|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Autor americano Daniel Mason confronta "Brasis"
Sem nomear o país, escritor explora choque entre tradicional e moderno em romance baseado em sua viagem ao Nordeste
Em "Um País Distante", protagonista sai de terra árida em busca de seu irmão na cidade grande; descrição da natureza "delata" o Brasil
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Fã de narrativas de descobrimento desde a infância, o escritor americano Daniel Mason
veio ao Brasil pela primeira vez
entre 2002 e 2003 -ano em
que participou da Festa Literária Internacional de Parati-
mirando um personagem da
história do país para um eventual romance: o navegador português Pedro Álvares Cabral
(1467-1520/26?).
Já no país, durante suas pesquisas, Mason entrou em contato com a literatura de cordel
em Pernambuco e seu interesse migrou para o cangaceiro
Lampião (1897-1938). "Fiquei
surpreso ao saber que ainda havia um lugar onde as pessoas
contavam histórias em voz alta,
numa praça", diz Mason, por
telefone, à Folha.
O autor de "O Afinador de
Piano" conta que, de início,
achou que Lampião seria o tema do seu segundo romance.
Mas, à medida que tentava se
aprofundar na história, descobriu que as pessoas que poderiam informar melhor sobre o
cangaceiro teriam se mudado
para São Paulo ou Rio.
"Interessei-me cada vez mais
em saber como era, para uma
pessoa, mudar-se de uma sociedade muito rural e tradicional para uma cidade grande",
conta Mason, cujo recém-lançado "Um País Distante" acompanha a protagonista Isabel, de
14 anos, saindo de uma cidade
pequena, assolada pela seca,
em busca do irmão Isaías, numa metrópole hostil.
"Meu interesse nessa história era psicológico. A psicologia
de alguém que está fazendo essa jornada, que não se expressa
naturalmente por meio da linguagem. Isabel está muito isolada dos eventos políticos
atuais do mundo e, ao mesmo
tempo, muito conectada com o
ambiente natural que a cerca."
No livro, a descrição da natureza e das relações sociais de
certa forma "delatam" que o
cenário da história é o Brasil.
Mason, no entanto, optou por
não mencionar o nome do país.
"Localizá-la no Brasil poderia ser importante para uma
pessoa como eu, alguém que se
interessa por história, que lê
jornais etc. Mas para a personagem, que nasceu numa cidadezinha, onde sua família viveu
por tanto tempo quanto ela
possa se lembrar, a identidade
política do país não era tão importante", diz Mason.
O escritor ressalta que não
queria escrever um romance
social. Para ele, no momento
em que se mencionasse em que
país sua história se passava, o
leitor iria pensar nas questões
que afetavam tal lugar. "Isso
afastaria a atenção do personagem. Isabel seria esquecida."
UM PAÍS DISTANTE
Autor: Daniel Mason
Tradução: Beth Vieira
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 46 (280 págs.)
Texto Anterior: Livros Crítica/"Slam": Hornby usa discurso infantil e perde força em seu novo romance Próximo Texto: Crítica/"Jonas, O Copromanta": Patricia Melo erra ao seguir escatologia de Rubem Fonseca Índice
|