São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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ERUDITO

Estréia de "Colombo" recebeu vaias no Rio em 1892, devido ao formato e às convicções monarquistas do compositor

República afundou ambições de Gomes

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Colombo" foi a nona e última ópera composta por Carlos Gomes. Ele não a chamava de ópera, mas de "poema vocal-sinfônico".
Queria inscrevê-la como composição a ser apresentada nos EUA, durante a Grande Exposição Industrial de Chicago. Não deu certo. Queria ainda que a peça fosse montada em Gênova, que evocaria Colombo nos 400 anos do descobrimento da América.
Também não deu certo, porque Giuseppe Verdi, ainda influente em qualquer decisão sobre música na Itália, manobrou para que escolhessem uma partitura de seu protegido Alberto Franchetti.
Foi assim que, deixando de ser interpretada em duas cidades estrangeiras para as quais a projetou, "Colombo" acabou estreando no Rio, em 1892, três anos após a Proclamação da República.
E mais uma vez não deu certo. O público queria ópera e não um oratório -com os cantores postados diante da orquestra, sem cenários e figurinos. Carlos Gomes, nas duas décadas anteriores um inequívoco herói nacional, amargou pela primeira vez estrondosas vaias a uma composição sua.
A reação foi política também; Gomes era era um monarquista convicto. Sua ambição era dirigir o Conservatório Nacional de Música. Acabou, no entanto, como diretor do conservatório de Belém do Pará, onde um câncer o matou em 16 de setembro de 1896.
Marcus Góes, um de seus biógrafos, diz que, apesar de suas desventuras, "Colombo" foi uma das peças formalmente mais bem feitas do repertório. Há um equilíbrio impecável no tratamento das vozes e da orquestra, uma orquestração maleável aos momentos de dramaticidade e lirismo. Algo digno de um "sucessor de Verdi", que o brasileiro e também mulato -e por isso um "outsider" entre os italianos- finalmente não foi.
Jamil Maluf, que regeu a última montagem de "Colombo" no Teatro Municipal, em setembro de 1992, diz se tratar de um trabalho "no qual Carlos Gomes não se envergonhou em se colocar como discípulo e seguidor de Verdi".
A construção da peça musical também ocorre, segundo Maluf, pela existência de um argumento verossímil, o que não é o caso, por exemplo, de "Lo Schiavo" (O Escravo, de 1889), em que a história é esquisita, porque a escravidão vitima o índio e não o negro.


COLOMBO. Ópera de Carlos Gomes. OSM, Coral Lírico Paulistano e solistas. Regência: Roberto Duarte. Direção: William Pereira. Onde: Teatro Municipal de SP (pça. Ramos de Azevedo, s/nš, centro, 0/xx/ 11/222-8698). Quando: hoje e amanhã, às 21h; e dom., às 17h. Até dom. Quanto: de R$ 15 a R$ 100.


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