São Paulo, segunda-feira, 26 de março de 2001

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"COPENHAGEN'

Bom teatro, da física quântica à poesia

KIL ABREU
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Incerteza e complementaridade como princípios da física, levados ao universo da discussão ética, fundamentam "Copenhagen", o texto de Michael Frayn estreado em Curitiba. O autor supõe o que teria acontecido no encontro entre Werner Heinsenberg e Niels Bohr -pioneiros da teoria quântica -em 1941, na Dinamarca ocupada pelos nazistas.
Os dois físicos estão na zona de atrito, científica e histórica (mas também afetiva) que antecipa a criação da bomba atômica.
A montagem dirigida por Marco Antônio Rodrigues conta com dois grandes atores, Oswaldo Mendes e Carlos Palma, amparados por Selma Luchesi. Os três defendem os pontos de vista de seus personagens com extremo rigor.
No entanto, a dinâmica frenética da atuação, que dá o tom da cena, exige um olhar rigoroso do público. O espetáculo comunica menos quando acredita que a platéia acompanha incondicionalmente o ritmo em que chegam as informações que vêm do palco.
Em "Um Porto para Elisabeth Bishop", de Martha Góes, Regina Braga toma a insegurança, o humor e a sensibilidade extrema da poeta americana, no período em que viveu no Brasil. Tendo como fundo os anos 50 e 60, a dramaturga dá o foco no olhar estrangeiro de Bishop, seu interesse crescente pelo país e a curiosidade "antropológica" sobre o comportamento brasileiro.
As informações sobre a conjuntura política do período chegam à cena mais por acidente, através da companheira de Elisabeth, a paisagista Lota Macedo. O cenário recria estilemas arquitetônicos da época, porém limita o movimento da dramaturgia, que antena a sintonia fina da linguagem poética, indicadora da abertura, não da circunscrição de sentido.
A deliciosa intromissão lírica que costura a narrativa vai encontrar seu "porto seguro" na luz de Wagner Freire, que acompanha de perto as pequenas epifanias criadas em cena por Regina Braga/Elisabeth Bishop.
No Fringe, entre as montagens que chamam a atenção está Túfuns, de Mariana Muniz. Apresentado no acanhado Teatro Rodrigo de Oliveira, o espetáculo é um empolgante depoimento na forma do teatro-dança, a partir da poesia de Ferreira Gullar.
Mariana traz na "luta corporal" seu universo de refrações simbólicas, que busca a trivialidade da palavra-gesto para colocá-la em xeque, através da linguagem, mas sem pompa nem grandes formalidades, como gosta o poeta maranhense.


Avaliação: Copenhagen    

Um Porto para Elisabeth Bishop    

Túfuns    




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