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LIVROS - LANÇAMENTOS
Patricia Cornwell vive em seus personagens
RODOLFO LUCENA
Editor de Informática
A vida de Patricia
Cornwell, 43, autora de
livros policiais e campeã
de vendas, daria um romance.
Nasceu em Miami, filha de um advogado e de
uma secretária. Aos 5
anos, os pais se separaram, e ela e os dois irmãos passaram a ser
criados pela mãe, que se
mudou para a Carolina
do Norte.
A família vivia perto
do casal de evangelistas
Ruth e Billy Graham
-Ruth teria sido a primeira pessoa a incentivar Cornwell a escrever.
E foi uma biografia dela
("A Time for Remembering") o primeiro livro
publicado de Patricia
Cornwell, em 1983.
Antes disso, ela estudou literatura e casou
com um ex-professor de
inglês. Trabalhou como
repórter policial e também no Instituto de Medicina Legal de Virginia
(hoje palco de seus romances policiais). Foi
policial, trabalhando
como voluntária.
Em 1988, seu marido
decidiu se tornar pastor,
ela resolveu não o seguir, e os dois se divorciaram em 1989. No ano
seguinte, saiu "Post-mortem", e chegou o
sucesso.
Com ele, também algumas experiências desagradáveis -em 1996,
um ex-agente do FBI, Eugene Bennett, acusado de tentar matar sua
mulher, disse ter ficado temporariamente louco porque ela estaria
tendo um caso com a escritora.
Nos seus livros, Patricia Cornwell não faz uma autobiografia,
mas suas histórias carregam muito
das experiências da autora, como
ela conta nessa entrevista, concedida por telefone de seu escritório
em Richmond, Virginia (EUA).
Folha - Vários de seus livros já foram publicados no Brasil, mas só
agora chega seu romance de estréia, "Post-mortem". O que esse livro e seu personagem, a dra. Kay
Scarpetta, significam para você?
Patricia Cornwell - Para mim, a
dra. Scarpetta representa o ser humano moderno, esclarecido, alguém que se preocupa muito com
a justiça e usa sua inteligência para
combater o mal. Ela é basicamente
uma pessoa não-violenta, apesar
de já ter tido de se defender.
Folha - Em que a sra. se baseou
para escrever "Post-mortem"?
Cornwell -Fiz muita pesquisa antes de começar a escrever. Comecei
minhas pesquisas em um Instituto
Médico Legal em 1984, trabalhei lá.
E vi os casos reais, os tipos de crime
-é isso que me inspira.
Folha - Para criar a dra. Scarpetta, a senhora se baseou em uma
personagem real? Ou ela é uma espécie de alter ego?
Cornwell - Ela não é baseada em
nenhum personagem real. Eu tenho uma amiga que é médica legista na Virginia, mas não é a base...
Também não é baseada em mim.
Claro que há similaridades entre
Scarpetta e eu, no jeito de pensar,
de sentir, de agir em algumas situações. Temos opiniões semelhantes,
ela e eu odiamos injustiças... Mas
ela tem sua própria personalidade.
Folha - Mas muitas características
suas estão presentes nela.
Cornwell - Sim, nós temos gostos
muito parecidos em termos de arte, decoração... Ela coleciona instrumentos médicos antigos, eu
também. Nós gostamos do mesmo
tipo de música, ambas gostamos
de cozinhar... Mas também há
muitas diferenças: ela é uma patologista forense e advogada, eu sou
formada em literatura; ela é católica, eu não. Mas nós duas somos divorciadas, nascemos em Miami...
Eu escrevo sobre o que eu conheço.
De certa forma, temos o mesmo
código genético, mas somos duas
pessoas diferentes.
Folha - A senhora também cria
pratos, como Scarpetta?
Cornwell - Sim. Eu lancei no ano
passado um livro envolvendo comidas de Natal ("Scarpetta's Winter Table"). Todos são pratos que
eu costumo fazer, e algumas receitas são de minha invenção.
Folha - Há também experiências
negativas que a senhora compartilha com Scarpetta, como a de ter
sido alvo de perseguições.
Cornwell - Infelizmente, aqui nos
EUA, a questão de segurança é
muito real, especialmente se você é
muito visível. Eu estou consciente
de que pode haver pessoas interessadas em mim de uma forma não
saudável. E isso também é verdadeiro com a dra. Scarpetta.
Folha - A senhora também coloca
características suas em outros personagens, como a habilidade para
o tênis da policial Virginia West, de
"Hornet's Nest".
Cornwell - Eu me baseio em coisas que são familiares. Além de minhas pesquisas, também uso minhas próprias experiências. Se eu
joguei no time masculino de tênis,
no colegial -o que eu fiz-, eu tenho um entendimento de como a
pessoa se sente nessas circunstâncias. Eu tendo a colocar coisas da
minha realidade, dentro de limites,
porque me sinto melhor escrevendo sobre o que conheço. É o meu
lado de repórter, nunca
deixei de ser jornalista.
Folha - Os jornalistas
são outra presença constante em seus livros. E
não exatamente como
personagens positivos.
Cornwell - Os jornalistas
estão basicamente sendo
vistos pelos olhos de Scarpetta. Eles geralmente
buscam informações que
uma médica legista não
gostaria de ver reveladas.
Eu fui repórter policial e
sempre procurei informações que a dra. Scarpetta não gostaria de revelar. Na minha vida
atual, tenho muito contato com jornalistas, e a
maioria de minhas experiências é positiva. Eu tenho muito respeito pelo
jornalismo. É uma profissão difícil, e acho que não
estaria onde estou hoje se
não tivesse começado como jornalista.
Folha - Seus livros trazem vários personagens
gays, o que é pouco comum em romances policiais, tradicionalmente reduto de machões.
Cornwell - É o meu lado
de repórter. Eu escrevo
sobre o mundo como ele
é. Tendo trabalhado por
seis anos em um necrotério, tendo visto centenas
de necropsias, eu conheço a morte e a violência,
sei como as pessoas vivem de verdade e como
elas morrem. E, se você
escreve sobre o mundo
real, você tem gente de todos os tipos. Você terá
afro-americanos, brancos, brasileiros, pessoas de diferentes religiões e de diferentes opções sexuais. Acho que isso é a força do que eu escrevo: eu escrevo
sobre pessoas que podem ser reais.
Folha - A sra. acaba de lançar seu
primeiro livro infantil. O que a levou a entrar nesse terreno?
Cornwell - Hoje de manhã fiz
uma apresentação de meu livro a
crianças de uma escola primária,
elas pareceram gostar bastante.
Nas minhas visitas a escolas, muitas vezes me perguntavam se eu tinha escrito algo que crianças pudessem ler. E eu decidi escrever.
Folha - Na literatura para adultos, a senhora iniciou uma outra
série, baseada no personagem
Andy Brazil, um jovem jornalista.
Como foram as vendas do primeiro, "Hornet's Nest" (1997), em relação às histórias de Scarpetta?
Cornwell - As histórias de Scarpetta vendem mais do que qualquer outra coisa que eu faça. Ela é
minha personagem principal. Mas
"Hornet's Nest" e, agora, "Southern Cross" (segundo livro com
Andy Brazil, lançado este ano nos
EUA) estão se saindo muitíssimo
bem. E não estão muito atrás em
termos de venda. E, se continuarem assim, poderão empatar com
as histórias de Scarpetta.
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