São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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CINEMA

Curta adapta versos de Drummond

DA REDAÇÃO

A faixa Curta STV, na Rede SescSenac, é boa oportunidade para dar uma conferida na produção nacional de curtas-metragens, que, muitas vezes não alcança o público, a não ser por meio de festivais e mostras.
A atração de hoje, às 23h, é o premiado "Manhã", ficção de Zeca Pires e Norberto Depizzolatti, com roteiro de Tabajara Ruas.
Produzido em 1989, o curta é livremente baseado no poema "Morte do Leiteiro", obra-prima de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Nos versos do poeta de Itabira (MG), um leiteiro dedicado morre baleado, após ser confundido com um ladrão.
A tragédia se repete em "Manhã" para entremear a vida simples de pai e filho, leiteiros de uma cidadezinha na serra catarinense, com um contrastante casal de amantes, bem urbano, com direito a drogas e algum sexo.
Como a história original do poema ganha outros aspectos no roteiro de Ruas, é por alguns detalhes do cenário que se reconhecem os versos de Drummond como "pais" da história: "vaso de flor no caminho", "o revólver da gaveta" etc.
Há, porém, um cuidado especial com a última imagem do poema, calcada nos versos magistrais: "Escorre uma coisa espessa/ que é leite, sangue... não sei/ (...)/ duas cores se procuram,/ suavemente se tocam,/ amorosamente se enlaçam,/ formando um terceiro tom/ a que chamamos aurora".
Em entrevista, o diretor Zeca Pires conta a Juliana Garavatti como surgiu a idéia de usar o poema de Drummond e mostra uma prova da anuência do escritor em relação ao projeto: um bilhete em que o poeta autoriza a adaptação da obra e diz torcer pelo seu êxito.
E houve. "Manhã" arrebatou os prêmios de melhor ator (para o leiteiro pai, Waldir Brazil) e melhor som no 6º Rio Cine Festival e melhor curta de ficção na Jornada Internacional da Bahia. Uma trajetória que surpreendeu Pires, já que se tratava do seu primeiro trabalho. (MDA)


CURTA STV - MANHÃ. Quando: hoje, às 23h, na Rede SescSenac.


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