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"PEQUENO RÉQUIEM PARA KANTOR"
Ariel Theatre resgata Kantor entre sonho e memória
SÉRGIO SALVIA COELHO
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
Tadeusz Kantor é inesquecível. Presente em cena, tecia
seus espetáculos com fragmentos
de suas memórias de infância, e
da platéia via-se o sonho e o sonhador ao mesmo tempo.
Para homenagear seu mestre,
Zofia Kalinska criou um espetáculo como um réquiem deve ser:
sóbrio, digno e comovente. Um
quarteto de cordas quase adolescente (liderado pelo compositor-prodígio Bartosz Chajdecki) ensaia em uma cave usada como depósito da Cricot 2, companhia
que fôra de Kantor. Como em um
Dibuk, cerimônia judaica de convocação dos mortos, surgem personagens de suas montagens: a
moça morta, a recorrente figura
paterna do soldado, os golens bufos de Classes Mortas (a prostituta
sonâmbula e tumor mozgowicz,
feitos pela diretora e por Mira
Rychlicka), e o próprio Kantor
adolescente e sua mãe (Dera Cooper que completa o trio de históricas atrizes do Cricot 2). Kalinska
contrapõe a eficiência dos jovens
músicos com a apaixonante vulnerabilidade da velha geração. Na
intersecção dos dois mundos, há
Sandy Grierson, aluno de Kalinska, que apesar de jovem é digno
de encarnar Kantor, com sua arrebatadora densidade. Ao final da
cerimônia, há uma lista de saudosos artistas, como Nelson Rodrigues e Plínio Marcos, e são abertos guarda-chuvas, gesto em que
Kantor via "a defesa da pobre vida
deslocada e dos restos de poesia e
esperança".
Em "Pequeno Réquiem para
Kantor", a Ariel Theatre oferece o
essencial da proposta de um criador eterno: um pouco incômoda,
um pouco irreverente, e intensamente humana.
Avaliação:
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