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"A verdade é ambígua", diz Isabelle Huppert
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"A verdade é complexa, ambígua. Atualmente, há menos maniqueísmo no cinema ou no teatro.
Uma mulher má, por exemplo,
também pode ser representada
com uma certa sensibilidade",
afirma Isabelle Huppert, 49.
Uma das principais atrizes da
cena francesa contemporânea, ela
emana, pessoalmente, a interioridade característica das suas personagens, como se viu na conversa com os jornalistas brasileiros
na tarde de segunda-feira.
No saguão do Sesc Anchieta, recém-chegada de viagem, Huppert
falou sobre "4.48 Psychose".
"Deve-se ouvir a verdade na voz
de Sarah Kane e transportá-la para o palco", segue a atriz em sua
obsessão pela essência contida na
"sinceridade espontânea" da autora britânica que se enforcou em
1999, aos 28 anos. O suicídio, um
dos temas da peça, não ofusca o
paroxismo de Kane, cuja pequena
e perturbadora obra (cinco peças)
expõe também a sua tomada de
partido pela vida, lembra a atriz.
Após uma das sessões realizadas nesses cinco meses de temporadas pela Europa (a última em Portugal), Huppert ouviu o comentário de um amigo segundo o
qual Kane talvez não cometeria o
suicídio se tivesse assistido à
montagem que ora protagoniza.
Kane tinha fé na capacidade de
o teatro tocar e transformar as
pessoas. Ela mesma se dizia mobilizada por essa arte, pela escrita.
Juliana Galdino, a Medéia de
Antunes Filho, aproveita brecha
entre os jornalistas para perguntar sobre o trabalho de voz na interpretação da colega francesa
que, dois anos atrás, também viveu no palco as agruras da feiticeira de Eurípides que pratica o infanticídio para vingar o seu amor.
"A musicalidade da voz vem de
uma partitura rígida. Mas, exatamente por ser tão rígida, é possível fazer algumas alterações a cada representação", diz Huppert.
Inevitável a abordagem do cinema, lá se vão três décadas. A atriz
não advoga para si o monopólio
dos papéis de mulheres que sofrem "contorções psicológicas",
como a masoquista professora de
piano de Michael Haneke.
A fonte de inspiração, assegura,
não é autobiográfica. "Quando
vou buscar as experiências pessoais, nunca as encontro nos lugares que esperava", afirma.
Protegida pelos óculos escuros,
Isabelle Huppert pontua suas falas com silêncios e bom humor,
até revelar-se, uma "preguiçosa",
afeita aos papéis que mais escondem do que revelam. "Eles exigem menos de mim", justifica.
ENCONTRO COM ISABELLE HUPPERT.
Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila
Nova, 245, SP, tel. 0/xx/11/3234-3000).
Quando: amanhã, às 16h. Quanto:
entrada franca (retirar ingresso uma hora
antes).
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