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ERUDITO
Estréia de "Colombo" recebeu vaias no Rio em 1892, devido ao formato e às convicções monarquistas do compositor
República afundou ambições de Gomes
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Colombo" foi a nona e última
ópera composta por Carlos Gomes. Ele não a chamava de ópera,
mas de "poema vocal-sinfônico".
Queria inscrevê-la como composição a ser apresentada nos
EUA, durante a Grande Exposição Industrial de Chicago. Não
deu certo. Queria ainda que a peça fosse montada em Gênova, que
evocaria Colombo nos 400 anos
do descobrimento da América.
Também não deu certo, porque
Giuseppe Verdi, ainda influente
em qualquer decisão sobre música na Itália, manobrou para que
escolhessem uma partitura de seu
protegido Alberto Franchetti.
Foi assim que, deixando de ser
interpretada em duas cidades estrangeiras para as quais a projetou, "Colombo" acabou estreando no Rio, em 1892, três anos após
a Proclamação da República.
E mais uma vez não deu certo. O
público queria ópera e não um
oratório -com os cantores postados diante da orquestra, sem cenários e figurinos. Carlos Gomes,
nas duas décadas anteriores um
inequívoco herói nacional, amargou pela primeira vez estrondosas
vaias a uma composição sua.
A reação foi política também;
Gomes era era um monarquista
convicto. Sua ambição era dirigir
o Conservatório Nacional de Música. Acabou, no entanto, como
diretor do conservatório de Belém do Pará, onde um câncer o
matou em 16 de setembro de 1896.
Marcus Góes, um de seus biógrafos, diz que, apesar de suas
desventuras, "Colombo" foi uma
das peças formalmente mais bem
feitas do repertório. Há um equilíbrio impecável no tratamento das
vozes e da orquestra, uma orquestração maleável aos momentos de
dramaticidade e lirismo. Algo
digno de um "sucessor de Verdi",
que o brasileiro e também mulato
-e por isso um "outsider" entre
os italianos- finalmente não foi.
Jamil Maluf, que regeu a última
montagem de "Colombo" no
Teatro Municipal, em setembro
de 1992, diz se tratar de um trabalho "no qual Carlos Gomes não se
envergonhou em se colocar como
discípulo e seguidor de Verdi".
A construção da peça musical
também ocorre, segundo Maluf,
pela existência de um argumento
verossímil, o que não é o caso, por
exemplo, de "Lo Schiavo" (O Escravo, de 1889), em que a história
é esquisita, porque a escravidão
vitima o índio e não o negro.
COLOMBO. Ópera de Carlos Gomes.
OSM, Coral Lírico Paulistano e solistas.
Regência: Roberto Duarte. Direção:
William Pereira. Onde: Teatro Municipal
de SP (pça. Ramos de Azevedo, s/nš,
centro, 0/xx/ 11/222-8698). Quando:
hoje e amanhã, às 21h; e dom., às 17h.
Até dom. Quanto: de R$ 15 a R$ 100.
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