São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 2000


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FRANÇA

Evento que começa hoje vê arte com viés antropológico e conta com obras dos brasileiros Mário Cravo Neto e Tunga

Quinta Bienal de Lyon lança olhar sobre o exótico

CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Exótico pode ser o mais óbvio, mas também é o melhor adjetivo para descrever a quinta edição da Bienal de Arte Contemporânea de Lyon, evento que tem vernissage hoje nessa cidade no sudeste da França. Isso porque, além da produção artística dos principais centros do mundo, o evento olha com igual atenção para a produção de países periféricos da Ásia, África, América Latina e Oceania.
Assim, serão exibidos, em um mesmo espaço, trabalhos de artistas reconhecidos internacionalmente, como Anish Kapoor (Inglaterra), Annette Messager (França), Sol Lewitt (EUA) e Maurizio Cattelan (Itália).
Também aparecem obras de artistas apenas vistos em mostras temáticas específicas ou com conotação geográfica limitada, como os africanos Gera (Etiópia), Romuald Hazoumé (Benin) e John Goba (Serra Leoa) e os asiáticos Lu Hao (China) e Liew Kung Yu (Malásia), entre outros.
Tem até um representante de Tonga, país composto por 172 ilhas e com cerca de 780 km2 de extensão, localizado no oceano Pacífico, entre a Austrália e o México. Trata-se de Filipe Tohi. O Brasil vai com obras de Mário Cravo Neto e de Tunga.
A eclética composição do evento, intitulado "Partilhar Exotismos", é responsabilidade do curador francês Jean-Hubert Martin, um expert na produção dos países periféricos. Ex-curador-chefe do Centro Georges Pompidou, em Paris, Martin realizou ali a histórica mostra "Mágicos da Terra", em 1989.
Em 1996, Martin curou o segmento da mostra Universalis na 23ª Bienal de São Paulo dedicado à África e à Oceania. Selecionou trabalhos de seis artistas, entre eles Gedewon (Etiópia) e Peter Robinson (Nova Zelândia).
"O exotismo é, antes de tudo, uma questão de olhar. Ele não é, em princípio, inerente à obra. Ele depende de uma perspectiva que lhe é exterior. A troca igualitária e recíproca de exotismos poderá funcionar em um mundo onde os poderes sejam equilibrados", explica o curador em uma sintética apresentação do evento.

Antropologia
Martin sabe que ao trazer para o mundo das artes objetos criados sem uma conotação artística à priori, mas com funções religiosas ou sociais, ele está entrando no terreno da antropologia social e da etnologia.
Justamente por isso, a equipe que organiza a Bienal de Lyon conta com um grupo de reflexão composto por cinco antropólogos. Philippe Peltier e Carlo Severi, dois deles, concordam que o trabalho da crítica e curadoria de arte se aproxima daquele desenvolvido pela antropologia.
"Ambos observam e interrogam. De volta de suas expedições, classificam e interpretam o que recolheram", diz Peltier. "Os caminhos de artistas, críticos e antropólogos têm se cruzado cada vez com mais frequência. Uma nova atenção aos contextos rituais e usos sociais das imagens tem provocado novas interrogações", complementa Severi.
Em 1996, quando curou um segmento na 23ª Bienal de São Paulo, Jean-Hubert Martin falou sobre o interesse desse deslocamento de um uso ritual ou social do objeto para um uso artístico.
"Todo o interesse despertado sobre uma obra de arte está justamente em seu deslocamento. Não existe uma "verdade" absoluta da obra. Um objeto tem uma verdade em relação a seu contexto de origem, ao seu uso e à sua função, mas quando o deslocamos para uma outra cultura, ele toma um outro valor e, por vezes, um outro senso. É justamente esse deslocamento de senso que lhe dá valor", disse à Folha.
A quinta edição da Bienal de Lyon acontece no mercado coberto Tony Garnier, um espaço de 18 mil m2 restaurado especialmente para o evento, que fica em cartaz até 24 de setembro.


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