São Paulo, sábado, 26 de abril de 2008

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Crítica/"Slam"

Hornby usa discurso infantil e perde força em seu novo romance

"Slam", do autor de "Alta Fidelidade", conta a história de skatista de 18 anos e aborda a gravidez na adolescência

MICHEL LAUB
ESPECIAL PARA A FOLHA

O principal tema da obra de Nick Hornby é a dificuldade de se virar adulto. Até aí, nenhuma novidade em "Slam", seu novo romance, que trata de gravidez na adolescência e, a exemplo de livros como "Febre de Bola" e "Alta Fidelidade", tenta se basear numa receita de apelo nada desprezível: narrativa leve, referências à cultura pop e um humor que mescla acidez com uma certa doçura.
Só que, diferentemente do que costuma fazer, já que seus narradores mais célebres são homens em algum ponto próximo dos 30 anos, Hornby põe a história de "Slam" na fala de um skatista de 18, que rememora eventos acontecidos aos 16, quando conhece a garota que bagunça a sua vida por bons e por maus motivos.
A mudança parece um detalhe, mas está longe de ser. Nas memórias de "Febre de Bola", por exemplo, a relação entre um torcedor e seu time é contada por um sujeito consciente do quanto sua alienação maníaca o transforma num "débil mental", e o fato de que ao mesmo tempo ele talvez não possa, não queira e não precise se livrar dela gera um efeito de comédia único, que transcende em muito o tema do futebol.
Da mesma forma, o protagonista de "Alta Fidelidade" oscila entre a aceitação de que é preciso, enfim, parar de pensar em listas de melhores episódios de "Cheers" e a tentadora intuição de que, no fundo, poucas coisas no mundo podem ser tão divertidas.
Para Nick Hornby, portanto, "virar adulto" é um processo que carrega em si um tipo de auto-ironia sempre muito carinhoso com o que é inocente, imaturo e passional. É nesse ponto que seus livros podem ser vistos não apenas como uma crítica à sociedade contemporânea, aos seus apelos infantis de consumo e seu estímulo a relações fugazes, mas também como uma celebração de tudo isso.
Infelizmente, tal dimensão ambígua não está em "Slam". E nem poderia, pois o narrador ainda não conta com a experiência necessária para enxergar o próprio drama em cores mais complexas. Ele bem que tenta, e algumas de suas piadas são bastante boas, mas é aí que aparece um problema de adequação de sua voz: o mesmo personagem capaz de um sarcasmo afiado, típico de alguém mais velho, na cena seguinte diz tolices ou comete atos de uma estupidez infantil.
Claro que a oscilação pode ser típica da idade, e claro que a prosa de Hornby tem o poder de compensar parte dos defeitos. Mas a impressão final do romance, que também pode ser lido como literatura infanto-juvenil, é a de uma densidade um pouco mais baixa que o desejado -pelo menos em histórias que, independentemente do público ao qual se destinam, devem sempre ser escritas por adultos.


MICHEL LAUB é autor de "Longe da Água" e "O Segundo Tempo", ambos da Companhia das Letras

SLAM
Autor: Nick Hornby
Tradução: Paulo Reis
Editora: Rocco
Quanto: R$ 33 (264 págs.)
Avaliação: regular



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