São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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O espetáculo do descobrimento

Municipal de SP estréia hoje versão multimídia de "Colombo", sobre o navegador genovês, última ópera composta por Carlos Gomes

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REDAÇÃO

Na ópera "Colombo", Antônio Carlos Gomes (1836-1896) vê no navegador um misto de sonhador e profeta que, inspirado por uma visão, entra para a história como descobridor do Novo Mundo. Antes da estréia hoje, no Teatro Municipal de SP, a montagem -orçada em R$ 600 mil, envolvendo cerca de 300 profissionais- enfrentou, assim como o protagonista, uma rota de navegação marcada por percalços.
Devido à agenda da Sinfônica Municipal (OSM), o tempo é curto. Os músicos têm de ensaiar antes em pequenos grupos, na cúpula do teatro. Os primeiros ensaios com orquestra, coro e solistas -sem cenários- foram na sexta e na segunda passadas.
Diante da OSM está o maestro Roberto Duarte, 62, convidado pelo titular e diretor-artístico do Municipal, Ira Levin. "É importante que a orquestra experimente outras regências", afirma Levin. Com outras versões de "Colombo" no currículo, Duarte é tido como especialista em Carlos Gomes, embora rejeite o rótulo, e já regeu a OSM em outras vezes.
"O tempo é exíguo. Como se tratam de profissionais, já conhecem as partituras, mas é preciso dar forma", diz Duarte. Há pressa.
Nos ensaios, quase não faz pausas para pensar: aponta a correção e marca de onde se retomará a partitura. Exige, mas demonstra paciência. "Não posso conduzir as coisas pela chibata. Somos quase 200 músicos", explica.
Na platéia, o diretor cênico William Pereira,40, assiste a tudo e cronometra cada passo. Quer os tempos exatos dos trechos que terão projeções -rostos de Colombo e Gomes, mares, caravelas, trovões- num telão ao fundo e em outro que cobre o palco em algumas cenas.
A OSM também busca se corrigir -e se ouvir. Um oboísta pede ao colega do trombone que toque mais baixo, pois não consegue escutar o que toca. Parece distante do quadro de ópera romântica italiana, na qual se insere a obra de Gomes, o fato de o trombonista usar uma camiseta da banda de hard rock Aerosmith no ensaio.
Na terça, vêem-se os cenários -a corte, o navio- e as projeções, mas muitos figurinos não estão prontos. Muitos sobem à cena em trajes civis. Na montagem, alguns se caracterizam como nobres de 1492, e outros estarão de smoking. Sinal de modernização.
"Acho que a salvação da ópera está na subversão dela. Tento trazer mais o elemento figurativo do que o decorativo. Não fizemos uma pesquisa para saber o que se vestia em 1492, mas o público vai reconhecer Colombo", brinca Pereira.


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