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Quatro anos depois, ninguém foi punido
PEDRO DIAS LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Quase quatro anos depois do
assassinato de Jean Charles de
Menezes no metrô londrino,
ninguém foi punido pela sua
morte. E nem vai ser.
Foram quatro investigações
ao todo, que demonstraram a
sequência de erros da polícia e
dos policiais londrinos, mas as
circunstâncias do caso levaram
sempre à decisão de que ninguém poderia ser condenado.
Logo depois da morte, o incidente foi investigado pelo IPCC
(órgão independente da polícia
britânica), que sugeriu que os
policiais envolvidos não tinham culpa. Depois, houve nova investigação do IPCC, dessa
vez exclusivamente para tratar
da conduta da polícia depois do
episódio, por esconder que um
inocente havia sido morto. Em
2006, a Promotoria decidiu que
ninguém seria pessoalmente
acusado pela morte, mas que a
polícia seria processada como
entidade, por colocar em risco a
vida da população. Em 2007, a
polícia foi condenada e teve de
pagar uma multa de 175 mil libras. Ao próprio governo.
Uma última investigação, a
mais transparente e abrangente de todas, terminou no final
do ano passado, com um veredicto "em aberto" -o que significa que a morte não pôde ser
classificada de "ilegal". Isso tudo levou a Promotoria da Coroa
a confirmar, em fevereiro deste
ano, que nenhum dos envolvidos vai ser processado.
Mesmo sem ninguém pessoalmente culpado pela morte,
as investigações tiveram o mérito de expor em detalhes as falhas policiais. Alguns dos homens responsáveis pela vigilância nem ao menos tinham
fotos do terrorista por quem
Jean Charles foi confundido. O
policial mais bem posicionado
tinha ido ao banheiro quando o
brasileiro passou por ele. A unidade armada da polícia, que devia estar no local desde as 6h, só
chegou depois das 10h, quando
Jean Charles já havia saído. O
eletricista jamais reagiu aos policiais, que não se identificaram
claramente -um dos passageiros chegou a pensar que eram
eles os terroristas.
Clima de medo
Com tantos erros, é preciso
lembrar o clima daqueles dias
para compreender por que ninguém foi punido. Em 7 de julho
de 2005, quatro terroristas se
explodiram no transporte público e mataram 52 pessoas.
Duas semanas depois, dia 21,
mais quatro tentaram e não
conseguiram por pouco (as
bombas falharam, e todos estão
presos). Foi no dia seguinte, 22,
na caçada aos autores do ataque frustrado, que o brasileiro
foi morto por engano.
Apesar do desfecho, o caso
Jean Charles ainda desperta
muita atenção -e indignação-
em Londres. Todas as investigações e notícias ligadas ao caso
sempre aparecem com enorme
repercussão na mídia, muito
mais que no Brasil.
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