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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

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Cena aberta

Lenise Pinheiro - 23.12.02/Folha Imagem
A Casa nš 1, sede do grupo -contemplado pela Lei de Fomento- Teatro da Vertigem, localizada na região central de São Paulo



Grupos viabilizam sedes e peças, mas há críticas à seleção e à politização


PEDRO IVO DUBRA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há cerca de um ano e meio, um personagem de nome imponente e alongado vem catalisando realizações do teatro paulistano: o Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, ou simplesmente Lei de Fomento, nascida sob o nš 13.279, a 8 de janeiro de 2002.
Criação coletiva da classe teatral, por meio do movimento Arte contra a Barbárie, que contracenou com a Câmara Municipal, a lei destina cerca de R$ 6 milhões do orçamento anual da prefeitura a grupos teatrais, exigindo a propalada contrapartida social.
A lei marcou uma reviravolta na política cultural, reintroduzindo o investimento direto em cultura após duas décadas de priorização das leis de incentivo fiscal.
Os dois primeiros editais (junho de 2002 e janeiro de 2003) contemplaram 31 companhias. A maioria surgiu nos anos 90 -Teatro da Vertigem, Cia. do Latão, Folias d'Arte, Parlapatões. Mas há veteranos -Oficina, Tapa, Teatro Popular União e Olho Vivo, XPTO, que acumulam de duas a quatro décadas.
A Folha ouviu dez grupos. Alguns receberam verbas, outros não. A constante mais destacada pelos agraciados é a viabilização de espetáculos e do aluguel e manutenção de sedes próprias.
"A gente nunca teve espaço para guardar as coisas. Foram dez anos de relação sem nada, na casa de um ator, na minha", diz Antônio Araújo, 37. Com a verba do programa, complementada pelo patrocínio de uma empresa, o grupo remontou sua trilogia bíblica. Também estruturou e equipou a sua sede, a Casa nš 1, compartilhada com o DPH (Departamento de Patrimônio Histórico).
Para Araújo, porém, "a verba deveria aumentar". Marcelo Drummond, 40, ator do Oficina, acrescenta que "a única coisa que emperra é a burocracia. Mas é a burocracia do Brasil. A Lei de Fomento foi a salvação".
A exemplo do Vertigem, os Parlapatões viabilizaram sua última peça, "As Nuvens e/ou Um Deu$ Chamado Dinheiro", com uma mescla de patrocínio privado e verba da Lei de Fomento.
Num casarão da Bela Vista desde janeiro, o Cemitério de Automóveis montou 11 peças e abrigou dois convidados. Também mantêm imóveis alugados a Central do Circo, na Vila Leopoldina, e o Grupo dos Sete, em Santana. Para Zebba Dal Farra, do Grupo dos Sete, um dos maiores benefícios da lei foi levar teatro a regiões sem equipamento cultural.

"Muito petista"
Para Johana Albuquerque, 37, da cia. Bendita Trupe, que não foi contemplada, mas deve tentar de novo, o problema é que "os projetos têm que ter uma cara muito petista". Ela defende que "a comissão julgadora mude" de uma edição para outra.
Marco Antônio Braz, 37, diretor do Círculo dos Comediantes, que também não foi contemplado até agora e deve tentar outra vez, vai na mesma linha:
"A comissão julgadora precisa de pensamentos mais diferentes. Talvez eu seja um pouco platônico, mas acho que a comissão tinha que ter José Celso Martinez Corrêa, Antunes Filho."


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