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O espetáculo do descobrimento
Municipal de SP estréia hoje versão multimídia de "Colombo", sobre o navegador genovês, última ópera composta por Carlos Gomes
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Na ópera "Colombo", Antônio
Carlos Gomes (1836-1896) vê no
navegador um misto de sonhador
e profeta que, inspirado por uma
visão, entra para a história como
descobridor do Novo Mundo.
Antes da estréia hoje, no Teatro
Municipal de SP, a montagem
-orçada em R$ 600 mil, envolvendo cerca de 300 profissionais- enfrentou, assim como o
protagonista, uma rota de navegação marcada por percalços.
Devido à agenda da Sinfônica
Municipal (OSM), o tempo é curto. Os músicos têm de ensaiar antes em pequenos grupos, na cúpula do teatro. Os primeiros ensaios
com orquestra, coro e solistas
-sem cenários- foram na sexta
e na segunda passadas.
Diante da OSM está o maestro
Roberto Duarte, 62, convidado
pelo titular e diretor-artístico do
Municipal, Ira Levin. "É importante que a orquestra experimente outras regências", afirma Levin.
Com outras versões de "Colombo" no currículo, Duarte é tido
como especialista em Carlos Gomes, embora rejeite o rótulo, e já
regeu a OSM em outras vezes.
"O tempo é exíguo. Como se
tratam de profissionais, já conhecem as partituras, mas é preciso
dar forma", diz Duarte. Há pressa.
Nos ensaios, quase não faz pausas para pensar: aponta a correção e marca de onde se retomará a
partitura. Exige, mas demonstra
paciência. "Não posso conduzir
as coisas pela chibata. Somos quase 200 músicos", explica.
Na platéia, o diretor cênico William Pereira,40, assiste a tudo e
cronometra cada passo. Quer os
tempos exatos dos trechos que terão projeções -rostos de Colombo e Gomes, mares, caravelas, trovões- num telão ao fundo e em
outro que cobre o palco em algumas cenas.
A OSM também busca se corrigir -e se ouvir. Um oboísta pede
ao colega do trombone que toque
mais baixo, pois não consegue escutar o que toca. Parece distante
do quadro de ópera romântica
italiana, na qual se insere a obra
de Gomes, o fato de o trombonista usar uma camiseta da banda de
hard rock Aerosmith no ensaio.
Na terça, vêem-se os cenários
-a corte, o navio- e as projeções, mas muitos figurinos não
estão prontos. Muitos sobem à cena em trajes civis. Na montagem,
alguns se caracterizam como nobres de 1492, e outros estarão de
smoking. Sinal de modernização.
"Acho que a salvação da ópera
está na subversão dela. Tento trazer mais o elemento figurativo do
que o decorativo. Não fizemos
uma pesquisa para saber o que se
vestia em 1492, mas o público vai
reconhecer Colombo", brinca Pereira.
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