São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 2009

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Quatro anos depois, ninguém foi punido

PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase quatro anos depois do assassinato de Jean Charles de Menezes no metrô londrino, ninguém foi punido pela sua morte. E nem vai ser.
Foram quatro investigações ao todo, que demonstraram a sequência de erros da polícia e dos policiais londrinos, mas as circunstâncias do caso levaram sempre à decisão de que ninguém poderia ser condenado.
Logo depois da morte, o incidente foi investigado pelo IPCC (órgão independente da polícia britânica), que sugeriu que os policiais envolvidos não tinham culpa. Depois, houve nova investigação do IPCC, dessa vez exclusivamente para tratar da conduta da polícia depois do episódio, por esconder que um inocente havia sido morto. Em 2006, a Promotoria decidiu que ninguém seria pessoalmente acusado pela morte, mas que a polícia seria processada como entidade, por colocar em risco a vida da população. Em 2007, a polícia foi condenada e teve de pagar uma multa de 175 mil libras. Ao próprio governo.
Uma última investigação, a mais transparente e abrangente de todas, terminou no final do ano passado, com um veredicto "em aberto" -o que significa que a morte não pôde ser classificada de "ilegal". Isso tudo levou a Promotoria da Coroa a confirmar, em fevereiro deste ano, que nenhum dos envolvidos vai ser processado.
Mesmo sem ninguém pessoalmente culpado pela morte, as investigações tiveram o mérito de expor em detalhes as falhas policiais. Alguns dos homens responsáveis pela vigilância nem ao menos tinham fotos do terrorista por quem Jean Charles foi confundido. O policial mais bem posicionado tinha ido ao banheiro quando o brasileiro passou por ele. A unidade armada da polícia, que devia estar no local desde as 6h, só chegou depois das 10h, quando Jean Charles já havia saído. O eletricista jamais reagiu aos policiais, que não se identificaram claramente -um dos passageiros chegou a pensar que eram eles os terroristas.

Clima de medo
Com tantos erros, é preciso lembrar o clima daqueles dias para compreender por que ninguém foi punido. Em 7 de julho de 2005, quatro terroristas se explodiram no transporte público e mataram 52 pessoas. Duas semanas depois, dia 21, mais quatro tentaram e não conseguiram por pouco (as bombas falharam, e todos estão presos). Foi no dia seguinte, 22, na caçada aos autores do ataque frustrado, que o brasileiro foi morto por engano.
Apesar do desfecho, o caso Jean Charles ainda desperta muita atenção -e indignação- em Londres. Todas as investigações e notícias ligadas ao caso sempre aparecem com enorme repercussão na mídia, muito mais que no Brasil.


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