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ARTES PLÁSTICAS
Retrospectiva e homenagens em Assunção, no Paraguai, celebram o centenário do artista brasileiro
Livio Abramo atravessa as fronteiras
SERGIO FERREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Brasil e Paraguai celebram neste
ano o centenário de um de seus
principais filhos: o artista plástico
Livio Abramo. O artista é mesmo
filho de ambas nações porque
adotou o Paraguai, impulsionou a
gravura contemporânea paraguaia, formando toda uma geração de artistas desde 1956
-quando chegou ao país para
uma estadia de apenas duas semanas- e foi um dos principais
propulsores do intercâmbio cultural entre esses países.
Organizou exposições de arte
paraguaia no Brasil, e de arte brasileira no Paraguai, através das
quais foram expostas no Paraguai
obras de Goeldi, Volpi, Fayga Ostrower, Marcelo Grassman, Amilcar de Castro, entre outros.
Neste mês serão realizadas várias homenagens ao artista em
Assunção. A mais importante é a
grande retrospectiva organizada
pelo Centro de Artes Visuales del
Paraguay/Museo del Barro e a
Embaixada do Brasil no Paraguai,
inaugurada na última terça na galeria batizada com o nome do artista, no Centro Cultural da Embaixada -antiga sede do Centro
de Estudos Brasileiros, instituição
que Abramo integrou desde sua
radicação no Paraguai, em 1962,
até sua morte, 30 anos depois.
No Centro de Artes Visuales será aberta também uma mostra de
desenhos hoje, dia do aniversário
do artista.
"Linha simples"
Livio Abramo chegou pela primeira vez ao Paraguai em agosto
de 1956 para uma exposição de
suas obras. A mostra teve grande
impacto na comunidade artística
da capital paraguaia de então.
Abramo ficou em Assunção duas
semanas e fundou o Estúdio de
Gravura Julián de la Herrería, sob
direção, hoje em dia, de dois de
seus principais alunos, Edith Jiménez e Carlo Spatuzza.
O artista continuou em contato
com os entusiastas alunos do estúdio. Em 1959, voltou ao país como representante do Museu de
Arte Moderna de São Paulo
acompanhando uma mostra do
acervo da instituição. Aproveitou
a nova viagem para conhecer melhor o país.
Percorreu os antigos povoados
jesuíticos com o arquiteto brasileiro Saturnino de Britto e o intelectual paraguaio Ramiro Domínguez. Conheceu as obras de arte
das antigas missões jesuíticas (feitas entre 1610 e 1767) e, como resultado, organizou a exposição de
60 esculturas jesuíticas, apresentada sob sua curadoria na Bienal
de São Paulo de 1961.
Foi a primeira vez que essas
obras, restauradas, saíram das
igrejas para contato com a crítica
internacional.
"Livio Abramo fez uma obra ao
mesmo tempo profundamente
carregada de localismo, de história particular, e essencialmente
aberta à linguagem contemporânea", diz o crítico de arte paraguaio Ticio Escobar.
Em 1962, instalou-se definitivamente no país. Entre as obras que
desenvolveu em Assunção destacam-se as séries xilográficas "Paraguay" e "As Chuvas", além das
séries de desenhos "Assunção e o
Rio", "Caballos" e "Frisos do Partenón". Seus trabalhos se caracterizam por linguagem sintética e
força expressiva.
No catálogo de uma exposição
em 1967, no Paraguai, diz: "Aqui
achei a horizontal e a vertical, o
ponto, a linha simples e sensível:
minha constante procura pelo essencial. O profundo mistério dos
horizontes acabados. A cor metafísica das horas paraguaias".
Sergio Ferreira é jornalista do diário
paraguaio "ABC Color"
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