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LITERATURA
Documentos, fotos e manuscritos de Mário de Andrade são expostos em Araraquara; evento terá debates e shows
Mostra traz a gênese de "Macunaíma"
LUCIANA ARAUJO
DA REDAÇÃO
Macunaíma nasceu no fundo do
mato virgem. Assim Mário de Andrade tratou de indeterminar o
local do nascimento de seu herói
sem caráter. Por sua vez, o lugar
em que a obra foi escrita pode ser
identificado no mapa. Araraquara, no interior paulista, é a cidade
natal de "Macunaíma" (1928) e
sede da exposição "Na Terra de
Macunaíma", que abre no próximo dia 31 e vai até 17/10, numa
unidade do Sesc.
"Macunaíma" foi parido em
Araraquara", brinca o jornalista
Audálio Dantas, idealizador do
projeto ao lado do colega de profissão Fernando Granato. O parto,
que durou seis dias de "cigarros e
cigarras", nas palavras do autor,
no verão de 1926, se deu na chácara Sapucaia, atual Safioti. Na época, propriedade era de Pio Lourenço Corrêa (1875-1957), primo
ao qual Mário chamava de tio. O
rebento, um dos marcos da literatura brasileira.
A mostra reúne documentos da
história desse nascimento e traz à
tona a figura de Pio, interlocutor
importante no processo.
O período de criação foi precedido de uma pesquisa cuidadosa
do escritor, que "levou na mala,
rumo a Sapucaia, o "Macunaíma"
desmontado", observa Granato.
Os exemplares dos livros que serviram de fonte para "Macunaíma", caso de "Nomes de Aves em
Língua Tupi" (1913), de Rodolpho
Garcia, e "Vom Roraima zun Orinoco", do etnógrafo e naturalista
alemão Theodor Koch-Grünber,
livro do qual é colhida a lenda de
um herói indígena chamado Macunaíma, estarão expostos, assim
como fichas de Mário com dados
levantados em viagens e leituras.
O público poderá conferir manuscritos da primeira versão do
prefácio e do índice de "Macunaíma", escritos em Araraquara, entre 16 e 23 de dezembro de 1926,
da segunda versão completa, escrita a partir desta data a 13 de janeiro de 1927.
Um exemplar de trabalho, no
qual Mário faz modificações no
texto da primeira edição, publicado em 1928, também está entre as
raridades, pertencentes ao acervo
do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de São
Paulo (USP), da mostra. Imagens
de Mário fotógrafo, focalizando
seus parentes, a chácara e a fazenda São Francisco, também de Pio,
também são destaques.
Tio Pio
Bibliófilo e grande conhecedor
da língua portuguesa, Pio Lourenço foi para Mário de Andrade
muito mais do que um parente
querido. "Pio tem grande influência nas elaborações de Mário. Havia intensa troca de correspondências entre os dois. Nelas, eles
discutiam aspectos da língua.
Conservador, Pio não aceitava a
proposta de abrasileiramento
presente no trabalho de Mário",
explica Granato.
A mostra traz ainda livros com
dedicatórias de Mário de Andrade para tio Pio e sua mulher, Zulmira. Esses exemplares de Pio foram doados para a Biblioteca Municipal Mário de Andrade de Araraquara após a morte. "Em uma
primeira edição de "Amar Verbo
Intransitivo" [1927], Mário e Pio
travam um verdadeiro diálogo
que pode ser conferido nas margens do livro", conta Granato.
Espaço com caráter
O cenário criado por Jéferson
Duarte para a exposição recria
imagens da obra. "A subversão da
geografia presente no livro é traduzida no ambiente", destaca Audálio Dantas. Exemplo disso é
uma reprodução do rio Tietê desaguando no Amazonas. Redes
-"Ai, que preguiça!"- e adornos indígenas também compõem
a cenografia. A criançada poderá
brincar com uma boiúna Capei
(cobra grande) articulada.
Durante o evento serão realizados shows com Cida Moreira,
Beatriz Azevedo, Marlui Miranda
e artistas de cultura popular, como João Ba e Dércio Marques.
Haverá também palestras, mesas-redondas, mostra de cinema e
encenações. Renato e Fernando
Rocha, primos do escritor, participam da mesa "Quando Araraquara e Mário se Encontram", no
dia 9/9, às 19h30. Entre os palestrantes, está Telê Ancona Lopez,
consultora da mostra e coordenadora do Arquivo Mário de Andrade (IEB). Ela falará sobre a importância histórica e literária de "Macunaíma", no dia 5/10 às 19h30.
O cineasta Eduardo Escorel e o
encenador Antunes Filho falam
sobre as soluções adotadas para
as adaptações de "Macunaíma"
para teatro (1978) e cinema
(1969), no dia 7/10, às 20h30.
A mostra, que começa no Sesc
de Araraquara, segue depois para
outras unidades, com datas ainda
não definidas.
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