|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Escritores prezam a diversidade
DA REDAÇÃO
Os interesses de alguns dos escritores do Trem Literatura Europa 2000 podem ser bem diferentes, mas, se é possível que a Europa rume mesmo para uma Torre
de Babel, isso está longe de ser um
fato a lamentar. Pelo contrário.
Ana Luísa Amaral, poeta e professora de literatura inglesa na Faculdade de Letras do Porto, usa o
fato de o "diário de bordo" da viagem ser traduzido em várias línguas para mostrar o valor da pluralidade. "Com a tradução dos
textos para as várias línguas européias tenta-se, penso, evitar um
idioma comum -o inglês- e
defender a relevância de várias
línguas. Assim, terá um novo efeito a Torre de Babel: o reverso do
castigo."
Quanto ao que espera encontrar
na viagem com os escritores de 42
outros países, Ana Luísa diz que
uma das maiores curiosidades
que deseja ver saciadas é saber como se posicionam as mulheres do
Leste Europeu. "Como mulher feminista -minha poesia não é feminista, eu sou-, esse é um assunto que me toca particularmente. Quero saber se é possível falar
de uma identidade comum no
que diz respeito às mulheres.
Quero ver se temos preocupações
idênticas ou não e se é possível encontrar respostas comuns aos
nossos problemas", diz.
Jacques Jouet, poeta, autor teatral, romancista e ensaísta francês, outro participante do Trem
Literatura, também é pela diversidade. "A Europa é, felizmente,
uma Torre de Babel, na qual nos
encontramos, nos compreendemos e também nos desentendemos. Como todo o mundo", diz.
Mas Jouet é bastante categórico
quanto ao mito da Torre de Babel.
"A Torre de Babel é, para mim,
um mito antipático", diz. E explica: "A diversidade das línguas e a
dispersão dos homens como duas
punições de ordem divina é algo
monstruoso. A Europa é uma
Torre de Babel que não dá a mínima para a punição divina. A Europa se interessa pela tradução. O
mundo também".
E a identidade européia? Se ela
existe, existiria também um escritor que a traduzisse? "Não sei.
Não acho que exista escritor a traduzir uma identidade européia.
Nem me parece que seja desejável. Sou pela valorização das diferenças", diz Ana Luísa Amaral. (LAT)
Texto Anterior: Expresso das letras Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|