São Paulo, segunda-feira, 26 de março de 2001

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RELÂMPAGOS

Colono

João Gilberto Noll

Ele caminhava bronqueado, sem parar. Na esquina estancou, cuspiu o azedume colossal. Abriu a camisa; no peito, a graxa do suor. Vinha da colônia alemã. Um terno preto, de luterano, prostrava-se no barro do seu cérebro, ali na Voluntários com a Senhor dos Passos, depois de um cinema pornô... Ficou chocando a irritação, os frangalhos do passaporte no bolso, sem ter país pra ir, endereço pra dar... Veio-lhe à baila um domingo na Estância Velha, no ermo de um final de tarde, uma idéia toda esganiçada na moleira, a latejar. Aí desceu-lhe o pensamento pelo corpo com tal furor que, ultrapassando a bexiga, já não se aguentando mais, acabou por lhe explodir debaixo da calça, como um mar! Em vez de gemer, ele sorriu, enfim, bobamente, para o ar...


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