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Crítica/música
Lulu Santos escorrega na busca da eterna juventude
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Em entrevista a este repórter, uma cantora
disse certa vez que usa
programações eletrônicas em
seus trabalhos porque é o som
do mundo de hoje. Lulu Santos
também parece ter essa necessidade de ser contemporâneo,
embora seu talento dispense
atualizações forçadas. Algumas
delas estão em "Longplay", seu
novo CD.
Não por acaso a música de
trabalho do disco, "Contatos", é
um pop romântico eficiente,
mas que esfria no momento em
que a voz de Lulu é mixada. O
recurso volta a ser usado em
"Ninguém Merece", em que gírias como a do título e "juntar
pra zoar" retratam a busca pela
eterna juventude.
Outras adolescências estão
no CD. "Domingo Maldito",
rock teen, tem como mote "Ô,
ô, odeio domingo". "Seu Aniversário", em ritmo dance, canta "Parabéns, parabéns" para
um amigo com alegria juvenil.
O funk, paixão maior do Lulu
de hoje, está explícito em músicas de outros autores. "Deixa
Isso pra Lá" (Alberto Paz/ Edson Menezes), sucesso de Jair
Rodrigues que costuma ser
apontado como o primeiro rap
brasileiro, ganha, com apoio do
DJ Mãozinha, aquele som do
tamborzão que marca o funk
carioca. A idéia permite ao cantor brincar com os andamentos
da música e as ligações dela
com a tradição da bossa nova e
do samba-jazz. E "Se Não Fosse
o Funk", do MC Marcinho, é
uma ode ao gênero.
Os flertes com o samba têm
bons resultados, como em "Boa
Vida", samba funkeado em que
convivem, com inteligência, a
palavra "orgia" em sua antiga
conotação (boemia) e ironias
contemporâneas, que falam de
crediário e saldão. "Propriedade Particular" é outra boa composição, apenas atrapalhada
por uma programação eletrônica que soa postiça.
"Olhos de Jabuticaba" sobrevive à obsessão pela atualidade
graças à pegada pop-rock do
melhor Lulu. Sem a força de um
"Advinha o Quê?", mas com
bons versos, "Surreal" preenche a cota sensual do CD. Já
"Dopamina" remete aos anos
80 no som roqueiro e numa letra que traduz o verniz juvenil
que o cantor cinqüentão não
quer perder: "Você é como proteína/ Que fortifica o meu corpo." Lulu tem todo o direito de
querer ser moderno, mas, parafraseando o poema de Drummond, ele já foi mais eterno.
LONGPLAY
Artista: Lulu Santos
Gravadora: Som Livre
Quanto: R$ 28, em média
Avaliação: regular
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