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análise geral
Premiados são baseados em fatos reais
AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES
O grande traço comum
aos premiados em Cannes
2008 é a inspiração em
histórias verdadeiras. Os
dois prêmios principais, a
Palma de Ouro para "Entre les Murs" (entre os muros), do francês Laurent
Cantet, e o Grande Prêmio
do Júri a "Gomorra", do
italiano Matteo Garrone,
são inspirados em livros
não-ficcionais.
O mesmo mergulho no
real catalisou o projeto do
drama vencedor do prêmio de roteiro, "Le Silence
de Lorna" (o silêncio de
Lorna), dos irmãos belgas
Jean-Pierre e Luc Dardenne, e o Prêmio do Júri ao
retrato do ex-premiê italiano Giulio Andreotti em
"Il Divo" (o ilustre), de
Paolo Sorrentino.
Benício del Toro fez por
merecer o prêmio de melhor ator por sua controladíssima composição do revolucionário Ernesto Guevara em "Che", de Steven
Soderbergh.
São também inspiradas
em histórias reais as trajetórias dos quatros filhos
que giram em torno de
Cleuza, personagem que
valeu o surpreendente
prêmio de melhor atriz à
sutil Sandra Corveloni, em
"Linha de Passe".
Filme de escola
Com "Entre les Murs",
Laurent Cantet reoxigena
o tradicional gênero de filmes de escola. Pense em
"Ao Mestre, com Carinho"
e "Sociedade dos Poetas
Mortos" e aplique o frescor do documentário "Ser
e Ter", de Nicolas Philibert. Não estará longe.
Em seu quarto longa-metragem, Cantet adapta
como ficção o ensaio testemunhal de François Bégaudeau. O próprio autor
interpreta o professor da
versão ficcionalizada, interagindo com estudantes
verdadeiros treinados para a experiência cinematográfica.
O dispositivo insufla veracidade e vitalidade a um
gênero tornado clichê.
"Entre les Murs" é a um
só tempo uma radiografia
do sistema escolar francês
e uma metonímia da França da era Nicolas Sarkozy:
nacionalista e multiétnica,
rica e desigual, tensa mas
generosa.
Matteo Garrone aplica
sua experiência como documentarista para combinar cinco tramas em torno
da ação da máfia napolitana, a Camorra. O ponto de
partida é o livro de Roberto Saviano, também aqui
co-roteirista, que obrigou
o autor a se esconder por
medo de represálias. Saviano agora ri por último.
Homenagens
Há, por sua vez, elegância e reverência na atribuição do prêmio do 61º festival a Catherine Deneuve e
a Clint Eastwood, mas a
homenagem equipara
contribuições desta vez
desiguais. Deneuve protagoniza sem esforços o fraco "Un Conte de Nöel"
(um conto de Natal) de Arnaud Desplechin.
Já Eastwood, aos 77
anos, foi responsável pelo
pico dramático desta 61ª
edição do festival com
"Changeling" (a troca)-
aliás, baseado num caso
verídico. São sempre constrangedores prêmios de
consolação.
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