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FRANÇA
Evento que começa hoje vê arte com viés antropológico e conta com obras dos brasileiros Mário Cravo Neto e Tunga
Quinta Bienal de Lyon lança olhar sobre o exótico
CELSO FIORAVANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Exótico pode ser o mais óbvio,
mas também é o melhor adjetivo
para descrever a quinta edição da
Bienal de Arte Contemporânea de
Lyon, evento que tem vernissage
hoje nessa cidade no sudeste da
França. Isso porque, além da produção artística dos principais centros do mundo, o evento olha
com igual atenção para a produção de países periféricos da Ásia,
África, América Latina e Oceania.
Assim, serão exibidos, em um
mesmo espaço, trabalhos de artistas reconhecidos internacionalmente, como Anish Kapoor (Inglaterra), Annette Messager
(França), Sol Lewitt (EUA) e
Maurizio Cattelan (Itália).
Também aparecem obras de artistas apenas vistos em mostras
temáticas específicas ou com conotação geográfica limitada, como os africanos Gera (Etiópia),
Romuald Hazoumé (Benin) e
John Goba (Serra Leoa) e os asiáticos Lu Hao (China) e Liew Kung
Yu (Malásia), entre outros.
Tem até um representante de
Tonga, país composto por 172
ilhas e com cerca de 780 km2 de
extensão, localizado no oceano
Pacífico, entre a Austrália e o México. Trata-se de Filipe Tohi. O
Brasil vai com obras de Mário
Cravo Neto e de Tunga.
A eclética composição do evento, intitulado "Partilhar Exotismos", é responsabilidade do curador francês Jean-Hubert Martin,
um expert na produção dos países
periféricos. Ex-curador-chefe do
Centro Georges Pompidou, em
Paris, Martin realizou ali a histórica mostra "Mágicos da Terra", em
1989.
Em 1996, Martin curou o segmento da mostra Universalis na
23ª Bienal de São Paulo dedicado
à África e à Oceania. Selecionou
trabalhos de seis artistas, entre
eles Gedewon (Etiópia) e Peter
Robinson (Nova Zelândia).
"O exotismo é, antes de tudo,
uma questão de olhar. Ele não é,
em princípio, inerente à obra. Ele
depende de uma perspectiva que
lhe é exterior. A troca igualitária e
recíproca de exotismos poderá
funcionar em um mundo onde os
poderes sejam equilibrados", explica o curador em uma sintética
apresentação do evento.
Antropologia
Martin sabe que ao trazer para o
mundo das artes objetos criados
sem uma conotação artística à
priori, mas com funções religiosas
ou sociais, ele está entrando no
terreno da antropologia social e
da etnologia.
Justamente por isso, a equipe
que organiza a Bienal de Lyon
conta com um grupo de reflexão
composto por cinco antropólogos. Philippe Peltier e Carlo Severi, dois deles, concordam que o
trabalho da crítica e curadoria de
arte se aproxima daquele desenvolvido pela antropologia.
"Ambos observam e interrogam. De volta de suas expedições,
classificam e interpretam o que
recolheram", diz Peltier. "Os caminhos de artistas, críticos e antropólogos têm se cruzado cada
vez com mais frequência. Uma
nova atenção aos contextos rituais e usos sociais das imagens
tem provocado novas interrogações", complementa Severi.
Em 1996, quando curou um segmento na 23ª Bienal de São Paulo,
Jean-Hubert Martin falou sobre o
interesse desse deslocamento de
um uso ritual ou social do objeto
para um uso artístico.
"Todo o interesse despertado
sobre uma obra de arte está justamente em seu deslocamento. Não
existe uma "verdade" absoluta da
obra. Um objeto tem uma verdade em relação a seu contexto de
origem, ao seu uso e à sua função,
mas quando o deslocamos para
uma outra cultura, ele toma um
outro valor e, por vezes, um outro
senso. É justamente esse deslocamento de senso que lhe dá valor",
disse à Folha.
A quinta edição da Bienal de
Lyon acontece no mercado coberto Tony Garnier, um espaço de 18
mil m2 restaurado especialmente
para o evento, que fica em cartaz
até 24 de setembro.
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