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"ZASTROZZI"
Tom insolente marca paródia de clichês do melodrama
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Pouco antes de começar
"Zastrozzi", ouve-se o aviso
para não tirar fotos com flash e
não alimentar os atores em cena.
A simpática irreverência, que prepara bem o irônico "freak show"
que se segue, pode ser entendida
quase como uma autocrítica.
De fato, boa parte do público vai
ao teatro como quem vai ao zoológico, para ver de perto o que só
se vê pela televisão.
Por mais fascinantes que sejam
as feras da TV, é preciso no entanto reconhecer que ao vivo seu repertório é limitado: no zoológico,
não há surpresas.
"Zastrozzi", de 1977, é uma peça
de juventude de George Walker,
que conquistou em seguida grande sucesso comercial no Canadá.
Paródia dos clichês do melodrama, discutindo a eterna luta entre
o bem e o mal com uma desenvoltura de história em quadrinhos, é
ponto de partida para um exercício de atores, que podem se divertir como crianças brincando de
mocinho e bandido.
Mais inteligente que a maioria
das peças do gênero besteirol, o
texto não chega no entanto a revolucionar velhos clichês, como
faz Quentin Tarantino em seus filmes, por exemplo.
Selton Mello é um ator extremamente carismático e inventivo,
embora um pouco monocórdico.
Nas mãos de um bom diretor, que
não o deixe fazer apenas o que lhe
é confortável, pode render muito.
Na direção desse espetáculo, no
entanto, é como se Mello passasse
aos colegas todos os seus defeitos
e qualidades.
O elenco, assim, segue marcas
ágeis e criativas, com a precisão
garantida pelo preparador corporal Dani Hu, grande mestre de
kung fu.
Mas Ângelo Paes Leme, por
exemplo, faz o antagonista Verezzi, o artista do bem que sempre
sorri, sempre sorrindo. Natália
Lage faz a mocinha ingênua de
modo ingênuo; Gisele Câmara, a
má sensual, é má e sensual, e por
aí vai.
Depois que o público já identificou de onde já viu cada um dos
atores, nem mesmo as projeções
de vinhetas ou trocas à vista do cenário precário evitam o tédio que
se instala. Mesmo o filme "Matrix" tem mais profundidade.
Diálogos engraçados e o entusiasmado "timing" dos atores ajudam a driblar a eventual irritação
por um certo narcisismo do elenco, que ostenta um tom insolente
de quem representa mal de propósito.
É preciso não cair na armadilha
e apreciar a peça pelo que ela é:
uma diversão inconsequente.
Não se deixe levar por afirmações
em contrário -"Zastrozzi" é
uma peça para ver com pipoca e
refrigerante. Só não vá alimentar
o ego dos atores.
Zastrozzi
Texto: George Walker
Direção: Selton Mello e Daniel Herz
Com: Selton Mello, Natália Lage, Ângelo
Paes Leme
Onde: Teatro Folha (shopping Pátio
Higienópolis, av. Higienópolis, 618, piso
2, SP, tel. 0/xx/ 11/3823-2323)
Quando: sex. (21h30), sáb. (20h e 22h) e
dom. (19h). Até 27/7
Quanto: R$ 30 (sexta) e R$ 40 (sábado e
domingo)
Patrocinadores: Brasil Telecom e
Eletrobrás
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