São Paulo, terça-feira, 26 de junho de 2007

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Crítica/música

Lulu Santos escorrega na busca da eterna juventude

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Em entrevista a este repórter, uma cantora disse certa vez que usa programações eletrônicas em seus trabalhos porque é o som do mundo de hoje. Lulu Santos também parece ter essa necessidade de ser contemporâneo, embora seu talento dispense atualizações forçadas. Algumas delas estão em "Longplay", seu novo CD.
Não por acaso a música de trabalho do disco, "Contatos", é um pop romântico eficiente, mas que esfria no momento em que a voz de Lulu é mixada. O recurso volta a ser usado em "Ninguém Merece", em que gírias como a do título e "juntar pra zoar" retratam a busca pela eterna juventude.
Outras adolescências estão no CD. "Domingo Maldito", rock teen, tem como mote "Ô, ô, odeio domingo". "Seu Aniversário", em ritmo dance, canta "Parabéns, parabéns" para um amigo com alegria juvenil.
O funk, paixão maior do Lulu de hoje, está explícito em músicas de outros autores. "Deixa Isso pra Lá" (Alberto Paz/ Edson Menezes), sucesso de Jair Rodrigues que costuma ser apontado como o primeiro rap brasileiro, ganha, com apoio do DJ Mãozinha, aquele som do tamborzão que marca o funk carioca. A idéia permite ao cantor brincar com os andamentos da música e as ligações dela com a tradição da bossa nova e do samba-jazz. E "Se Não Fosse o Funk", do MC Marcinho, é uma ode ao gênero.
Os flertes com o samba têm bons resultados, como em "Boa Vida", samba funkeado em que convivem, com inteligência, a palavra "orgia" em sua antiga conotação (boemia) e ironias contemporâneas, que falam de crediário e saldão. "Propriedade Particular" é outra boa composição, apenas atrapalhada por uma programação eletrônica que soa postiça.
"Olhos de Jabuticaba" sobrevive à obsessão pela atualidade graças à pegada pop-rock do melhor Lulu. Sem a força de um "Advinha o Quê?", mas com bons versos, "Surreal" preenche a cota sensual do CD. Já "Dopamina" remete aos anos 80 no som roqueiro e numa letra que traduz o verniz juvenil que o cantor cinqüentão não quer perder: "Você é como proteína/ Que fortifica o meu corpo." Lulu tem todo o direito de querer ser moderno, mas, parafraseando o poema de Drummond, ele já foi mais eterno.


LONGPLAY
Artista:
Lulu Santos
Gravadora: Som Livre
Quanto: R$ 28, em média
Avaliação: regular


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