São Paulo, segunda-feira, 26 de março de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RÉPLICA

Festival faz de Curitiba vitrine para teatro do país

VICTOR ARONIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Festival de Teatro de Curitiba nasceu, em 1992, com a proposta de ser uma mostra do que se produz nas artes cênicas no país. Dez anos depois, a proposta se mantém inalterada. Em 92, o FTC teve 11 espetáculos. Neste ano, são mais de 120, o que permite ao público conhecer trabalhos de 11 Estados brasileiros, do Acre ao Rio Grande do Sul.
E essa é a proposta: trazer os espetáculos, respeitando o direito de escolha do público e da crítica. E é esse princípio de respeito ao público e à crítica que norteia a seleção dos espetáculos da Mostra Oficial do FTC -uma seleção submetida a uma curadoria que nos acompanha há dez anos. São curadores que têm um trabalho, uma história e um envolvimento com o teatro brasileiro reconhecidos e respeitados nacionalmente.
Macksen Luiz, do "Jornal do Brasil"; Alberto Guzik, do "Jornal da Tarde"; Danilo Santos de Miranda, do Sesc SP; e Lúcia Camargo, hoje na diretoria do Teatro Municipal de São Paulo, são nomes pelos quais o Festival de Teatro de Curitiba tem um profundo respeito. Há que se agradecer, publicamente, a esses curadores, por trazerem seu conhecimento e sua dedicação ao festival.
Em 1998, sempre dentro da proposta de reunir o que se faz em teatro no Brasil, buscando uma fórmula de abrir novas oportunidades a companhias de teatro de todo país e permitir que o público tivesse mais opções de escolha, o FTC criou o Fringe, nos moldes do que se faz, há mais de 50 anos, em Edimburgo, na Escócia. Naquele ano, apenas sete companhias participaram do Fringe.
O resultado foi tão positivo que, quatro anos depois, mais de 300 projetos foram inscritos para participar da edição do Fringe de 2001. Apenas por uma questão de espaço, porque é preciso encontrar espaços que atendam às necessidades das companhias, esta quarta edição do Fringe tem 104 espetáculos. Se mais espaços estivessem disponíveis, mais espetáculos seriam apresentados, porque tanto Fringe quanto a Mostra Oficial mantêm, e manterão, o princípio de respeito ao direito do público de fazer a sua escolha.
Certamente existiram falhas, porque um evento desse porte e que respeita a opinião do público e da crítica é também resultado de um aprendizado permanente e da busca constante de acertar. E toda crítica, quando fundamentada e honesta, sempre foi e sempre será bem-vinda, porque tanto quanto o aplauso sincero, ela é instrumento de aperfeiçoamento.
O FTC surgiu numa época de escassos investimentos em cultura no país e foram precisos muito esforço e fé no próprio trabalho para provar que a idéia era viável. Mas não faltou quem acreditasse nessa idéia desde o primeiro momento. E, desde 1992, o festival vem reunindo nomes de peso no cenário nacional, o teatro já consagrado pelo público e pela crítica e, também, novos diretores, companhias e propostas.
Ao mesmo tempo em que trouxe diretores já consagrados, o festival mostrou nomes que, por seu trabalho, rapidamente alcançariam merecido destaque no quadro nacional. Muitos consagrados diretores de teatro brasileiro só se apresentaram em Curitiba durante o festival, o que permite pensar que, não fosse essa mostra, talvez o público curitibano não tivesse oportunidade de ver, na cidade, o trabalho desses diretores.
É o caso de Antônio Araújo, diretor da Trilogia Bíblica ("O Paraíso Perdido", "O Livro de Jó" e "Apocalipse 1,11"), que, além de em São Paulo, só apresentou a trilogia completa na capital paranaense, na programação do FTC.
"O Livro de Jó" revelou o ator Matheus Nachtergaele, que volta nesta décima edição em "A Controvérsia", direção de Paulo José.
E o que se vê hoje em Curitiba, nesta décima edição do Festival de Teatro (que começou em 22 de março e vai até 1º de abril), é uma efervescência cultural inimaginável há dez anos. Neste momento, a mostra do teatro brasileiro em Curitiba motiva o debate, o questionamento, a troca de idéias e experiências.
O público está tendo a oportunidade de escolher entre mais de 480 apresentações de teatro e uma variada gama de eventos especiais, entre eles debates, oficinas, exposições e encontros culturais. Neste momento, Curitiba se transforma numa verdadeira vitrine do teatro que, com ele, traz a literatura, a música, a dança e as artes plásticas, num trabalho que, sem dúvida nenhuma, merece respeito.


Victor Aronis é diretor-geral do Festival de Teatro de Curitiba



Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Relâmpagos - João Gilberto Noll: Colono
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.