São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2000


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CINEMA/ESTRÉIA

"Agnes Browne" é bacaninha, tem humor e coração

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O s irlandeses são os brasileiros da Europa. Lá, como cá, o país é uma coerente bagunça, a violência política corre solta, a desigualdade social se escarrapacha, mas o povo é alegre, caloroso e cínico. Fora que, lá, como cá, gostam de cerveja, de papo-furado e de futebol. Nos EUA, quando o objetivo é comemorar com excessos, vai-se a um bar irlandês.
O lance é que um grande estúdio, quando retrata em uma produção um povo excêntrico assim, costuma cair na tentação de estereotipá-lo. "Agnes Browne - O Despertar de uma Vida", filme dirigido e estrelado por Anjelica Houston ("A Família Addams", "A Honra do Poderoso Prizzi"), que já havia dirigido "Marcas do Silêncio", não chega a se lambuzar ou enfiar o pé no lodo das simplificações geradas pelo estereótipo, mas também não se livra dele.
O filme, produzido por nomes que estão nos créditos de "Coração Valente" e "Meu Pé Esquerdo", retrata uma comunidade alegre, unida, que enxuga as lágrimas em "pubs", misturando as faces da cultura irlandesa num mesmo caldeirão. É um filme bacaninha, com humor e coração. Não muda a vida de ninguém. Mas não tem por que não ser visto.
Agnes Browne tem sete filhos (seis capetas e uma menina), variando entre 2 e 14 anos de idade. O marido de Agnes morre, no começo do filme. Como morre, também, o carro que leva o seu caixão para o cemitério, no meio do cortejo. O carro chega empurrado, num cemitério em que acontecem outros dois enterros, confundindo os familiares dos mortos, que se misturam e acompanham o enterro de estranhos.
Está aí a dica, entregue logo de cara: o filme tem humor negro, a tragédia é bem assimilada, vamos lá, então, acompanhar o que acontece com essa viúva, que vende frutas numa barraca, na rua do Mercado, periferia de Dublin.
Anjelica Houston, a viúva, morou em Dublin, inspirou-se numa antiga babá, está à vontade com o sotaque irlandês e conduz o filme homenageando a vida das mulheres de tempos atrás.
Ambientado em 1967, baseado no romance "The Mammy", de Brendan O'Carroll, que também assina o roteiro, o filme é "de época", porque quase ninguém mais tem sete filhos, hoje em dia, e fala de mulheres de sua época, que não tinham orgasmos com os maridos e confessavam timidamente para a melhor amiga. "Mas existe mesmo o orgasmo? Pensei que fosse uma ficção", Agnes comenta com sua amiga Marion (Marion O'Dwyer, atriz de teatro que nunca havia feito um filme).
Segundo problema do filme: ser "de época", de uma época não tão distante assim. Ou o problema é meu, que já vê nas telas como "de época" aquilo que vivi quando já mocinho, ou melhor, garotinho.
Agnes é fã de Tom Jones, que também atuou como ele próprio no filme "Marte Ataca", de Tim Burton. Também porque Mr. Jones, em carne e osso, aparece no filme "Agnes Browne" para cantar e insolitamente resolver as encrencas da família Browne.
Quer saber de uma coisa? O filme é bom. O público feminino vai adorar. Agnes tem de se virar para sustentar os filhos, encarar o câncer da melhor amiga, resolver uma parada com o agiota da área e abrir seu coração para as pretensões honestas do padeiro francês.
Bons ingredientes para montar uma sopa de fotogramas.


Agnes Browne - O Despertar de uma Vida
Agnes Browne     Direção: Anjelica Houston Produção: EUA, 1999 Com: Anjelica Houston Quando: a partir de hoje, no cine Sala UOL de Cinema e circuito





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