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MÚSICA
Mostra no Rio de Janeiro evita priorizar o lado privado do artista
Sobrinho reorganiza e expõe
memórias de Chico Buarque
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Curador de "Chico Buarque - O
Tempo e o Artista", Zeca Buarque
Ferreira admite que exposição é
algo que não combina com seu reservado tio. Por isso, evitou priorizar o "Chico privado" na nova
homenagem aos 60 anos do compositor (completados em 19 de junho), a ser aberta hoje na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.
"Não tenho tanta intimidade
com ele e, mesmo se tivesse, não
faria isso. É uma visão de fora.
Mas é claro que ser da família facilitou o acesso a algumas coisas",
diz Zeca, 30, filho da cantora Cristina Buarque.
Essas "algumas coisas" estão
entre os destaques da exposição.
Um exemplo: uma foto do fim
dos anos 70 feita por Maria do
Carmo, a Piii, do irmão com uniforme de juiz de futebol posando
com Marieta Severo e as três filhas
do casal vestidas com roupas do
início do século.
Outro exemplo é um cartão enviado a Chico em 1979: "O Comando de Caça aos Comunistas
deseja a você, ativista da canalha
comunista que enxovalha nosso
país, um péssimo Natal e que se
realize em 1980 nosso confronto
final".
Os Buarque de Hollanda protagonizam o primeiro bloco da
mostra, batizado por Zeca de "Retrato em Branco e Preto". São fotos da família, Chico com os pais e
seus seis irmãos e lembranças dos
colégios em que ele estudou, como textos que publicou em jornais escolares.
O bloco se encerra com Sérgio
Buarque de Hollanda negando,
num artigo de 1967, que seu filho
fosse tímido e saudando a opção
de Chico pela música: "É preferível um compositor realizado a um
arquiteto frustrado". Mas uma
planta de uma cidade fictícia mostra que Chico não abandonou logo a arquitetura, mas a transformou em lazer.
"Ele sempre gostou de brincar.
Até hoje é assim: seu time de futebol tem camisa, disputa campeonatos, faz estatísticas. Ele leva a sério as brincadeiras", diz Zeca.
Isso fica claro com o Ludopédio,
o jogo baseado no futebol que
Chico inventou quando estava
auto-exilado na Itália (entre 1969
e 1970). Chamada Escrete, a versão comercial do jogo lançada no
Brasil está na mostra. Ao lado, naturalmente, de lembranças ligadas ao futebol, como uma foto de
Pagão, centroavante do Santos de
quem Chico era fã.
O trecho futebolístico está num
grande salão em que também são
enfocados a produção teatral e literária de Chico, seus parceiros
musicais e suas intérpretes - representadas por Nara Leão, Maria
Bethânia e Gal Costa.
Numa sala anterior, que Zeca
chama de "Construção", estão
quatro compositores que marcaram o Chico pré-profissional
(Noel Rosa, Ismael Silva, Ataulfo
Alves e Dorival Caymmi) e o trio
que fez a cabeça dele inventando a
bossa nova: Tom Jobim, Vinicius
de Moraes e João Gilberto.
"Achei importante ressaltar
quatro antigos compositores que
representam o samba de uma
época. Ajuda a mostrar que Chico
é produto de uma rica história,
que é a da música brasileira", destaca Zeca, apoiado por uma frase
de Chico, de 1994, que está na
mesma sala: "Quando eu morrer,
quero que digam: "Morreu um
sambista que escrevia livros'".
Na exposição, ainda serão exibidos três vídeos. Num deles, cena
não utilizada no documentário
"Raízes do Brasil", de Nelson Pereira dos Santos, Chico apenas caminha no calçadão da praia do
Leblon. Os outros dois são trechos de especiais e entrevistas de e
sobre o compositor, cedidas por
emissoras de TV e pela Cinemateca Brasileira.
Duas raridades de onde foram
retirados pedaços são o curta-metragem "Chico Buarque 1968", de
Flávio Moreira da Costa, e uma
gravação feita nos jardins da TV
Cultura, em São Paulo, de Chico
com Toquinho, logo depois que
eles voltaram da Itália, em 1970.
Paralelamente à exposição, haverá na Biblioteca Nacional exibição de filmes feitos a partir da
obra de Chico e shows montados
especialmente para a ocasião.
CHICO BUARQUE - O TEMPO E O
ARTISTA - Quando: seg. a sex., das 10h
às 17h; sáb., das 10h às 15h; até outubro.
Onde: Biblioteca Nacional (r. México, s/nš, Rio). Quanto: R$ 4.
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