaixa-se, segundo
sua própria definição, no "soul
brasileiro", vertente em que compartimenta, nos textos do encarte,
Jorge Ben, Simonal, Cassiano,
Banda Black Rio, Robson Jorge...
"Acho que não faço samba. Minha música é um desdobramento
do samba. Me comunico com ele,
mas quero olhar para a frente,
usá-lo para fazer algo novo. Não
gosto dessa coisa de resgate,
quem sou eu para querer resgatar
Paulinho da Viola?", ilustra.
Max identifica um "espírito do
tempo" na volta do uso do termo,
desaparecido de títulos de discos
nos anos 80 e grande parte dos 90:
"Percebi que pessoas que eu
nem conhecia pessoalmente estavam fazendo isso. Rica Amabis
acaba de lançar "Sambadelic", a
Nação Zumbi está gravando "Radio Samba", Otto lançou "Samba
pra Burro" ", enumera, esquecendo-se do "Samba Esquema Noise" (94) do Mundo Livre S/A.
De volta a seu gênero: "Tenho
me referido à minha música como soul brasileiro. Sou 50% negro. Minha mãe é branca, mas,
por uma questão estética, me
considero negro. Minha cabeça
tende à música black".
A temática quase sempre amorosa das letras ele traria da tradição black? "Minha música tem
um temperamento romântico, no
bom sentido. "What's Going on",
de Marvin Gaye, é uma música
política, mas na voz dele fica sexy,
ganha uma conotação sexual."
Simonal
Nascido pouco antes da "queda" de Wilson Simonal, pop star
brasileiro irrefutável dos 60 que
sucumbiu no negror do período
militar, sob acusações de que fosse colaborador do regime e dedo-duro de colegas, Max vai citando
o pai em meio a cada assunto.
"Cresci num ambiente musical.
Meu pai tinha muitos discos, eu
tinha o hábito de ficar ouvindo.
Nasci seduzido pela música. Minha primeira relação musical foi
com a música dele."
"Acompanhei um resquício da
popularidade dele. Lembro quando fomos à Cidade da Criança. Saí
frustrado, só pude ir em um brinquedo porque juntava gente pedindo autógrafo. Esse perfil pop
star, para mim, é do século passado. Acho que a tendência dos novos é procurar uma nova forma
de relação com isso. A música é
mais importante que minha imagem ou minha figura."
"Ser filho de Simonal, por incrível que pareça, é muito bom.
Nunca sofri hostilidade, falam dele para mim de forma carinhosa,
dizem que ele foi importante."
"Cada pessoa responde por si.
Sou uma pessoa diferente dele.
Não posso ser contra Simonal por
ele ter sido de direita. Ele não vai
deixar de ser meu pai."
"Simonal não me influencia como cantor, porque o canto não é o
ingrediente principal na minha
música. Ele me influencia pela atmosfera do som, pelo teor soul
misturado com brasilidade, que
Jorge Ben e Cassiano têm."
Homenagens
As faixas de "Samba Raro" incluem citações e/ou vêm acompanhadas de dedicatórias a figuras muitas vezes díspares: Jorge
Ben(Jor), Baden Powell, Cassiano, Chico Buarque, Geraldo Vandré, Wilson Simonal, Roberto e
Erasmo Carlos, Carlos Imperial.
Max explica os critérios de inclusão: "O que há em comum entre eles é a década de 60. É a que
mais me interessa musicalmente,
a mais rica. Tinha Nara e Elis, Baden e Caetano... Para quem admira arte, é o que mais se aproxima
da perfeição".
Mas, sendo assim, a ausência
dos tropicalistas entre os homenageados não seria uma injustiça
histórica?
"Não foi nada do tipo "vou excluí-los". Só achei importante ressaltar outras coisas. Adoro Caetano, Gil, Tom Zé, os Mutantes,
mas acho que dentro da questão
da renovação, a referência aos
tropicalistas ficou demais. Até
um tempo atrás, todo artista que
aparecia parecia querer ser um
novo Caetano, um novo Gil."
Sobre outros "excluídos":
"Tom Jobim, que talvez seja o que
mais admiro entre todos, não
aparece nenhuma vez. Havia
uma música, mas desisti de colocá-la no disco. Tim Maia foi uma
descoberta tardia, demorei para
entender. Mas é a mesma coisa
dos tropicalistas, Tom Jobim e
Tim Maia são unânimes, todo
mundo cita". Este é o samba raro.
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