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São Paulo, sábado, 26 de abril de 2003

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DANÇA/CRÍTICA

O Vertigo entoa a lua minguante

INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

Gigantescas lentes de aumento para revelar detalhes e alterar proporções, ou microcâmeras para se perceber o "lado oculto" dos gestos -seja pelo detalhe, seja pela amplificação, "Luna" desloca nosso ponto de vista em busca de outro entendimento do corpo. A idéia é instigante, mas a coreografia de Ginette Laurin, dançada pelo O Vertigo, quarta-feira no Municipal, não leva a cabo, afinal, suas altas intenções.
Tudo começa com pequenos movimentos das mãos, da cabeça e dos pés; grupos aparecem e desaparecem, em diferentes lugares do palco, o jogo de luz criando "flashes" de movimento.
Bailarinos cruzam diversas vezes a cena, numa dança de apoios fluidos, por vezes acrobáticos. As imensas lentes surgem no palco e hiperexpõem detalhes fragmentados do corpo. São imagens oníricas, que relativizam, mas não acrescentam de fato novas percepções à dança.
As bodas de corpo e tecnologia atingem o maior grau de intensidade na cena em que cinco mulheres preenchem o palco com suas imensas saias vaporosas e transparentes. Aqui elas flutuam e escapam à realidade dos corpos e à gravidade da terra. Cena emblemática, onde uma das bailarinas canta uma canção à lua, termina na apoteose de projeção do vídeo sobre a imensa saia. Imagens de um universo surreal, que transformam o mundo à nossa frente.
Luz e cenário acrescentam força aos movimentos e à coreografia, que aqui e ali carece de maior elaboração. As sequências são repetitivas e justapostas, os gestos são abandonados para iniciar uma nova seção; seus desdobramentos não criam novos nexos.
Fora as grandes saias, o figurino, quase "roupa de rua", não empresta maior beleza aos corpos. E a música, uma seleção de diversos trechos (do barroco ao eletrônico), na maior parte do tempo é só fundo sonoro. Em momentos distintos, os bailarinos dizem textos, escritos por eles mesmos, que falam de "um núcleo atômico do tamanho de uma estrela" e abordam questões como "massa estelar", tecnologia eletrônica especializada e "intensidade da luz da lua cheia".
Capturar os fragmentos e sensações instáveis do corpo, para reposicioná-lo na dança, não é tarefa fácil. Em "Luna", Laurin põe em questão a realidade dos corpos, inventa uma verdade dos sonhos, busca examinar a matéria humana por dentro, no tempo e no espaço da dança. Mas a experiência singular esquiva-se na própria linguagem, que aqui não parece capaz de reinventar esse mundo de metamorfoses em que ela mesma se insere.


Luna
   Com: companhia O Vertigo Onde: Teatro Municipal do Rio (pça. Floriano, s/nš, tel: 0/xx/ 21/2262-3935) Quando: hoje, às 21h; amanhã, às 17h Quanto: de R$ 20 a R$ 80 Patrocinador: Embratel



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