|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"COPENHAGEN'
Bom teatro, da física quântica à poesia
KIL ABREU
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Incerteza e complementaridade como princípios da física,
levados ao universo da discussão
ética, fundamentam "Copenhagen", o texto de Michael Frayn estreado em Curitiba. O autor supõe o que teria acontecido no encontro entre Werner Heinsenberg e Niels Bohr -pioneiros da
teoria quântica -em 1941, na Dinamarca ocupada pelos nazistas.
Os dois físicos estão na zona de
atrito, científica e histórica (mas
também afetiva) que antecipa a
criação da bomba atômica.
A montagem dirigida por Marco Antônio Rodrigues conta com
dois grandes atores, Oswaldo
Mendes e Carlos Palma, amparados por Selma Luchesi. Os três defendem os pontos de vista de seus
personagens com extremo rigor.
No entanto, a dinâmica frenética da atuação, que dá o tom da cena, exige um olhar rigoroso do
público. O espetáculo comunica
menos quando acredita que a platéia acompanha incondicionalmente o ritmo em que chegam as
informações que vêm do palco.
Em "Um Porto para Elisabeth
Bishop", de Martha Góes, Regina
Braga toma a insegurança, o humor e a sensibilidade extrema da
poeta americana, no período em
que viveu no Brasil. Tendo como
fundo os anos 50 e 60, a dramaturga dá o foco no olhar estrangeiro de Bishop, seu interesse crescente pelo país e a curiosidade
"antropológica" sobre o comportamento brasileiro.
As informações sobre a conjuntura política do período chegam à
cena mais por acidente, através da
companheira de Elisabeth, a paisagista Lota Macedo. O cenário
recria estilemas arquitetônicos da
época, porém limita o movimento da dramaturgia, que antena a
sintonia fina da linguagem poética, indicadora da abertura, não da
circunscrição de sentido.
A deliciosa intromissão lírica
que costura a narrativa vai encontrar seu "porto seguro" na luz de
Wagner Freire, que acompanha
de perto as pequenas epifanias
criadas em cena por Regina Braga/Elisabeth Bishop.
No Fringe, entre as montagens
que chamam a atenção está Túfuns, de Mariana Muniz. Apresentado no acanhado Teatro Rodrigo de Oliveira, o espetáculo é
um empolgante depoimento na
forma do teatro-dança, a partir da
poesia de Ferreira Gullar.
Mariana traz na "luta corporal"
seu universo de refrações simbólicas, que busca a trivialidade da
palavra-gesto para colocá-la em
xeque, através da linguagem, mas
sem pompa nem grandes formalidades, como gosta o poeta maranhense.
Avaliação: Copenhagen
Um Porto para Elisabeth
Bishop
Túfuns
Texto Anterior: Curitibanas Próximo Texto: "Pequeno Réquiem para Kantor": Ariel Theatre resgata Kantor entre sonho e memória Índice
|