São Paulo, segunda-feira, 26 de março de 2001

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10º FESTIVAL DE TEATRO DE CURITIBA

"UM TREM CHAMADO DESEJO"

Montagem mais recente do grupo mineiro estréia hoje na Mostra Oficial do festival

Grupo Galpão mescla musical e cinema

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
O ator Sandy Grierson em cena da montagem "Pequeno Réquiem para Kantor"


VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Festival com cerca de 120 espetáculos, Curitiba é cenário ideal para "Um Trem Chamado Desejo", montagem mais recente do grupo Galpão, de Belo Horizonte, que estréia hoje na Mostra do Teatro Contemporâneo.
A comédia musical narra as peripécias de uma trupe de teatro, a Alcantil Alterosas, para sobreviver artística e financeiramente. Tudo se passa na capital mineira dos anos 1920, quando a arte da representação nos palcos sofre abalo por causa do cinema.
"O espetáculo fala da angústia que cerca atores e companhias na tarefa de manter a presença fundamental do teatro na história da humanidade", afirma o diretor Chico Pelúcio, 41.
"Um Trem Chamado Desejo" nasceu da necessidade de o Galpão aprofundar questões éticas e estéticas em torno do ofício, daí a concepção que coloca o espectador sob o privilegiado ponto de vista da coxia, dos bastidores. O recurso do teatro dentro do teatro está na origem no grupo, criado há 18 anos ("Romeu e Julieta").
O dramaturgo Luís Alberto de Abreu concluiu o texto por meio do "processo colaborativo", no qual escreve a partir dos ensaios com os atores, que propõem o argumento. Abreu tem outra peça mais recente, "Maria Peregrina", montada na Mostra Fringe.
A música é composta pelo carioca Tim Rescala, com quem Pelúcio montou "Opereta - O Homem Que Sabia Português", encenada no Festival de Teatro de Curitiba (FTC), dois anos atrás, pela Companhia Burlantins.
"Tentamos tratar a comédia musical de forma mais poética e cômica possível. Mesmo as pessoas que não têm envolvimento com o teatro irão embarcar na história", diz Pelúcio, que também integra o elenco ao lado de Eduardo Moreira, Teuda Bara, Fernanda Vianna e outros.
A contracenação com o cinema se dá por meio da projeção do curta "Cenas de Um Casamento", história de traição conjugal cujo título remete à peça e filme homônimos do diretor sueco Ingmar Bergman. O filme de oito minutos é dirigido por André Amparo, sob roteiro de Marcelo Braga. No palco, os figurinos de Márcio Medina remetem aos anos 20.
Com "Um Trem Chamado Desejo" (emprestado do drama "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee Williams), o Galpão quer aprofundar sua pesquisa de linguagem do teatro popular, segundo Pelúcio, com uma comédia musical que tem no conflito da fictícia Alcantil das Alterosas (como montar um espetáculo do gênero sem abdicar da trajetória de Minas Gerais, seu ouro, suas igrejas?) o seu próprio dilema.
A temporada em São Paulo está prevista para junho.


O jornalista Valmir Santos viaja a convite da organização do FTC



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