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Festival é acusado de privilegiar franceses
DA ENVIADA ESPECIAL A CANNES
A Palma de Ouro do 56º Festival
de Cannes foi atribuída a um filme norte-americano produzido
pela HBO num contexto em que a
mostra é acusada de privilegiar os
filmes (e os negócios cinematográficos) da França.
Todd McCarthy, crítico da "Variety", considerada a principal revista especializada dos Estados
Unidos, publicou na última sexta
artigo em que afirma haver um jogo de cartas marcadas no festival.
A revista diz que Cannes é sensível a políticas, intrigas e manobras na seleção e na forma como
os filmes são recebidos. Haveria,
segundo McCarthy, uma orquestração para privilegiar o cinema
de autor, cujo berço é a França.
O crítico sustenta ainda que a
participação da França tornou-se
exigência para que um filme dispute a Palma de Ouro e diz que a
influência dos jornais "Le Monde" e "Libération" na seleção é
maior do que se pensa.
A revista inglesa "Screen" corrobora a análise da "Variety" de
que a seleção de Cannes procura
privilegiar interesses de produtores e distribuidores franceses.
"Carandiru", o competidor brasileiro, foi produzido no Brasil
com benefício das leis de renúncia
fiscal (pelas quais empresas patrocinam projetos culturais) e é
distribuído internacionalmente
pela norte-americana Sony Pictures. "Elephant" é distribuído pela
francesa MK2.
Os dois jornais franceses reagiram ao artigo. O "Libération" disse que o crítico norte-americano
está "em plena crise paranóica" e
se perguntou "o que ele tem engolido no café da manhã para estar
nesse estado de fúria".
O "Le Monde" afirma que "falar
do incontornável poderio francês
no cinema é esquecer um pouco
rápido demais que Hollywood
domina 70% das bilheterias em
todos os países, exceto Índia,
França e Coréia". Entrevistado
pelo diário, o presidente do festival, Gilles Jacob, diz que "não
existe nos Estados Unidos um festival como o de Cannes, porque os
americanos sabem como exportar filmes, mas não têm o menor
interesse em importá-los".
Jacob diz ainda que Cannes é e
deve continuar sendo uma mostra dedicada ao cinema de autor.
A entrevista do "Le Monde"
com o presidente do Festival de
Cannes termina com certa ambiguidade. Perguntado se se arrepende de algo, Jacob responde
que "talvez tenha havido um filme francês além da conta nesta
edição". Foram quatro competidores franceses, num total de 20.
A interseção entre o Festival de
Cannes e as questões do mercado
cinematográfico pode ser vista
também na premiação do longa
do italiano Marco Tulio Giordana
("La Meglio Gioventù") na seção
Un Certain Regard. "La Meglio
Gioventù" é um projeto feito originalmente para a TV, com cinco
horas de duração.
Gus van Sant afirmou que a
HBO era "a melhor casa" para o
seu "Elephant", porque o tema do
filme sugere que ele teria "vida
curta" nas salas de cinema. "Vamos ver agora [com a Palma]."
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