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"A Paixão de Lia" tateia poesia do desejo pelas mãos de heterônimos
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Lia e seus quase
heterônimos, quase
palíndromos (palavras que lidas da esquerda para direita
e vice-versa permanecem iguais), representados por
mulheres (Laís, Lúcia) e homens
(Ali, Laio, Li, Dali). Lia e sua fantasia que voa longe, mas toca profundamente: a busca do amante
ideal, o simulacro deste em um
bordel e os respectivos papéis de
cortesã, de lésbica e de mãe.
Como no romance, a versão
dramatúrgica de "A Paixão de
Lia", na forma de um monólogo
erótico, quer celebrar o desejo
poeticamente. Agora, em cena.
Hoje à noite, dentro do ciclo
"Leituras de Teatro", no auditório
da Folha, a escritora Betty Milan
faz o primeiro teste público da
adaptação do seu livro de mesmo
nome, lançado em 94.
Quem lê Lia é Giulia Gam, sob
direção de José Celso Martinez
Corrêa, do Uzyna Uzona.
Segundo Milan, o texto é contrário à "sujeição da sexualidade
ao orgasmo". Sua heroína não
pende para a liberdade sexual dos
60, 70, tampouco para a voga dos
libertinos no século 19. Flerta com
o prazer requerido, "o sexo sonhando, a liberdade do brincar".
Formada em medicina e psicanálise e com 12 livros lançados,
Milan experimentou o teatro pela
primeira vez ao criar "Paixão"
(94), monólogo, estrelado por Nathalia Timberg -adaptação de
capítulo do livro da autora "O
Que É o Amor" (83). "Se aquela
peça tratava da ilusão e desilusão
do amor, esta segunda é a festa do
erotismo, mas com o gozo sempre associado ao amor."
Além da acentuação da palavra
falada, as rubricas de "A Paixão de
Lia" reforçam a oralidade por
meio de voz em off.
Há ainda a projeção dos cinco
títulos dos quadros da peça ("My
Man", "O Bordel", "A Cortesã",
"A Ilha de Lesbos" e "Ave, Maria!"). E de imagens (fotos, ilustrações).
Indicados pela autora para o
palco, tais recursos não serão utilizados na leitura. Porém, Milan
faz questão de propor a Giulia
Gam e a Zé Celso a trilha sonora
que pontua as falas de Lia.
São 18 canções que costuram o
monólogo, entre outras, com vozes de Billie Holiday, Edith Piaf e
Carlos Gardel. Como a aguçar os
sentidos na primeira das "mil e
uma noites" de Lia.
A leitura gratuita acontece às
20h, no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar,
Campos Elíseos, SP). Reservas devem ser feitas pelo tel. 0/xx/11/
3224-3473, das 14h às 17h.
(VS)
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