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CINEMA - "PRÓXIMA PARADA WONDERLAND"
Banquinho e violão fazem fundo para comédia
LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada
Depois da interação "bonita" do
cinema brasileiro com Hollywood
("Central do Brasil", Oscar e tal),
chegou a hora e a vez de conferirmos a música nacional mostrando
seu valor para a indústria de filmes
americana.
Estréia hoje no país "Próxima
Parada Wonderland", produção
da estirpe independente de Sundance que põe o barquinho, o patinho, a tardinha e outros elementos
da nossa bossa nova como pano de
fundo de uma descolada comédia
romântica.
"Wonderland" teve grande destaque na Mostra Internacional de
Cinema de São Paulo, no ano passado.
À época do festival, o jovem diretor do filme, Brad Anderson, 34
anos, disse em entrevista à Folha
que usou a bossa nova por ela ser
um "ritmo alegre" (?!?), que casou
bem com a comédia sobre o amor
que é "Wonderland".
A história do filme, que inicia
com "Desafinado" e termina com
"Wave" (leia ao lado a crítica da
trilha sonora, já lançada no Brasil),
versa sobre destino.
Bem alinhavada por Anderson e
apresentando caras novas no elenco, a trama entrecuza as vidas de
dois frustrados na vida e principalmente no amor: uma enfermeira
de Boston que trabalha no turno
da madrugada e acaba de perder
seu namorado e um rapaz que acumula funções de mergulhador e de
encanador no aquário da cidade.
O papel do destino no filme é
aproximar vidas tão diferentes (diferentes é apelido: enquanto um
está acordado, o outro dorme),
mas que pensam e sofrem na mesma medida.
A engraçada história triste de
"Wonderland" acaba sendo muito
mais comédia para brasileiros,
principalmente por duas cenas.
A primeira é que, de repente, surge na história um galanteador
"brasileiro", que entra na vida da
solitária protagonista e oferece a
ela o paraíso.
"Vamos embora para o Brasil,
uma terra com o povo mais maravilhoso do mundo e onde se pode
comer peixe frito à beira do mar
todo dia", diz o romântico latino,
na verdade interpretado pelo ator
americano Alan Gelfant, que viveu
muito tempo na Colômbia. Quase
não dá para entender o português
que Alan fala (no filme, o protagonista tem o sobrenome de "Monteiro").
A outra cena foi na hora em que
Anderson dedicou toda uma sequência para seus atores discutirem a palavra brasileira "saudade", tema corrente da bossa nova e
que cuja palavra, segundo uma velha história, não tem uma exata
tradução em outras línguas.
Com a palavra, Brad Anderson,
na entrevista feita na época da
Mostra Internacional de São Paulo: "Eu sei dessa história. "Saudade"
é uma palavra que tem muitos sentidos. De algum modo, é a palavra
que descreve os sentimentos da
personagem principal. Ela está à
procura da felicidade, mas sabe
que ela não dura muito. É como
aquela música, "A Felicidade", que
diz que tristeza não tem fim, mas
felicidade, sim. Acho que o mais
perto que a tradução inglesa pode
chegar de "saudade" é com a palavra "melancholy", que é um maravilhoso e agridoce sentimento, algo como coisa boa e ao mesmo
tempo ruim. Falei alguma bobagem?".
Filme: Próxima Parada Wonderland
Produção: EUA, 1998
Direção: Brad Anderson
Com: Hope Davis, Philip Seymour Hoffman,
Alan Gelfant
Quando: estréia hoje nos cines SP Market 6,
Interlar Aricanduva 9, Espaço Unibanco 2,
Gemini 1
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