|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DANÇA/CRÍTICA
O Vertigo entoa a lua minguante
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Gigantescas lentes de aumento para revelar detalhes
e alterar proporções, ou microcâmeras para se perceber o "lado
oculto" dos gestos -seja pelo detalhe, seja pela amplificação, "Luna" desloca nosso ponto de vista
em busca de outro entendimento
do corpo. A idéia é instigante, mas
a coreografia de Ginette Laurin,
dançada pelo O Vertigo, quarta-feira no Municipal, não leva a cabo, afinal, suas altas intenções.
Tudo começa com pequenos
movimentos das mãos, da cabeça
e dos pés; grupos aparecem e desaparecem, em diferentes lugares
do palco, o jogo de luz criando
"flashes" de movimento.
Bailarinos cruzam diversas vezes a cena, numa dança de apoios
fluidos, por vezes acrobáticos. As
imensas lentes surgem no palco e
hiperexpõem detalhes fragmentados do corpo. São imagens oníricas, que relativizam, mas não
acrescentam de fato novas percepções à dança.
As bodas de corpo e tecnologia
atingem o maior grau de intensidade na cena em que cinco mulheres preenchem o palco com
suas imensas saias vaporosas e
transparentes. Aqui elas flutuam e
escapam à realidade dos corpos e
à gravidade da terra. Cena emblemática, onde uma das bailarinas
canta uma canção à lua, termina
na apoteose de projeção do vídeo
sobre a imensa saia. Imagens de
um universo surreal, que transformam o mundo à nossa frente.
Luz e cenário acrescentam força
aos movimentos e à coreografia,
que aqui e ali carece de maior elaboração. As sequências são repetitivas e justapostas, os gestos são
abandonados para iniciar uma
nova seção; seus desdobramentos
não criam novos nexos.
Fora as grandes saias, o figurino, quase "roupa de rua", não
empresta maior beleza aos corpos. E a música, uma seleção de
diversos trechos (do barroco ao
eletrônico), na maior parte do
tempo é só fundo sonoro. Em momentos distintos, os bailarinos dizem textos, escritos por eles mesmos, que falam de "um núcleo
atômico do tamanho de uma estrela" e abordam questões como
"massa estelar", tecnologia eletrônica especializada e "intensidade
da luz da lua cheia".
Capturar os fragmentos e sensações instáveis do corpo, para reposicioná-lo na dança, não é tarefa fácil. Em "Luna", Laurin põe
em questão a realidade dos corpos, inventa uma verdade dos sonhos, busca examinar a matéria
humana por dentro, no tempo e
no espaço da dança. Mas a experiência singular esquiva-se na
própria linguagem, que aqui não
parece capaz de reinventar esse
mundo de metamorfoses em que
ela mesma se insere.
Luna
Com: companhia O Vertigo
Onde: Teatro Municipal do Rio (pça.
Floriano, s/nš, tel: 0/xx/ 21/2262-3935)
Quando: hoje, às 21h; amanhã, às 17h
Quanto: de R$ 20 a R$ 80
Patrocinador: Embratel
Texto Anterior: Livros/lançamentos: Dom-juan das LETRAS Próximo Texto: Entrelinhas: As pernas da Bienal Índice
|