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LIVROS
POLICIAL
Terceiro livro do personagem criado pelo músico dos Titãs é lançado
"Bellini e os Espíritos" testa o fígado do detetive de Bellotto
JOCA REINERS TERRON
ESPECIAL PARA A FOLHA
E Remo Bellini chega ao seu
terceiro caso. Se em "Bellini e
os Espíritos" a longevidade da
carreira do combalido investigador paulistano criado por Tony
Bellotto não demonstra exatamente sinais de esgotamento, é
impossível afirmar o mesmo de
seu fígado. Afinal, em 266 páginas
ele esvazia garrafas de saquê, uísques, champanhes, cervejas e outros venenos, com uma sede mais
à altura do Saara do que do clima
úmido das imediações do Parque
Trianon, quartel-general do detetive bebum ouvinte de blues.
O excesso alcoólico parece ser
mesmo o maior problema para o
assistente de Dora Lobo, sexagenária adepta de dieta líquida semelhante ao de seu contratado.
Bellini perde a linha diversas vezes neste novo livro, indo ao banheiro aliviar-se tantas vezes
quanto vai ao bar. Mas o problema não morre aí, pois a bebida faz
com que Bellini seja relapso nas
investigações, perdendo-se em
engraçadas divagações sobre a
natureza do sexo, das mulheres e
da calvície a se alastrar no cocuruto, além de citar letras de blues e
usá-las como oráculos para elucidar os enigmas em torno de seu
umbigo de solteirão. Ao contrário
de outros notórios apreciadores
de combustíveis para a lógica policial (entre eles o Nero Wolfe, de
Rex Stout, e o inspetor Maigret, de
Simenon), Bellini segue a pista errada, deixando-se levar pelo sexto
sentido e por toda sorte de mulheres que vão surgindo ao longo da
história: casadas, menores de idade e peruas da terceira idade. O
apetite sexual do detetive é tão
vasto e variado quanto sua sede,
apesar das constantes frustrações.
E pelos passos largos que usa para
seguir calçando a jaca, não é difícil
deduzir que o pobre Bellini atravessa a crise dos 40 anos. Como
investigadores em crise conseguem investigar com proficiência
apenas seus próprios casos, temos
aqui um crime insolúvel.
Após a estranha morte do advogado Arlindo Galvet em plena
corrida de São Silvestre, Bellini e
Dora Lobo recebem um envelope
anônimo com US$ 5.000 e a sugestão de que o jurista atleta havia
sido assassinado, apesar da falta
de evidências. Os investigadores
saem a campo e, em meio às pistas e às digressões hedonistas de
Bellini, surge a cidade de São Paulo e sua diversidade étnica como
cenário. A linguagem de Bellotto,
sempre em chave chandleriana,
alterna o coloquialismo dos diálogos e da condução da narrativa
com frases de impacto. Nada convincente, porém, são os mimos
excessivos com que o autor trata
seu personagem, com mulheres a
dar com pau, presentinhos, contas pagas em restaurantes e total
ausência de porradas, mas Bellini
& Bellotto salvam-se ao soar do
gongo. A epígrafe de Chandler
ideal para este livro seria: "Um detetive de verdade nunca se casa".
Joca Reiners Terron é autor de "Hotel
Hell" (ed. Livros do Mal) e "Curva de Rio
Sujo" (ed. Planeta), entre outros livros
Bellini e os Espíritos
Autor: Tony Bellotto
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 35,50 (264 págs.)
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