São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

análise geral

Premiados são baseados em fatos reais

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

O grande traço comum aos premiados em Cannes 2008 é a inspiração em histórias verdadeiras. Os dois prêmios principais, a Palma de Ouro para "Entre les Murs" (entre os muros), do francês Laurent Cantet, e o Grande Prêmio do Júri a "Gomorra", do italiano Matteo Garrone, são inspirados em livros não-ficcionais.
O mesmo mergulho no real catalisou o projeto do drama vencedor do prêmio de roteiro, "Le Silence de Lorna" (o silêncio de Lorna), dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, e o Prêmio do Júri ao retrato do ex-premiê italiano Giulio Andreotti em "Il Divo" (o ilustre), de Paolo Sorrentino.
Benício del Toro fez por merecer o prêmio de melhor ator por sua controladíssima composição do revolucionário Ernesto Guevara em "Che", de Steven Soderbergh.
São também inspiradas em histórias reais as trajetórias dos quatros filhos que giram em torno de Cleuza, personagem que valeu o surpreendente prêmio de melhor atriz à sutil Sandra Corveloni, em "Linha de Passe".

Filme de escola
Com "Entre les Murs", Laurent Cantet reoxigena o tradicional gênero de filmes de escola. Pense em "Ao Mestre, com Carinho" e "Sociedade dos Poetas Mortos" e aplique o frescor do documentário "Ser e Ter", de Nicolas Philibert. Não estará longe.
Em seu quarto longa-metragem, Cantet adapta como ficção o ensaio testemunhal de François Bégaudeau. O próprio autor interpreta o professor da versão ficcionalizada, interagindo com estudantes verdadeiros treinados para a experiência cinematográfica.
O dispositivo insufla veracidade e vitalidade a um gênero tornado clichê.
"Entre les Murs" é a um só tempo uma radiografia do sistema escolar francês e uma metonímia da França da era Nicolas Sarkozy: nacionalista e multiétnica, rica e desigual, tensa mas generosa.
Matteo Garrone aplica sua experiência como documentarista para combinar cinco tramas em torno da ação da máfia napolitana, a Camorra. O ponto de partida é o livro de Roberto Saviano, também aqui co-roteirista, que obrigou o autor a se esconder por medo de represálias. Saviano agora ri por último.

Homenagens
Há, por sua vez, elegância e reverência na atribuição do prêmio do 61º festival a Catherine Deneuve e a Clint Eastwood, mas a homenagem equipara contribuições desta vez desiguais. Deneuve protagoniza sem esforços o fraco "Un Conte de Nöel" (um conto de Natal) de Arnaud Desplechin.
Já Eastwood, aos 77 anos, foi responsável pelo pico dramático desta 61ª edição do festival com "Changeling" (a troca)- aliás, baseado num caso verídico. São sempre constrangedores prêmios de consolação.


Texto Anterior: 61º Festival de Cannes: Francês leva Palma por unanimidade
Próximo Texto: Protagonista foi jogador de futebol
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.