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Crítica/"Slam"
Hornby usa discurso infantil e perde força em seu novo romance
"Slam", do autor de "Alta Fidelidade", conta a história de
skatista de 18 anos e aborda a gravidez na adolescência
MICHEL LAUB
ESPECIAL PARA A FOLHA
O principal tema da obra
de Nick Hornby é a dificuldade de se virar
adulto. Até aí, nenhuma novidade em "Slam", seu novo romance, que trata de gravidez na
adolescência e, a exemplo de livros como "Febre de Bola" e
"Alta Fidelidade", tenta se basear numa receita de apelo nada desprezível: narrativa leve,
referências à cultura pop e um
humor que mescla acidez com
uma certa doçura.
Só que, diferentemente do
que costuma fazer, já que seus
narradores mais célebres são
homens em algum ponto próximo dos 30 anos, Hornby põe a
história de "Slam" na fala de
um skatista de 18, que rememora eventos acontecidos aos 16,
quando conhece a garota que
bagunça a sua vida por bons e
por maus motivos.
A mudança parece um detalhe, mas está longe de ser. Nas
memórias de "Febre de Bola",
por exemplo, a relação entre
um torcedor e seu time é contada por um sujeito consciente
do quanto sua alienação maníaca o transforma num "débil
mental", e o fato de que ao mesmo tempo ele talvez não possa,
não queira e não precise se livrar dela gera um efeito de comédia único, que transcende
em muito o tema do futebol.
Da mesma forma, o protagonista de "Alta Fidelidade" oscila entre a aceitação de que é
preciso, enfim, parar de pensar
em listas de melhores episódios
de "Cheers" e a tentadora intuição de que, no fundo, poucas
coisas no mundo podem ser tão
divertidas.
Para Nick Hornby, portanto,
"virar adulto" é um processo
que carrega em si um tipo de
auto-ironia sempre muito carinhoso com o que é inocente,
imaturo e passional. É nesse
ponto que seus livros podem
ser vistos não apenas como
uma crítica à sociedade contemporânea, aos seus apelos
infantis de consumo e seu estímulo a relações fugazes, mas
também como uma celebração
de tudo isso.
Infelizmente, tal dimensão
ambígua não está em "Slam". E
nem poderia, pois o narrador
ainda não conta com a experiência necessária para enxergar o próprio drama em cores
mais complexas. Ele bem que
tenta, e algumas de suas piadas
são bastante boas, mas é aí que
aparece um problema de adequação de sua voz: o mesmo
personagem capaz de um sarcasmo afiado, típico de alguém
mais velho, na cena seguinte
diz tolices ou comete atos de
uma estupidez infantil.
Claro que a oscilação pode
ser típica da idade, e claro que a
prosa de Hornby tem o poder
de compensar parte dos defeitos. Mas a impressão final do
romance, que também pode ser
lido como literatura infanto-juvenil, é a de uma densidade um
pouco mais baixa que o desejado -pelo menos em histórias
que, independentemente do
público ao qual se destinam,
devem sempre ser escritas por
adultos.
MICHEL LAUB é autor de "Longe da Água" e "O
Segundo Tempo", ambos da Companhia
das Letras
SLAM
Autor: Nick Hornby
Tradução: Paulo Reis
Editora: Rocco
Quanto: R$ 33 (264 págs.)
Avaliação: regular
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