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HENRI SALVADOR
Músico diz entender se "Chambre avec Vue", que vem lançar em abril, não for bem recebido no Brasil
"O brasileiro é mesmo um povo superior"
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE PARIS
Henri Salvador recebeu a Folha
no restaurante do hotel Intercontinental em Paris. Animado com a
possibilidade de ir ao Brasil promover seu disco, Salvador entrevistou quase tanto quanto foi entrevistado. Queria saber sobre a
violência do país, o poder da mídia e os ritmos nordestinos.
Adiantou seu descontentamento
com o axé, praticou o português
("tudo bom" e alguns palavrões) e
relembrou suas aventuras octogenárias.
(GABRIELA MELLÃO)
Folha - O que fez o sr. interromper sua aposentadoria?
Henri Salvador - Eu não ia mais
fazer disco, só queria saber de sol
e piscina. Mas, um dia, fui cantar
numa TV, e minha amiga Corinne Joubard viu. Ligou no dia seguinte e disse: "Com essa voz, você não tem o direito de parar. Tem
que fazer um disco". Respondi
que não, estava adorando minhas
férias. Ela não quis saber. "Pode
deixar, me ocupo de tudo."
Folha - E por que bossa nova?
Salvador - É a musica mais bonita do mundo. Recebi instruções
para fazer o disco com que sempre sonhei, sem me preocupar
com os custos. Segui à risca e, não
sei por que, agradou aos jovens.
Folha - Achou que iria atrair um
público de gosto mais apurado?
Salvador - Não pensei que o público tivesse avançado tanto musicalmente. Isso aconteceu graças
aos festivais de jazz. Agora a música que me agrada também agrada a todos. Antes, na França, as
pessoas não compreendiam esse
tipo de batida. A música francesa
tem toda uma influência americana do rock'n'roll e do rap (faz careta) que atrasa. Não gosto muito.
Folha - Mas foi o sr. mesmo quem
introduziu o rock na França.
Salvador - Foi uma brincadeira
que pegou. Fazia para me divertir,
mas gostaram. Uma pena (risos).
Folha - Como se sente sendo uma
das inspirações da bossa nova?
Salvador - Quando me dou conta de que, graças a uma pequena
música minha, fizeram a bossa
nova, fico muito feliz. Mas, enfim,
o verdadeiro autor é mesmo Tom
Jobim. Tiro o chapéu para ele.
Folha - Como o sr. acha que o brasileiro vai receber sua bossa nova?
Salvador - Amaria ser bem recebido, mas entenderia uma reação
contrária. O brasileiro é realmente superior. Lembro como qualquer pessoa podia fazer um samba, bastava ter uma caixa de fósforos. Só posso ter respeito e admiração por um povo como esse.
Folha - Porque seu disco anterior,
"Monsieur Henri", não deu certo?
Salvador - Estava cercado de
gente que não entendia nada de
música e fui obrigado a fazer um
disco de rock, para agradar a não
sei que público. Foi um desgosto.
Folha - "Chambre avec Vue" é a
antítese de seu trabalho anterior.
O sr. se sente renascido?
Salvador - Fazer esse disco foi
prazer, não trabalho. E é claro que
o sucesso muda a vida. Tenho pedido de turnês na Itália, Espanha e
até nos EUA. Será divertido retornar ao palco -mas não mais do
que dois shows por semana. Para
não cansar o velho senhor...
Folha - O sr. cercou-se de jovens
para o disco. Por que então divide
autoria e microfone com Françoise
Hardy em "Le Fou de la Reine"?
Salvador - É uma dificuldade encontrar bons letristas na França.
Os velhos não têm mais nada no
coração, e os jovens só querem saber de música americana. Eu tinha gostado muito da versão que
Françoise Hardy havia feito de
uma música de Jean Mohain. Estava trabalhando com o filho dela,
Thomas Dutronc, que também
compôs. Então resolvi convidá-la
para fazer uma letra para uma
melodia minha. Ela me disse que
estava com dificuldades e só fazia
uma música por ano. Eu respondi: "Pois então é a minha!". Dois
dias depois, me entregou "Le Fou
de la Reine", e eu emendei: "Você
não quer cantá-la também?".
Folha - O sr. disse que esse disco
não é o seu último desafio. Quais
são seus planos?
Salvador - (Risos.) Tenho outras
idéias. Já estamos na marca dos
600 mil discos vendidos. Tenho
que esperar mais, até 1,5 milhão,
talvez. Isso é bom, porque me dá
tempo para preparar o próximo.
Disseram-me que no Brasil o disco é uma coisa muito importante
e é possível vender 1 milhão em
uma semana. Não sabia.
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