São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2000


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CINEMA/ESTRÉIAS

Madonna é iogue e mãe, para manter imagem

Divulgação
Madonna e Rupert Everett, protagonistas de "Sobrou pra Você"


PAULO VIEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Madonna é uma cantora que passou toda a sua carreira a se relançar. A despeito de suas limitações vocais e da falta de padrinhos no mercado musical, tornou-se, por iniciativa própria e isolada (à custa de talvez alguns trabalhos de sopro), o maior nome da indústria pop das décadas de 80 e 90. Como era de esperar, usou o cinema (e mais tarde a maternidade) para se promover.
Cinema e maternidade estão juntos agora neste semi-autobiográfico "Sobrou pra Você" ("The Next Best Thing"), em que divide os papéis protagonistas -e um filho ficcional- com o inglês de fala baixa (afetada, a seu modo) Rupert Everett ("O Marido Ideal", "Inspetor Bugiganga"), um dos poucos, segundo consta, da categoria dos FOM ("friends of Madonna").
Mas ficção é o que menos importa no cinema de Madonna (confira a filmografia da artista ao lado). Quando recebe um papel, ela dá um jeito de confundi-lo com sua biografia e aproveitá-lo em sua carreira fonográfica.
É assim desde os 80, com "Procura-se Susan Desesperadamente", quando ainda não tinha capital para o primeiro plano.
Foi assim com o muito ruim "Corpo em Evidência", cujo papel protagonista de mulher luxuriante tinha a correspondência musical no álbum (e na fase) "Erotica".
Personificando mais recentemente Eva Perón e se dizendo fã de Frida Kahlo -a quem disse pretender cinebiografar-, chamou a atenção para as heroínas, o que também cabia como uma luva em sua "côté" mulher de sucesso, poderosa e intimidadora, ainda que sensível.
Assim, mais do que atuações, roteiro, fotografia ou outros dados técnicos pertinentes à crítica de cinema, o que importa em "Sobrou pra Você" são certos subprodutos.
Primeiro, a regravação do hit "American Pie", do obscurantista Don McLean, que os produtores deram um jeito de tornar a música preferida de um figurante (o videoclipe com Madonna, com a boa gente norte-americana e a bandeira listrada não pára de passar na MTV).
Adepta da ioga, Madonna é uma professora de ioga no filme. O roteiro dá chance para que a atriz mostre as vantagens da técnica indiana sobre, por exemplo, a musculação, que ela um dia advogou.
(Vida real: uma mesma classe de ioga, em Los Angeles, é frequentada por Alanis Morrisette, Laura Dern e Meg Ryan, e o mestre iogue credita tal "latest craze" a Madonna.)
Madonna quer um filho no filme. Não conhece nenhum homem que pague a pena como marido, daí que o tem com seu melhor amigo, que, no caso, é gay.
(Vida real: Madonna anuncia que terá um segundo filho porque Lola -apelido de Lourdes Maria-, sua filha de um pai de aluguel, aos 3 anos, não tem com quem brincar. A popstar não confirma que o pai, o cineasta britânico Guy Ritchie -diretor de "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes"-, viverá sob o mesmo teto.)
Deve-se dizer que Madonna já fez filmes em que seu papel não era apenas um dado de marketing, como o sufocante "Olhos de Serpente", de Abel Ferrara.
Não é o caso aqui. Mas quem vai vê-la no cinema pouco se importa se a trama sugere "Kramer x Kramer".
Quando os créditos subirem, "American Pie" tocar na versão agora conhecida e os olhos marejarem, Madonna garantirá, mundialmente, após 16 ou 17 anos de seu aparecimento, mais uns bons 365 dias de fama.



Sobrou pra Você
The Next Best Thing   Direção: John Schlesinger Produção: EUA, 2000 Com: Madonna, Rupert Everett Quando: a partir de hoje, nos cines Katmandu 3, Adventure 8 e circuito



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