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RELÂMPAGOS
Colono
João Gilberto Noll
Ele caminhava bronqueado, sem parar. Na esquina estancou, cuspiu o azedume colossal. Abriu a camisa; no peito, a graxa do suor. Vinha da
colônia alemã. Um terno preto, de luterano, prostrava-se
no barro do seu cérebro, ali
na Voluntários com a Senhor
dos Passos, depois de um cinema pornô... Ficou chocando a irritação, os frangalhos
do passaporte no bolso, sem
ter país pra ir, endereço pra
dar... Veio-lhe à baila um domingo na Estância Velha, no
ermo de um final de tarde,
uma idéia toda esganiçada na
moleira, a latejar. Aí desceu-lhe o pensamento pelo corpo
com tal furor que, ultrapassando a bexiga, já não se
aguentando mais, acabou por
lhe explodir debaixo da calça,
como um mar! Em vez de gemer, ele sorriu, enfim, bobamente, para o ar...
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