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TEATRO
Segundo pesquisador, diretor argentino de "O Balcão" (69) pendeu mais para o comercial do que para a vanguarda
Livro revê papel de Victor Garcia no Brasil
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em "A Roda, a Engrenagem e a
Moeda: Vanguarda e Espaço Cênico no Teatro de Victor Garcia
no Brasil", que acaba de ser lançado pela editora Unesp, o pesquisador Newton de Souza propõe-se a rever o papel do diretor argentino entre nós.
Resultado da dissertação de
mestrado que Souza, 38, defendeu na Unesp, em 1999, o livro
aponta "contradições" e "distorções" estéticas e ideológicas do artista que desenvolveu trabalhos
no país entre 1968 e 1974, capitaneado pela atriz e produtora Ruth
Escobar.
Procurada pela reportagem, Escobar, 67, disse que ainda não leu
o livro de Souza, mas irá fazê-lo.
"Se Victor Garcia foi, talvez, incensado demais, não o foi apenas
no Brasil, mas na França, na Europa também", afirma.
A subversão do espaço cênico,
principal marca do trabalho de
Garcia (1934-82), teria sofrido
"apropriações mercadológicas",
segundo afirma Souza, 38, à Folha, ele que se apóia em pensadores marxistas como Bertolt Brecht
e Ernst Fischer. Em suma, defende que havia mais apelo comercial
nos espetáculos do que impacto
de vanguarda.
Garcia é freqüentemente citado
na história do teatro brasileiro
por renovar a cena descartando
os formatos arquitetônicas tradicionais do palco, como o frontal
italiano e a arena grega.
Naquela que foi sua montagem
mais emblemática, "O Balcão"
(69), do francês Jean Genet, o diretor concebeu, ao lado do arquiteto Wladimir Pereira Cardoso,
um espaço vertical e circular, um
poço com cerca de 17 metros, do
porão ao urdimento da sala Gil
Vicente do teatro Ruth Escobar.
A platéia era disposta nas laterais do "funil" para acompanhar
aquilo que a dramaturgia de Genet descrevia como um sofisticado bordel pronto a satisfazer as
fantasias de seus clientes -alegoria do autor para criticar valores e
instituições da sociedade, como a
igreja, a Justiça e o Exército. Mas
Souza diz que "o espaço cênico
não contribuiu para produzir as
críticas que o texto propunha".
Além de "O Balcão", o pesquisador analisa os espetáculos "Cemitério de Automóveis" (68), texto
do marroquino-espanhol Fernando Arrabal (ocasião em que
estreou em São Paulo, a convite
de Escobar, que assistira à montagem em Paris); e "Autos Sacramentais" (74), do espanhol Calderón de la Barca, que estreou num
festival do Irã e nunca foi apresentado no Brasil.
Souza escreve que as criações de
Garcia, "recebidas com exaltação
como obras de "vanguarda", careceram de uma crítica mais analítica e que aproveitasse a profundidade das questões abordadas pelas montagens para além da mera
fruição". Estabelece contraponto
com os movimentos das vanguardas artísticas do século 20, que
buscaram "revolucionar o mundo por meio da implosão dos valores burgueses, da iconoclastia e
da emancipação do homem".
O livro também contextualiza
as teorias do francês Antonin Artaud, com quem parte da crítica
via relação automática com Garcia, o que Souza discorda. Tampouco foram deixados de lado a
contracultura nas artes cênicas
dos 60 e 70 (Oficina, Living Theatre) e aspectos sociais, políticos e
econômicos (regime militar, crescimento industrial) que pesavam
sobre as ações individuais.
A RODA, A ENGRENAGEM E A MOEDA:
VANGUARDA E ESPAÇO CÊNICO NO
TEATRO DE VICTOR GARCIA NO
BRASIL. Autor: Newton de Souza.
Editora: Unesp. Quanto: R$ 22 (173
págs.).
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