São Paulo, Sábado, 26 de Junho de 1999
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Heroína humana é trunfo de "Post-mortem"

da Redação

O apreciador de romances policiais tem pelo menos duas boas razões para comprar, ler e guardar "Post-mortem", de Patricia Cornwell, editado no Brasil pela Companhia das Letras.
A primeira é o puro prazer da leitura, que corre fácil pelas aventuras da legista-chefe de Richmond, Kay Scarpetta. A história é bem organizada, e a descoberta do criminoso acontece em função de indícios que vão sendo apresentados ao longo da trama -nada de um gênio investigativo, de repente, juntar alhos com bugalhos para montar uma teoria maluca e... voilà: o culpado é o mordomo!
A outra razão é histórica. Chegando ao Brasil depois de outras obras de Cornwell, "Post-mortem" é, na verdade, o seu romance de estréia. Foi com ele que a escritora, uma ex-jornalista de 42 anos, hoje assídua frequentadora das listas de best sellers, começou a ser reconhecida no mundo da ficção.
E que reconhecimento: lançado em 1990, "Post-mortem" é o único romance a levar, no mesmo ano, os prêmios Edgar, Creasy, Anthony e Macavity, além do francês Prix du Roman d'Aventurei.
A principal razão das conquistas deve ser a bem montada personagem principal, Kay Scarpetta, heroína de dimensões humanas -pode ser a vizinha do lado.
Quarentona, divorciada, tem problemas de relacionamento com a família, adora a sobrinha geniazinha. Profissional altamente competente, enfrenta a dificuldade de ter de vencer em um mundo eminentemente masculino.
Num momento, é dura, ágil, cerebral, desmontando argumentos ou desenredando pistas; noutro, derrama suas emoções numa briga por telefone com a mãe.
Além de Scarpetta, Cornwell apresenta no romance de estréia personagens que vão acompanhar a legista em suas aventuras futuras. O grosseiro sargento Marino, policial de hábitos pouco saudáveis, com quem ela se desentende, mas em quem acaba confiando. O perito do FBI em perfis psicológicos, Benton Wesley, que aqui tem passagem pouco significativa, mas que ganhará importância em outras histórias. E Lucy, a sobrinha de 10 anos, gênio em informática.
A história em si é como qualquer outra de romance policial: há um crime -no caso, uma série de crimes- por desvendar. Um assassino serial mata mulheres com requintes de crueldade.
O principal parceiro de Scarpetta nas investigações, Marino, já tem um culpado no bolso do colete. A legista não concorda. Mas esse é o menor dos problemas com os quais ela tem de lidar na investigação -há um chefe cheio de más intenções e até uma invasão no computador do departamento.
Apesar do estresse, ela tudo enfrenta e ainda tem tempo de fazer comida (a habilidade culinária é outra das marcas da personagem. No ano passado, Cornwell chegou a lançar um livro, "Scarpetta's Winter Table", dedicado à celebração alimentar das festas de fim-de-ano). Nada muito sofisticado, talvez por ser o romance de estréia. É uma pizza, mas que dá vontade de pegar um pedacinho, ah, isso dá.
(RL)

Livro: Post-mortem Autora: Patricia Cornwell
Lançamento: Companhia das Letras Quanto: R$ 27 (344 págs.)


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