São Paulo, segunda-feira, 26 de março de 2001

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"PEQUENO RÉQUIEM PARA KANTOR"

Ariel Theatre resgata Kantor entre sonho e memória

SÉRGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Tadeusz Kantor é inesquecível. Presente em cena, tecia seus espetáculos com fragmentos de suas memórias de infância, e da platéia via-se o sonho e o sonhador ao mesmo tempo.
Para homenagear seu mestre, Zofia Kalinska criou um espetáculo como um réquiem deve ser: sóbrio, digno e comovente. Um quarteto de cordas quase adolescente (liderado pelo compositor-prodígio Bartosz Chajdecki) ensaia em uma cave usada como depósito da Cricot 2, companhia que fôra de Kantor. Como em um Dibuk, cerimônia judaica de convocação dos mortos, surgem personagens de suas montagens: a moça morta, a recorrente figura paterna do soldado, os golens bufos de Classes Mortas (a prostituta sonâmbula e tumor mozgowicz, feitos pela diretora e por Mira Rychlicka), e o próprio Kantor adolescente e sua mãe (Dera Cooper que completa o trio de históricas atrizes do Cricot 2). Kalinska contrapõe a eficiência dos jovens músicos com a apaixonante vulnerabilidade da velha geração. Na intersecção dos dois mundos, há Sandy Grierson, aluno de Kalinska, que apesar de jovem é digno de encarnar Kantor, com sua arrebatadora densidade. Ao final da cerimônia, há uma lista de saudosos artistas, como Nelson Rodrigues e Plínio Marcos, e são abertos guarda-chuvas, gesto em que Kantor via "a defesa da pobre vida deslocada e dos restos de poesia e esperança".
Em "Pequeno Réquiem para Kantor", a Ariel Theatre oferece o essencial da proposta de um criador eterno: um pouco incômoda, um pouco irreverente, e intensamente humana.


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