São Paulo, Sexta-feira, 26 de Março de 1999
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CINEMA - "PRÓXIMA PARADA WONDERLAND"
Banquinho e violão fazem fundo para comédia

LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada

Depois da interação "bonita" do cinema brasileiro com Hollywood ("Central do Brasil", Oscar e tal), chegou a hora e a vez de conferirmos a música nacional mostrando seu valor para a indústria de filmes americana.
Estréia hoje no país "Próxima Parada Wonderland", produção da estirpe independente de Sundance que põe o barquinho, o patinho, a tardinha e outros elementos da nossa bossa nova como pano de fundo de uma descolada comédia romântica.
"Wonderland" teve grande destaque na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no ano passado.
À época do festival, o jovem diretor do filme, Brad Anderson, 34 anos, disse em entrevista à Folha que usou a bossa nova por ela ser um "ritmo alegre" (?!?), que casou bem com a comédia sobre o amor que é "Wonderland".
A história do filme, que inicia com "Desafinado" e termina com "Wave" (leia ao lado a crítica da trilha sonora, já lançada no Brasil), versa sobre destino.
Bem alinhavada por Anderson e apresentando caras novas no elenco, a trama entrecuza as vidas de dois frustrados na vida e principalmente no amor: uma enfermeira de Boston que trabalha no turno da madrugada e acaba de perder seu namorado e um rapaz que acumula funções de mergulhador e de encanador no aquário da cidade.
O papel do destino no filme é aproximar vidas tão diferentes (diferentes é apelido: enquanto um está acordado, o outro dorme), mas que pensam e sofrem na mesma medida.
A engraçada história triste de "Wonderland" acaba sendo muito mais comédia para brasileiros, principalmente por duas cenas.
A primeira é que, de repente, surge na história um galanteador "brasileiro", que entra na vida da solitária protagonista e oferece a ela o paraíso.
"Vamos embora para o Brasil, uma terra com o povo mais maravilhoso do mundo e onde se pode comer peixe frito à beira do mar todo dia", diz o romântico latino, na verdade interpretado pelo ator americano Alan Gelfant, que viveu muito tempo na Colômbia. Quase não dá para entender o português que Alan fala (no filme, o protagonista tem o sobrenome de "Monteiro").
A outra cena foi na hora em que Anderson dedicou toda uma sequência para seus atores discutirem a palavra brasileira "saudade", tema corrente da bossa nova e que cuja palavra, segundo uma velha história, não tem uma exata tradução em outras línguas.
Com a palavra, Brad Anderson, na entrevista feita na época da Mostra Internacional de São Paulo: "Eu sei dessa história. "Saudade" é uma palavra que tem muitos sentidos. De algum modo, é a palavra que descreve os sentimentos da personagem principal. Ela está à procura da felicidade, mas sabe que ela não dura muito. É como aquela música, "A Felicidade", que diz que tristeza não tem fim, mas felicidade, sim. Acho que o mais perto que a tradução inglesa pode chegar de "saudade" é com a palavra "melancholy", que é um maravilhoso e agridoce sentimento, algo como coisa boa e ao mesmo tempo ruim. Falei alguma bobagem?".

Filme: Próxima Parada Wonderland Produção: EUA, 1998 Direção: Brad Anderson Com: Hope Davis, Philip Seymour Hoffman, Alan Gelfant Quando: estréia hoje nos cines SP Market 6, Interlar Aricanduva 9, Espaço Unibanco 2, Gemini 1


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